segunda-feira, 30 de abril de 2012

O movimento pela ética marca mais pontos - Alexandre Cardia Machado

Este Artigo foi publicado originalmente no Jornal ABERTURA em Dezembro de 2011. A revista Veja publicou na sua edição 23 de Novembro de 2011, um artigo de Renata Betti , sobre um professor de Harvard, o filósofo Michael Sandel, que conseguiu atrair milhões de seguidores pela internet, tornando-se uma celebridade.
Sandel usa o método do filósofo clássico grego Sócrates, jamais respondendo às questões diretamente, mas devolvendo a questão com outra, mais profunda, fazendo assim com que seus alunos pensem cada vez mais em outras possibilidades. Este método chamado maiêutica é interessantíssimo, pois quem chega às conclusões são aqueles que têm a dúvida, ajudados claro pelo sábio professor.
A novidade é que Harvard resolveu inovar e as classes são transmitidas pela internet, infelizmente não em tempo real, mas são transmitidas, inclusive, por redes de televisão como a Japonesa NHK e a rede estatal chinesa. O professor só trata de assuntos ligado à ética, ele lança, por exemplo,o seguinte problema: “o que você faria se por uma decisão sua, você só pudesse salvar um entre dois grupos de pessoas, num deles apenas com uma pessoa e o outro com cinco?” – a partir daí vocês podem imaginar todo o desenrolar do assunto. Suas aulas reúnem mais de 1000 pessoas na platéia entusiasmada.
Sandel lançou um livro em 2009 – O que É fazer a coisa Certa, já traduzido para o Português. Não o encontrei na internet, pois talvez tenha um outro título aqui por nossas terras.
Mas o que há de tão extraordinário nisso tudo? Talvez o brilhantismo deste homem formado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Acredito, porém, que o sucesso se dê porque pensar o que é certo faz bem, atrai energias positivas. O talento da condução da discussão tem todo o mérito, entretanto, mais do que isto há uma carência fora dos movimentos organizados, de ideais morais, que promovam a reflexão, discussão sobre ética e principalmente os bons exemplos.
A internet e as TVs a cabo nos fornecem opções às programações das TVs abertas, focadas nas altas taxas de retorno de propagandas de cervejas, automóveis de luxo e coisas desta natureza. Este, quem sabe, seja um caminho a seguir: lançar nossas boas ideias na “Web”, compartilhar saber e conhecimento parece ser a melhor opção. Temos que considerar que fazer alguém sair de casa para assistir uma palestra exige um esforço enorme de marketing ou mesmo de convencimento. Nada substitui uma boa conversa frente a frente, mas cada vez mais alternativas “on line” concorrem conosco. Fica a boa notícia de que a discussão sobre a ética vem ganhando espaço.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ciência da alma - por Jaci Régis

Este texto lido por Jaci Régis na forma de um discurso no II Encontro Nacional Da CepaBrasil em Bento Gonçalves, RS em 4 de setembro de 2010. Sendo este o último discurso feito por Jaci.

O Autor deste texto desncarnou em 13 de dezembro do mesmo ano, após 45 dias internado por uma complicação renal.

A identidade do Espiritismo no século XXI

Allan Kardec elaborou o Espiritismo dentro da cultura cristã. Formatou a doutrina dentro de 3 parâmetros, compatíveis com o modelo cristão. 1. O mundo é de provas e expiações, 2, Os habitantes são espíritos imperfeitos que expiam suas faltas no processo de vidas sucessivas, 3. Deus se manifestou em tres grandes momentos, para a salvação moral humanidade, nos dez mandamentos de Moises, nas palavras de Jesus Cisto e, finalmente, pela manifestação dos Espíritos. São as três revelações da Lei de Deus Dentro desses parâmetros, aceitou que Jesus Cristo trouxe a verdade possível e que o Espiritismo completaria a verdade atual.

A trajetória de Kardec é sinuosa. Queria que o Espiritismo fosse uma ciência. Mas criou uma religião, sem querer que fosse religião. Na verdade agiu como equilibrista da razão e da fé. Todavia aceitou que o motivo central do Espiritismo era restaurar o cristianismo e implantar no mundo o Reino de Deus, utopia evangélica que está na base das aspirações místicas e irreais da humanidade ocidental, cristã. Isso levou à aceitação do Espiritismo como o Consolador Prometido, representava também tacitamente a certeza de que Jesus Cristo era a verdade e toda a verdade teria vertido pela sua boca. Esse Consolador simbolizaria a vinda do Senhor ao mundo, completaria todas as verdades e ficaria conosco para sempre. Era a expressão da ilusão de que, brevemente, por obra divina, haveria modificações espetaculares na face da Terra.
Surgiria um reino de paz, de alegria, de fraternidade. Era a implantação do Reino de Deus no mundo. Que mundo? Sem qualquer demérito para as lições inigualáveis do Nazareno, estamos num tempo em que as exclusividades e as verdades absolutas não têm lugar. No Evangelho segundo o Espiritismo, Kardec afirmou que o Espiritismo não vinha destruir a lei cristã, como o Cristo não teria destruído a lei mosaica. Essa seqüência teológica provinha do sentimento de uma intervenção direta de Deus ou Jesus no encaminhamento das soluções e no desenvolvimento moral das civilizações.

