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quinta-feira, 24 de maio de 2018

A prisão de Lula - por Alexandre Cardia Machado


Prisão de Lula

Publicado no Editorial do Jornal Abertura de maio de 2018

Não há como não iniciar um editorial neste mês sem comentar o fato político/policial mais importante, ou pelo menos mais comentado que foi a prisão do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. No dia 9 de abril de 2018 o mesmo se entregou à Polícia Federal em São Bernardo do Campo e foi conduzido até Curitiba no Paraná.

Todos os últimos dias de liberdade de Lula foram amplamente cobertos pela imprensa, todas as medidas em sua defesa, feita por seus advogados de forma igual obtiveram a máxima atenção da imprensa brasileira e mundial.

Lula é o primeiro ex-presidente do Brasil a ser preso por um crime comum, anteriormente houveram casos de prisão política.

Há muita agitação na população com relação a esta prisão e podemos entender que pessoas tem visões distintas sobre o sentimento de justiça, tanto isso preocupou a Kardec que ele tratou do assunto na questão 873 do Livro dos Espíritos, donde extraio o seguinte texto:

"873. O sentimento da justiça está em a Natureza, ou é resultado de idéias adquiridas?
 “Está de tal modo na Natureza, que vos revoltais à simples idéia de uma injustiça. É fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus o pos no coração do homem. Daí vem que, frequentemente, em homens simples e incultos se vos deparam noções mais exatas da justiça do que nos que possuem grande cabedal de saber.”

Ou poderíamos dizer ao contrário, o importante é a constatação de que o senso de justiça não é igual para todos.

A Justiça Brasileira já se posicionou em segunda instância de que Lula é culpado pelo crime de  corrupção e lavagem de dinheiro, portanto seguindo o entendimento de jurisprudência do STF, cabe a prisão provisória.

No Brasil não parece muito claro a separação entre o que é pessoal e o que é do Estado. Nossos políticos costumam ultrapassar limites éticos no trato da coisa pública e esta medida, da prisão de um ex-mandatário,  vem no sentido de deixar claro que estes limites existem. Respeitando o direito de pensar de forma contrária daqueles que nos leem, acreditamos que este foi um passo importante dado no sentido do cumprimento da moralidade no serviço público.

Foro previlegiado

Ainda no sentido de dar mais celeridade a processos envolvendo políticos, detentores de mandato a nível federal, o  Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 3 de maio restringir a regra do foro privilegiado para deputados federais e senadores.

A maioria dos ministros decidiu acompanhar o voto do relator do processo,  Ministro Luís Roberto Barroso. Segundo o voto do ministro, só estariam incluídos na regra do foro privilegiado crimes cometidos durante o mandato e que tenham relação com o cargo, esta decisão fará com que vários processos possam ser encaminhados à primeira instância, dando a estes cidadãos uma maior igualdade de tratamento que os demais cidadãos brasileiros.

Muito há que mudar no campo dos privilégios, mas ao menos alguma coisa já mudou. As consequências só saberemos em alguns meses. É mais do que evidente a incapacidade do STF de julgar casos de crimes comuns, na velocidade necessária e seguidamente, acusados com foro privilegiado são absolvidos por decurso de prazo, processos que ultrapassam 10 anos para chegar à pauta do tribunal.

Eleições no Brasil

Este ano teremos eleições gerais, para Presidente e Vice- presidente do Brasil, Senadores, Deputados Federais e Deputados Estaduais.

Nos últimos 7 mandatos de Presidente no Brasil, dois ex-Presidentes, Fernando Collor de Mello (PRN – atual PTC) e Dilma Rousseff (PT)  sofreram o impeachment e tinham como vices Itamar Franco (PMDB) e Michel Miguel Elias Temer Lulia (PMDB) respectivamente. Portanto 28% dos vices assumiram a presidência da república neste período passado. O que demonstra uma certa instabilidade política, portanto considerem que o vice possa vir a assumir o governo e então atenção nele. Ressaltamos que elegeremos um vice-presidente também.

Recuperação econômica

O Brasil, passou por dois anos de recessão – ou seja com crescimento negativo de – 3,8% em 2015,   - 3,6% em 2016 – ano do impeachment da Dilma.

Neste momento  começamos a sair do buraco devido a mudanças na condução da política econômica. Só não estamos melhor, porque a mesma oligarquia que estava no comando da política brasileira até 2016 segue no poder. Com tantas denúncias ao presidente Temer e seus auxiliares próximos as condições para maiores mudanças que dependeram de aprovação no Congresso Nacional se esvaíram.