O céu comandando a Terra. Jesus Cristo, o rei governando o mundo. Mas o tempo da era cristã, no seu aspecto institucional, político e religioso estava no fim. Desenvolver a idéia espírita dentro do caldo de cultura cristã foi um paradoxo. Pois o Espiritismo na sua estrutura básica é a negação do cristianismo. Consequentemente ficou prisioneiro dessa imagem profética da vinda do reino. Kardec então elaborou seu pensamento tentando encontrar justificativas e argumentos para as afirmações teológicas dos profetas e messias.

Seria diminuir seu gênio reduzir sua obra a essa análise simples. Pois sua obra é capaz de superar os entraves contextuais e projetar-se para o futuro, porque teve s sabedoria de abrir o caminho para o progresso, de tal forma que seria capaz de reciclar-se, aceitando as novas idéias e mudar o que fosse necessário para não imobilizar-se, que seria, disse, o suicídio da doutrina.
É baseado nessa extraordinária abertura para a evolução e progresso das idéias que creio ser válido propor uma definição dinâmica para o Espiritismo nos dias atuais. A definição do Espiritismo: O século vinte um desponta como uma incógnita sob a liderança inconteste da ciência dura e coadjuvada pelas ciências humanas.
Como definir, compreender e projetar o Espiritismo neste século vinte e um? Neste século, o Espiritismo terá pelo menos duas expressões.

1.O Espiritismo cristão a) Religião Espírita Atualmente, de modo geral e majoritariamente o Espiritismo é uma religião cristã, cujos programas e o entendimento remetem-se aos textos evangélicos e aos enunciados do século dezenove, repetindo as palavras de Allan Kardec, sem atentar para o contexto em que foram ditas. Os espíritas cristãos são basicamente católicos mediúnicos. b) Espiritismo laico cristão. Substituiu-se o tríplice aspecto de Ciência Filosofia e Religião, por Ciência, Filosofia e Moral, isto é a moral cristã. Ambos os movimentos não fazem ciência e não filosofam.

2 - Espiritismo pós-cristão A única saída para o Espiritismo alcance sua originalidade e ofereça uma contribuição genuína para a sociedade é escoima-lo do enfoque teológico da Igreja. Isto é, ser um Espiritismo pós-cristão. Esse Espiritismo pós-cristão não apenas abandonará a retórica e a teologia católica, como se organizará sugestivamente como uma ciência humana.

A Ciência da alma Como conseqüência, o Espiritismo pós-cristão, se estruturará como a Ciência da Alma , a maneira de uma ciência humana, especifica e sui generis,... Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona a ilusão de ser uma revelação divina, para ombrear-se com o esforço das ciências humanas que surgiram para entender o ser humano, suas limitações, problemas e futuro, fora dos limites das ciências duras, físicas. Isto é, uma ciência humana cujo objeto é explicar o ser humano, como uma alma, sua estrutura, sua atuação e sua evolução. Com isso pode desenvolver um espírito crítico e explorar a realidade essencial do ser humano dentro da lei natural, da naturalidade dos processos evolutivos, através da reencarnação, como uma alma atemporal, imortal e em crescimento, seja no campo intimo seja no campo social.

Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona sua pretensão autárquica de se abranger todos os problemas da humanidade, mas apóia-se nos esforços das demais ciências humana que compõem o leque das realidades e comportamentos das pessoas. O objetivo maior será dar na cultura o sentido sério, basicamente defensável aos postulados puros do Espiritismo. Terá que dispor de recursos e meios para provar, insofismavelmente, a imortalidade. O que implicará na renovação do exercício e objetivos da mediunidade, superando a fase meramente moralista e religiosa em que se situa atualmente. Só a prova da imortalidade será a base de renovação social, humana e do pensamento humano e sustentará as teses da reencarnação e da evolução do Espírito. Investindo na estruturação de uma base compatível com a evolução do conhecimento humano, introduzindo a noção de espiritualidade como uma busca natural, imprescindível para o equilíbrio pessoal e social, a Ciência da Alma,ajudará o desenvolvimento ético na sociedade em mudança que vivemos.

Ou seja, a Ciência da Alma tentará por todos os modos oferecer um tipo de entendimento do ser humano que sempre foi o objeto do Espiritismo, de forma atualizada, dentro de um aspecto que integrará o rigor cientifico e a expressão da sensibilidade e do sentimento na análise da realidade da alma humana. Muitos podem questionar se um Espiritismo pós-cristão, a estruturação da Ciência da Alma, pode ser kardecista, dada a crítica e a reelaboração que se faz necessária do trabalho de Allan Kardec, conforme temos provado. É kardecista na medida em que se apoiará nos alicerces básicos, puros, do pensamento doutrinário, desprezando os acessórios das interpretações e extensões contextualizadas no inicio e do tempo decorrente. O caráter da Ciência da Alma, como qualquer ciência humana será essencialmente progressivo, jamais se imobilizando no presente, apoiada somente no que for provado. Assimilará as idéias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam físicas ou metafísicas. Pois não quer ser jamais ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias de credibilidade.

Outros artigos de Jaci Régis:

Livros de Jaci Régis a venda pela Internet:


http://icksantos.blogspot.com/2011/12/livros-de-jaci-regis-venda-pela.html

Um ano sem a presença física de Jaci Régis

http://icksantos.blogspot.com/2011/12/um-ano-sem-presenca-fisica-de-jaci.html

Do Jesus Pré-cristão ao Jesus Cristão - Jaci Régis

http://icksantos.blogspot.com/2011/10/do-jesus-pre-cristao-ao-jesus-cristao.html



Jaci Régis biografia e vida – por Ademar Arthur Chioro dos Reis

http://icksantos.blogspot.com/2011/10/jaci-regis-bibliografia.html

Ligação espírito cérebro

http://icksantos.blogspot.com/2009/08/ligacao-espirito-cerebro-jaci-regis.html

Considerações sobre a Reencarnação

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O que nos pertence? Jaci Régis

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sábado, 21 de abril de 2012

Jornal ABERTURA Comemora 25 anos

Na noite de ontem, nas dependências do Edifício Jaci Régis, sede do ICKS juntamente com a realização do V Forum do Livre Pensar Espírita da Baixada Santista, onde Ademar Quioro dos Reis e Alexandre Cardia Machado discorreram sobre a Reencarnação sob a ótica livre pensadora, apresentados por Roberto Rufo. Cerca de 70 pessoas prestigiaram o evento que terminou com um parabéns ao Jornal ABERTURA e confraternização de todos. Vida longa - ABERTURA.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Terceiro Chimpanzé - Marcelo Régis

Este Artigo foi originalmente publicado no Jornal ABERTURA em Maio de 2011.
Comente - queremos saber o que você pensa a respeito.


“O Terceiro Chimpanzé” é o título de um dos livros do cientista americano Jared Diamond e indica que o Homem, como espécie, é muito similar a outros dois grandes primatas parentes nossos – bonono e chimpanzé. Na verdade, após o mapeamento genético das três espécies, foi constatado que o código genético humano é 98,4% similar ao dos chimpanzés, ou seja, do ponto de vista genético somos apenas 1,6% distintos de nossos parentes animais mais próximos. Ainda é sabido que do ponto de vista genético, os chimpanzés são mais próximos de nós humanos (1,6% de diferença) do que dos gorilas, com quem possuem 2,3% de diferença genética. Como explicar então a nítida diferença evolutiva entre nós e os animais? Afinal, apenas o Homem desenvolveu linguagem falada e escrita, artes e tecnologia suficientes para povoar todos os continentes, enviar sondas ao espaço e explorar o fundo dos oceanos.
Interessante notar que essa evolução e diferenciação são recentes em termos biológicos. Afinal, o Homo Sapiens sapiens, a espécie a qual pertencemos, evoluiu há apenas 200 mil anos. Dados genéticos indicam que todas as pessoas existentes na Terra descendem diretamente de um pequeno grupo, que viveu entre 100 e 200 mil anos, na África. Anatomicamente éramos o que somos hoje, por certo: pegue um homem de 130 mil anos atrás, faça sua barba, o vista e ninguém, em lugar nenhum, vai considerá-lo mais ou menos diferente. Nos primeiros 80 mil anos do Homo sapiens sapiens na Terra, ele continuava o mesmo bicho nu com suas pedras lascadas. Só que aí, 50 mil anos atrás, aconteceu algo repentinamente. Passamos a costurar e fazer roupas, fizemos arcos para lançar flechas, pintamos nas cavernas. Houve um salto. Buscamos nos fósseis anteriores e posteriores e não há diferença no bicho homem. O crânio é igualzinho, cabe lá um cérebro do mesmo tamanho; as mãos têm os mesmos dedos, pés e pernas, a mesma firmeza. São os ossos do mesmo animal. Mas esse animal tinha adquirido uma miríade de talentos. Esse grande salto para frente, como chamam alguns dos estudiosos, permitiu o aparecimento da cultura. Por quê? Não sabemos. Uma das possibilidades é a de que nossa linguagem tenha se sofisticado. Talvez alguma mudança em nosso aparelho vocal tenha permitido uma quantidade maior de sons, que foi dar na estruturação de línguas complexas. Quando você pode explicar uma coisa direito, começa a comunicar; quando a comunicação é precisa, há troca de idéias; dois ou mais discutindo um problema encontram melhores soluções. Nasce a tecnologia.
Outro grande acontecimento em nossa evolução foi o desenvolvimento da agricultura. A transição do nomadismo da vida de caçadores-coletores para um estilo de vida agrícola sedentário aconteceu há uns 10 ou 15 mil anos e, pode representar a primeira vez que as pessoas tiveram um conceito de lar. Também propiciou a liberação de corpos e mentes para outras tarefas que não exclusivamente procurar o alimento do dia, impulsionando a cultura e a sociedade moderna que conhecemos e isso foi há muito pouco tempo, evolutivamente falando.