Em 2017 o PIB do Brasil subiu 1%, revertendo a trajetória de recessão, e a expectativa do IBGE é de crescimento do PIB em 2018 de 2,75%. Crescimento econômica é base segura para uma mudança social duradora, idealmente deveríamos procurar por candidatos que tenham em seu programa de governo o compromisso de honestidade, crescimento econômico e justiça social.

Fake News

Tratamos deste tema na edição anterior do Abertura, em texto denominado Verdade Ilusória e Reinaldo di Lucia volta a discutí-la neste mês. Queremos adicionar um ingrediente a mais nesta consideração. Acredita-se que cerca de 50% das informações que circulam na internet são falsas, tendenciosas ou incompletas. Estes indices são maiores ainda nas redes sociais.

Hoje, todos estes sistemas, redes socias, buscadores possuem algoritmos, programas inteligentes e banco de dados que sabem do que gostamos e nos oferecem exatamente o que procuramos ou algo parecido ao que pesquisamos. A motivação por trás disto são diversas, desde os meramente comerciais até mesmo interesses políticos.

Recentemente ficou escancarado o uso para benefício político a favor de Trump nos EUA. Isto só é possível porque gostamos de ouvir coisas que se ajustam com o nosso modo de pensar. Portanto considerem o que diz o próximo parágrafo, extraído de matéria publicada na revista Superinteressante de 5 de fevereiro de 2018.


“ As fake news são um problema real, mas pior ainda é quem acha que tudo o que vai contra sua ideologia não passa de mentira, e que só seus correligionários dizem a verdade”.


Hoje os dicionários tratam o termo “fake news” como: notícias falsas, mas que aparentam ser verdadeiras. Não é uma piada, uma obra de ficção ou uma peça lúdica, mas sim uma mentira revestida de artifícios que lhe conferem aparência de verdade”.

Notícias falsas usadas de forma planejada (boato), vem sendo utilizada à milênios, não há nada de novo, quem quer se aprofundar leia o livro – Cemitério de Praga de Humberto Eco.

Como espíritas, deveríamos seguir o que nos propôs Erasto no Livro dos Médiuns “ Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa”


quarta-feira, 31 de agosto de 2016

AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA por Ricardo Nunes


Em plena ditadura militar brasileira Chico Buarque corajosamente cantava: “Amanhã vai ser outro dia. Hoje você é quem manda falou tá falado não tem discussão. A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão. Você que inventou a tristeza agora tenha a fineza de “desinventar”. Você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada neste meu penar. Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Ainda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria...”

Bela canção que exprimia o estado de espírito daqueles que desejavam um Brasil melhor com democracia, participação popular, voto direto, direitos sociais, soberania, enfim, todo um conjunto de medidas civilizatórias para um país que desejava ser grande e bom para os seus filhos.

No início da década de 80 tivemos a famosa emenda Dante de Oliveira e a inesquecível, para quem acompanhou, campanha pelas diretas já. Enfim, chegamos a festejada “Nova República” que vinha com gosto de esperança em dias melhores para os brasileiros. Finalmente, entrávamos em um regime democrático. Os anos de chumbo passaram, presidentes e governos se sucederam, e hoje, infelizmente, na contramão da história, o Brasil vive uma tremenda crise política, econômica, social e moral.

A crise política se dá porque vivemos em um momento no qual uma presidenta da República legitimamente eleita por 54 milhões de pessoas, pela maioria dos brasileiros, foi afastada do poder, sob argumentos no mínimo questionáveis.

Crise econômica e social que se espalha com o desemprego, com a inflação, insegurança pública, proliferação de favelas e com o desmantelamento de políticas sociais de amparo aos mais fracos da sociedade.

A crise moral, por sua vez, se estende como uma onda de ódio e sectarismo atingindo os brasileiros. Onda de ódio que faz com que uma prestigiada atriz como Letícia Sabatella, seja ofendida em sua dignidade em plena rua por pessoas furiosas, apenas porque manifestou sua posição política. Crise moral que se expressa em um individualismo feroz, no qual se esquece a dimensão comunitária e social do homem.

Esta crise moral se espalha, ainda, como   um câncer em metástase, por grande parte do Estado brasileiro, em suas diversas instâncias de poder, atinge partidos políticos de variada coloração, bem como, nunca esqueçamos, esta crise atinge também importantes empresas privadas brasileiras, as quais, junto com setores do poder público,  possuem  responsabilidade comum nos acontecimentos de corrupção descarada que atualmente vivemos.