Se somos tão similares aos nossos parentes chimpanzés, será que esse 1,6% é tão especial assim para explicar todas essas diferenças? Parece que não, pois as pesquisas atuais ainda não encontraram uma relação direta, de causa e efeito, entre esse 1,6% e nossas habilidades específicas. É aí que se encaixa o espírito. Afinal, se considerarmos que além do corpo físico possuímos uma alma, um espírito capaz de armazenar informações e aprendizados de inúmeras vidas passadas, podemos concluir que temos à nossa disposição infinitamente mais recursos que nossos parentes chimpanzés. Interessante pensar que, muito provavelmente, os chimpanzés também possuem algum componente espiritual, pois parece que na natureza não existem transições bruscas. Portanto, provavelmente, os 1,6% têm alguma relação direta com o fato de possibilitar que Espíritos habitem nossos corpos, enquanto princípios espirituais com capacidade de evolução mais restrita estariam ligados aos chimpanzés. Afinal, os chimpanzés habitam a Terra há mais de 6 milhões de anos, não tendo evoluído nenhuma característica cultural, artística ou tecnológica distintas em todo esse tempo evolutivo. Novamente, apenas a integração das teorias materialista e espiritualista pode ajudar a melhor entender o Homem em sua totalidade. Esforços isolados se mostram incompletos e insuficientes e temos que reconhecer que, apesar de todos os esforços feitos até hoje, ainda estamos longe de entender toda a beleza e complexidade da evolução material-espiritual em sua plenitude. O Espiritismo tem muito a contribuir nesse assunto, pois pode adicionar o componente espiritual à equação humana.

Para saber mais: O TERCEIRO CHIMPANZÉ: A EVOLUÇAO E O FUTURO DO SER HUMANO; Jared Diamond; Editora: Record.

Outros artigos relacionados publicados no blog :




EVOLUÇÃO DO PRICÍPIO EPIRITUAL:

Reencarnação e o desenvolvimento do homem

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Abrindo a mente - A pluralidade dos mundos habitados e o critério de falseabilidade por Alexandre Cardia Machado

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Abrindo a mente:60 bilhões de humanos – nossa história. Por Alexandre Cardia Machado

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O Ser Humano e a Evolução - Uma análise pré-histórica

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A Ecologia à Luz do Espiritismo por Junior da Costa e Oliveira


Este artigo foi originalmente publicado no Jornal Abertura de agosto de 2011.
Releia o artigo e faça seus comentários:

ECOLOGIA À LUZ DO ESPIRITISMO

Junior Costa Oliveira

A ecologia é, atualmente, um dos temas mais discutidos pela sociedade em geral. Iniciaremos nosso estudo analisando o termo “Ecologia” em oikos (casa, lugar onde se vive) e logos (estudo de); e a sua definição como a ciência das inter-relações entre os organismos vivos e o meio ambiente.

Os estudiosos da matéria comentam que, desde cedo, o homem tem se interessado pela Ecologia e, já nos primeiros tempos, para sobreviver, precisava ter conhecimento definido do seu meio, procurando compreender as forças da Natureza em seus diferentes reinos (mineral, animal e vegetal). No início, o homem primitivo observava o céu, os ventos, a chuva, as variações das temperaturas, percebendo que estes eventos influenciavam o meio em que habitava, porém com o passar dos milênios, tem usurpado o seu meio ambiente, provocando uma série de eventos danosos.

O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, em seu livro de 1992 “O equilíbrio da Terra”, mencionou que não surpreende que o homem tenha se tornado tão desconcertado com o mundo natural. O homem tinha uma ideia de um mundo sem futuro e, hoje, começa a entender através de experiências que, obrigatoriamente, a procura é pelo equilíbrio saudável dos elementos da natureza, com o equilíbrio saudável das forças dos sistemas políticos.

O Espiritismo tem dado a sua contribuição como ciência que se preocupa com o meio ambiente e suas repercussões, já que a natureza é um dos pontos que os espíritos (encarnados) utilizam para desenvolver suas habilidades, buscando atingir o progresso como ser imortal.

O Livro dos Espíritos, no capítulo V, Lei de Conservação, menciona que “a Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário o homem contentar-se. Se o que nela produz não lhe basta a todas as suas necessidades, é que ele emprega no supérfluo, o que poderia ser empregado no necessário”. Entenda-se que o materialismo exacerbado é a causa de todos os eventos da natureza, pois o modelo econômico imposto à sociedade atual é fruto de produção de bens de consumo mais caros e sofisticados, produzindo além do necessário. Surge então uma nova questão nos dias de hoje: “Você já parou para pensar como é a nossa relação com o meio ambiente atual? Quais são as nossas responsabilidades perante a emissão de carbono na atmosfera, o aquecimento global, a produção cada vez maior de lixo e o possível esgotamento dos recursos naturais da Terra?” Emmanuel coloca no livro “O Consolador” que devemos entender a Natureza como elemento importante para o progresso espiritual do homem, pois ela é a própria essência de Deus, e o meio ambiente influencia de maneira decisiva a existência do espírito, pois afetará a sua personalidade, o seu progresso e a sua transformação como ser, buscando novas condições materiais e morais.

André Trigueiro, jornalista da Rede Globo, com pós-graduação em Gestão do Meio Ambiente, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, autor do livro “Mundo Sustentável” acredita que o Movimento Espírita tem que absorver e contextualizar, à luz da Doutrina, os sucessivos relatórios científicos que denunciam a destruição dos recursos naturais não renováveis. A preocupação com os atuais meios de produção e consumo precipitarou a humanidade na direção de impasse civilizatório, onde o lucro justifica os meios, além de atentarmos pelo uso insustentável dos mananciais de água e os seus efeitos (a desertificação do solo), o aquecimento global, a monumental produção de lixo e, finalmente, os efeitos colaterais de um modelo de desenvolvimento ecologicamente predatório, perverso e injusto.

A pergunta 799 do Livro dos Espíritos questiona “de que maneira o Espiritismo pode contribuir para o Progresso?” A resposta afirma que ‘destruindo o materialismo’, que é um ponto das chagas da sociedade, levando-nos a discutir e entender o que é necessário e o que é supérfluo. E, este ponto, passa pela questão moral, pois o espírita deve entender que quando o planeta adoece, o projeto evolutivo fica comprometido, e deve acreditar que não podemos ficar inertes. Alguns, em atitudes comodistas diante deste cenário, pensam que tudo se resolverá quando se completar o ciclo da Terra. Puro engano. Precisamos ficar em alerta e agir imediatamente, pois resta-nos esperanças de mudar este quadro, hoje, nada favorável.

A correção do rumo do desenvolvimento sustentável é possível, pois já temos vários diagnósticos que nos ajudariam a resolver o problema da água, mas nada está sendo feito e, segundo a ONU, sua escassez já atinge dois bilhões de pessoas. Existem tecnologia e vários pequenos projetos no mundo, de dessalinização da água dos mares, que poderiam ser multiplicados. André Trigueiro diz que a ciência ecológica oferece um amplo espectro de observação, interligando sistemas que variam do micro ao macrocosmo. O Espiritismo desdobra este olhar na direção do plano invisível, alargando enormemente o campo de investigação, pois a Ciência Espírita e a Ecologia são afins há pelos menos 150 anos, já que ambas têm a mesma visão sistêmica para a defesa da biodiversidade, o uso sustentável dos recursos naturais, o consumo consciente e primam pelos projetos coletivos sem detrimento dos individuais.

E, finalizando, o Movimento Espírita deveria “acordar” para as oportunidades que o mundo oferece e contribuir com o vasto conhecimento sobre a vida material e espiritual que a teoria dispõe, a fim de que a evolução do espírito pudesse acontecer em um mundo auto-sustentável.

Portanto, espírita, sua participação é fundamental, mas para isso tem que haver ação efetiva, opinião pois, afinal, somos todos responsáveis pelo que fazemos ou deixamos de fazer. Mãos à obra!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Espiritismo completa 155 anos


Hoje, 18 de abril comemoramos o 155 anos do lançamento do Livro dos Espíritos, por Allan Kardec em Paris em 1857.

Costumeiramente comemoramos com reuniões, e atividades do gênero, segue convite aos Santistas para que participem, de hoje até sexta-feira do VII Forum do Livre Pensar da Baixada Santista.

domingo, 15 de abril de 2012

Declaração de Princípios do ICKS

Apresentamos abaixo os princípios que o ICKS aplicará em suas atividades de 2012. Estes princípios foram construídos a partir de discussão interna dos sócios do Instituto em quatro sessões, partindo de dois documentos: A Doutrina Kardecista, de Jaci Régis, e a carta de posicionamento da CEPA Brasil.

Princípios ICKS:

01 - O ICKS é, por definição, Kardecista. Portanto, ser Kardecista é entender Kardec através das obras assinadas por ele e interpretar a sua aplicação nos dias de hoje, sem se fechar no passado.

02 - O ICKS se declara uma instituição laica.

03 - O ICKS considera que a Doutrina Espírita foi concebida como ciência, filosofia com consequências morais, resultante de estudos e análises dos planos material e espiritual. O ICKS deve sempre utilizar uma linguagem tipicamente espírita evitando assim viciações de cunho cristão.

04 - O ICKS deverá manter-se atualizado com a cultura atual e que possua relevância com a Doutrina Espírita.

05 - O ICKS será um pólo irradiador de ideias, desenvolvendo cursos, pesquisas, fórum de debates e ideias, a fim de propiciar aos interessados em estudos espíritas o maior rol possível de temas, procurando aplicar metodologia de cunho científico e de princípios consagrados pela ciência acadêmica, para obtenção de novos dados, mantendo atualizados os conceitos espíritas e a realidade atual.

06 - O ICKS entende que os relacionamentos humanos não estão baseados em culpa e castigo.

07 - O ICKS entende não existir um ser definido como salvador.

08 - O ICKS entende que a ‘mediunidade’ é uma faculdade natural e foca a sua atenção para o público dos encarnados.

sábado, 7 de abril de 2012

Fato Espírita - Fenômeno Zíbia

A Revista Veja de 29 de Fevereiro apresenta uma matéria especial chamada “um país de leitores – e autores”, o preço dos livros caíram relativamente ao aumento da renda e mais e mais brasileiros passam a ser leitores vorazes, o grande campeão de vendas em 2011 foi o Padre Marcelo como seu único livro “Ágape” , na esteira do aumento de 8% na venda de livros e na queda de 5% nos preços médios, em segundo lugar temos Zíbia Gasparetto, que como sabemos muito bem, apesar de escrever obras psicografadas, não abre mão dos direitos autorais. Zíbia teria vendido ao longo de sua carreira psicográfica cerca de 16 milhões de livros, com 40 títulos, atingindo 8 vezes mais leitores do que o número de declarados Espíritas no último Censo no Brasil.

O fenômeno Zíbia, certamente o segundo maior autor de obras psicografadas no Brasil, perdendo apenas de Chico Xavier e deixando para tráz todos os outros autores juntos. Por que a dupla Zíbia e o espírito Lucius fazem tanto sucesso? Quem sabe a narrativa em linguagem comum e de fácil acesso, trazendo situações comuns, que atingem a todos, com o aspecto espírita e reencarnatório sendo abordado de leve, sejam a chave do sucesso, a mensagem moral é passada quase sem ser percebida.

O brasileiro na média lê 2 livros por ano, contra uma média mundial de 13, há muito ainda a crescer, neste país 48% da população declarou não ler 1 livros sequer por ano, as razões, fora o fato de uma parte ser analfabeta foi, segundo o levantamento chamado Retrato da Leitura no Brasil, de 2007 elaborado pelo Intituto Prólivro “ lêem muito devagar: 17%, não compreendem o que lêem: 7%, não têm paciência para ler: 11%, não têm concentração: 7%” .

Ainda no mesmo estudo obtem-se o perfil dos leitores: Formação superior – 79%, Renda familiar acima de 10 salários mínimos – 78%; Chefes de família – 76% e Espíritas também 76%.

Existem muitas críticas a Zíbia no meio espírita, mas é inegável o sucesso dela e a penetração de idéias espiritualistas na sociedade brasileira à partir de seus livros.

O que você acha? Deixe a sua opinião.

Artigo publicado originalmente no Jornal Abertura de Março de 2012

Outros artigos relacionados publicados no blog :

Curso Teórico de Mediunidade de Cura termina com o sucesso de sempre.


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Curso sobre Mediunidade de Cura - início em 12 de Junho 2012

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quarta-feira, 28 de março de 2012

Entrevista com Eugenio Lara - “O inimigo não está mais lá fora, está aqui dentro”


Este artigo está sendo publicado no jornal Abertura em duas partes, nas edições de Março e Abril, você blogueiro do ICKS tem a oportunidade de acessar todo o artigo com antecipação.

A presente entrevista foi concedida pelo colaborador do Abertura, Eugenio Lara, em fevereiro deste ano à jornalista Flávia Zanforlim para a revista mensal Ser Espírita, publicada pela Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), de Curitiba-PR. Com o objetivo de servir como fonte e base para uma ampla reportagem sobre a história do Espiritismo no Brasil, são abordados vários temas como o contexto propício em que ele surgiu em terras brasileiras, os fatos importantes ao longo de sua história e as dificuldades encontradas pelos espíritas para conquistarem o respeito, a aceitação social, hoje um fato evidente com o lançamento de filmes, peças teatrais, reportagens e especiais na televisão sobre a filosofia espírita. Leia a seguir, a íntegra da entrevista. Por entendermos que a entrevista provavelmente não será publicada na integra pela SBEE, estamos propiciando ao leitor do Abertura e ao seguidor do blog do ICKS tê-la em primeira mão.

1. Tem alguma opinião do porquê de o Espiritismo ter dado tão certo no Brasil?

O Espiritismo tinha tudo para dar certo na Argentina, o país mais europeu da América Latina. Até hoje observamos, no comportamento dos argentinos, uma influência muito grande da cultura europeia. No entanto, curiosamente, ele inicialmente se desenvolveu com bastante intensidade em Cuba, antes da Revolução Cubana; se disseminou na Argentina e na Venezuela, onde o caráter filosófico e experimental atraiu muitos adeptos e, posteriormente, no Brasil, sob uma feição cristã, religiosa. O contexto por aqui era bastante propício: a partir de 1860 já existia a benzedura, o curandeirismo indígena, as religiões africanas e o catolicismo, fatores bem marcantes no nosso dia-a-dia. O Brasil, apesar de não ter um único santo canonizado, é um dos maiores países católicos do mundo. O caldo cultural místico, religioso, bem cristão mesmo, mas com o espírito aberto a outras manifestações espiritualistas, serviu de substrato para o desenvolvimento do Espiritismo em nosso País. De início, a Doutrina Espírita, como na França, se disseminou na elite, na Corte, em círculos de estudos formados por pessoas cultas, que dominavam o francês, por filhos da elite que tinham condições econômicas de estudar na Europa. Trouxeram de lá os ideais do positivismo, do iluminismo e, também, do Espiritismo.
O Espiritismo, em sua origem, é uma cultura de postura racional, positivista, cartesiana, iluminista e eurocentrista. Enquanto que nossa cultura é toda analógica, gestual, oral. No dizer do grande poeta modernista Oswald de Andrade, o que ocorreu foi uma espécie de antropofagia, isto como metáfora da assimilação transcultural, de uma antropofagia filosófica, doutrinária. Ao tomar contato com nossa cultura religiosa, mística e supersticiosa, o Espiritismo se mesclou, foi “devorado” e assimilado pelo nosso imaginário. O resultado foi a formação de uma religião peculiar, radicalmente distante da matriz kardequiana. No dizer da antropóloga brasileira Sandra Stoll, criamos um “Espiritismo à Brasileira”, conforme os cânones de nossa cultura.
As condições culturais de nosso País foram propícias para o desenvolvimento do Espiritismo, com uma nova cara, nova feição cultural, um novo formato, determinado e adequado à nossa realidade social.

2. Conseguiria listar nomes de personalidades que foram fundamentais no espiritismo no Brasil?

Começo com Afonso Angeli Torteroli, o grande líder dos científicos no século 19, adversário de Bezerra de Menezes, líder dos místicos e outra grande personalidade da história do Espiritismo Brasileiro. Carlos Imbassahy foi o nosso primeiro grande intelectual espírita, seguido por Herculano Pires, Deolindo Amorim, Hernani Guimarães Andrade e, mais recentemente, Jaci Regis. Todas essas personalidades ajudaram a criar o que hoje podemos denominar de cultura espírita ou pensamento espírita, como alternativa e contraponto à religião espírita dominante, criada pela FEB, Chico Xavier e personalidades místico-católicas.

3. Quais momentos considera mais importantes desta história?

Os momentos foram muitos e corremos o risco de deixar de fora muitos fatos importantes para a história do Espiritismo brasileiro. A vitória dos místicos, sob a liderança de Bezerra de Menezes, no século 19, foi o fator de consolidação do Espiritismo religioso e da Federação Espírita Brasileira, que assumiu a hegemonia e a direção política do movimento espírita com o Pacto Áureo, em 1949.
Como reação a esse acordo de cúpula, de lideranças, o chamado Pacto Áureo, Deolindo Amorim fundou o Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB) em 1957, iniciativa que inspirou e tem inspirado muitos grupos espíritas por todo o Brasil, preocupados com o desenvolvimento da cultura espírita. Nesse aspecto, deve ser considerada também a fundação da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), hoje um dos grandes polos de disseminação do pensamento espírita no Paraná e em todo o País, desde os anos 1960.
Cabe lembrar a fundação da USE - União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, em 1947, sob a orientação de Herculano Pires e Edgar Armond, que tornou-se um modelo para o projeto de unificação do Espiritismo brasileiro. Nos anos 1960, também tivemos o aguerrido Movimento Universitário Espírita (MUE), retomado nos anos 1980 com outro formato e sob o nome de Núcleo Espírita Universitário (NEU); nos anos 1970, o projeto Educação Espírita, graças à liderança de Herculano Pires e a criação do COEM - Centro de Orientação e Educação Mediúnica, estruturado pelo pedagogo Ney Albach e o médico psiquiatra Alexandre Sech. Nos anos 1980, a crise entre religiosos e não-religiosos foi um divisor de águas. Nesse período, destaco o Projeto de Espiritização idealizado por Jaci Regis e José Rodrigues, em Santos-SP, através do periódico Espiritismo & Unificação, sucedido pelo jornal de cultura espírita Abertura. Nesta mesma época é importante também mencionar a Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, projeto idealizado pelos gaúchos Maurice Herbert Jones e Salomão Benchaya, dirigentes do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, que edita o conhecido periódico Opinião. Nos anos 1990 tivemos a penetração mais intensa da Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA), sob a liderança do venezuelano Jon Aizpúrua e a consolidação de projetos alternativos no movimento espírita, como o Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, em Santos-SP, de grupos de estudos espíritas, grupos de pesquisa e, no final e virada do milênio, a penetração maciça do Espiritismo na internet e nas redes sociais.

4. Quais as facilidades para a entrada e permanência do Espiritismo no Brasil?

O processo de desenvolvimento e consolidação do Espiritismo no Brasil não foi fácil. Foi longo e tortuoso. No início, os espíritas tiveram que enfrentar a Igreja, a classe médica e até o Estado, que sob influência católica, proibiu durante um certo período o funcionamento de centros espíritas, como combate ao “curandeirismo” e às práticas contrárias aos interesses da Igreja. O Espiritismo era um caso de polícia. Possivelmente, não somente pelo espírito de caridade, mas também como uma maneira de ser aceito socialmente, os espíritas desenvolveram um trabalho assistencial muito pujante e respeitadíssimo pela sociedade. Além do fato de personalidades mediúnicas como Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco, Yvonne Pereira, Zíbia Gasparetto, Luiz Gasparetto, dentre outras, terem contribuído com seu trabalho, exemplo e carisma para que o Espiritismo fosse cada vez mais aceito pela sociedade.
Quanto à permanência do Espiritismo, isso dependerá dos próprios espíritas, segundo uma frase atribuída a Léon Denis: “o Espiritismo será aquilo que os homens fizerem dele”. E penso que se o Espiritismo seguir o caminho do esclarecimento cultural, ético, procurando demonstrar suas teses através da experimentação e pesquisa sérias, o futuro do Espiritismo estará garantido. O caminho deverá ser, necessariamente, experimental, cultural, filosófico e profundamente ético. A transformação moral deve se impor, sem a qual, seríamos um movimento estéril e improdutivo.

5. Quais as dificuldades que o Espiritismo passou? O que perdemos com elas?

Assim como qualquer movimento de ideias, que aspira pela cidadania e aceitação social, o Espiritismo vem prosseguindo como um movimento bastante respeitado pela sociedade. Primeiramente, as maiores dificuldades enfrentadas, como citamos, foram com agentes externos: a Igreja, o Estado, a classe médica, a imprensa. Hoje, por ser um movimento consolidado, esses fatores externos não são mais tão marcantes assim. As dificuldades maiores encontram-se nos interstícios do Espiritismo. Ou seja, os próprios espíritas tornaram-se, de modo até inconsciente, os maiores inimigos do Espiritismo. O inimigo não está mais lá fora, está aqui dentro.

6. Como avalia o atual momento do Espiritismo no Brasil? Carecemos de um novo líder?

Vejo com otimismo o desenvolvimento do Espiritismo no Brasil. A intensa aceitação social, estimulada por filmes, peças teatrais e minisséries inspiradas na temática espírita, contribui para que haja a curiosidade, uma certa simpatia prévia em relação à filosofia espírita. Não acho que o Espiritismo precise de um líder, nos moldes religiosos. Chico Xavier era chamado, por muitos não-espíritas, de Papa do Espiritismo. No entanto, ele nunca desejou e nem consolidou algum tipo de liderança ideológica. Mesmo quando Bezerra de Menezes presidiu por duas vezes a Federação Espírita Brasileira, ele não era propriamente um líder como se exige de alguém vinculado a um movimento de ideias como o espírita, pois nosso movimento não é, por exemplo, como a Igreja, hierarquizado, com rituais de iniciação etc. Neste sentido, temos que considerar o caráter anárquico do Espiritismo, desde que surgiu por aqui no século 19. Mesmo com todo o processo de unificação, de tentativa de padronização e hierarquização, o que prevalece mesmo é a autonomia das entidades espíritas. A FEB, a USE ou qualquer outra entidade federativa não possuem o “controle” desejado do movimento espírita. Apesar dos “caciques”, o nosso movimento espírita parece ter mais “índio” do que “cacique”. A feição democrática que o fundador do Espiritismo, Allan Kardec, delineou no Projeto 1868, deveria ser uma referência doutrinária para as lideranças espíritas.

7. Como a homeopatia, maçonaria, religiões africanas e ideologia política progressista liberal podem ter colaborado com o Espiritismo no Brasil?

A história da homeopatia está imbricada com a história do Espiritismo. Os primeiros homeopatas brasileiros eram quase todos espíritas. O passe, muito comum hoje nos centros espíritas brasileiros, surgiu com os homeopatas, especialmente Bento Mure e Vicente Martins, pioneiros da homeopatia no Brasil. O primeiro Prolegômenos, em O Livro dos Espíritos (1857), tinha como um de seus autores Samuel Hahnemann, o fundador da Homeopatia.
O mesmo pode-se dizer da Maçonaria. Muitos líderes espíritas foram maçons. Há quem sustente que Kardec teria sido maçom, como foi Léon Denis. No Brasil, a Maçonaria e o Espiritismo foram parceiros em muitas oportunidades, como na Coligação Nacional Pró-Estado Leigo, com ampla participação dos espíritas, o que resultou na criação da Liga Espírita do Brasil, no Rio de Janeiro.
Sobre a questão da religião africana, não há como ignorar a Umbanda, surgida no movimento espírita carioca, na década de 20 do século passado, num meio kardecista. Pode-se dizer que a Umbanda é uma das filhas bastardas do Espiritismo. Apesar da confusão doutrinária que existe até hoje entre ambos, a Umbanda contribui bastante com a prática mediúnica e o ensino da reencarnação, da imortalidade da alma, da mediunidade, dentre outros princípios doutrinários, por influência determinante do Kardecismo nessa religião sincrética, genuinamente brasileira. A seu modo, contribui para divulgar as ideias espíritas. A Umbanda não deve ser vista como inimiga, mas como aliada. A Umbanda é a filha rejeitada devido ao preconceito social dos espíritas e a influência ainda muito marcante do eurocentrismo no estudo do Espiritismo.
Quanto à questão da “ideologia política progressista liberal”, não sei bem o que vc quer dizer com isso. O que é uma ideologia progressista liberal? É o PSDB, o PL, o antigo PFL, atual DEM? É uma ideologia de direita, antissocialista? Seria o Partido dos Trabalhadores uma nova ideologia progressista, depois do sucesso do governo Lula? São questões ainda em aberto...
O que importa ressaltar é que o Espiritismo não é de direita nem de esquerda: ele é humanista, a favor do ser humano, encarnado ou desencarnado, é partidário da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Tem características libertárias, democráticas e socialistas. Como afirmou Allan Kardec na Revista Espírita (julho/agosto 1868), ele até poderia ser visto como um partido político: “A palavra partido, aliás, não implica sempre a ideia de luta, de sentimentos hostis. Não se diz: o partido da paz? o partido das criaturas honestas? O Espiritismo já provou, e provará, que pertence a esta categoria.”

8. Se quiser comentar mais alguma coisa, fique à vontade.

A História do Espiritismo no Brasil precisa ser reescrita de modo crítico e contextualizado para que não fiquemos reféns de ideologias que consideram somente a ação de supostos “vultos do Espiritismo”, quando sabemos que essa história é uma construção coletiva, não depende somente de alguns “grandes vultos”, normalmente eleitos por segmentos sectários e autoritários. O Espiritismo é uma obra aberta, uma construção coletiva, da alçada de nós, seres humanos, os verdadeiros elaboradores da Doutrina Espírita. Como afirmou Kardec: “Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem.” (A Gênese, cap. I – grifo meu).

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