A crise atinge, inclusive, alguns importantes veículos de comunicação, os quais tomaram a feição de partidos políticos, ideologicamente tendenciosos, ao invés de cumprirem seu papel de órgãos de imprensa, na busca de um jornalismo correto na divulgação imparcial dos fatos. Nunca ficou tão evidenciado na história do Brasil moderno o quão complexo e quase “metafísico” é o conceito de “liberdade de imprensa” no cotidiano das redações e grandes grupos de comunicação.

Nos encontramos de fato em um momento de falta de esperança, de não acreditarmos mais em um Brasil que possa efetivamente ser um país democrático, soberano, justo socialmente e garantidor das liberdades.

Acabamos de reler “A Gênese” de Allan Kardec. Nesta obra se observa em seu capítulo final, uma ideia de esperança em relação ao futuro da humanidade, levando em conta os momentos de crise: “Sim, decerto, a humanidade se transforma, como já se transformou noutras épocas, e cada transformação se assinala por uma crise que é, para o gênero humano, o que são, para os indivíduos, as crises de crescimento. Aquelas se tornam, muitas vezes, penosas, dolorosas, e arrebatam consigo as gerações e as instituições, mas, são sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral”
É certo que o progresso não é fatal. Ele depende da iniciativa humana. E também há sempre a possibilidade de retrocesso. Não devemos cometer o erro de certos pensadores marxistas, por causa da influência hegeliana, que acreditavam que atingiríamos na história humana uma era final e definitiva de progresso e felicidade. Este “paraíso” terreno não existe e as conquistas do homem e da sociedade devem ser permanentemente e cuidadosamente defendidas para não sucumbirem.

Porém, o progresso do homem e da sociedade é possível, diz ainda um trecho da referida obra de Kardec sobre as limitações ao desenvolvimento da humanidade: “o progresso intelectual realizado até o presente, nas mais largas proporções, constitui um grande passo e marca uma primeira fase no avanço geral da humanidade; impotente, porém, ele é para regenerá-la. Enquanto o orgulho e o egoísmo o dominarem, o homem se servirá da sua inteligência e dos seus conhecimentos para satisfazer às suas paixões e aos seus interesses pessoais, razão por que os aplica em aperfeiçoar os meios de prejudicar os seus semelhantes e de os destruir.”

O raciocínio acima exposto é uma verdade cristalina, pois há muita gente inteligente que usa a sua inteligência para o mal, para o egoísmo, para a discriminação do outro, para a opressão, para a exclusão da alteridade, e como diz muito bem o texto, até para “destruir” o semelhante. A condição moral individual influencia poderosamente nas atividades de caráter coletivo, na vida do homem em sociedade, independentemente das diversas tendências partidárias, ideológicas, religiosas etc.

Ante tudo isso pensamos na música de Chico Buarque e em nossa convicção espírita. De fato, devemos acreditar sempre que um mundo melhor ainda está por vir. Que estamos a caminho, apesar de todos os tropeços. Devemos crer com todas as forças de nossa alma que um outro mundo é possível. O espiritismo fala em melhoria da humanidade. É de fato de um otimismo incrível. Se podemos atingir uma humanidade melhor, de certo podemos conquistar um país melhor.

Deste modo convidamos a todos a cantar, neste complicado momento histórico de nosso país, mesmo que em voz baixa em sussurros para si mesmo, como uma prece, a canção do grande Chico Buarque.  Ela vai nos ajudar a lidar com a tristeza e o desencanto de um país que vem patinando há tanto tempo sem encontrar um caminho justo e adequado à felicidade de todos os brasileiros.

Um país que passou por séculos de escravidão, de subordinação a uma potência colonial estrangeira, episódios históricos que marcaram profundamente a cultura, a mentalidade e as condições sócio-econômicas do povo brasileiro. Um país em que ainda se encontra enraizada a discriminação em relação a mulher, ao homossexual, ao negro, ao nordestino, ao pobre. Um país no qual ainda não existe uma democracia plena, incentivadora da participação dos amplos setores da sociedade nas decisões do governo, pois o direito ao voto é apenas o mínimo fundamental que deve ser conquistado, respeitado e defendido em uma democracia.

 Um país que ainda não alcançou nem mesmo as conquistas ideológicas da velha revolução francesa, tamanha a cultura elitista que ainda existe entre nós, que faz com que os cidadãos brasileiros se dividam, na mente de alguns poderosos, entre aquela minoria privilegiada e merecedora de todas as benesses, e aquela grande maioria que deve ser reprimida e excluída dos bens fundamentais da vida. Existe ainda quem pense em nosso país com a mentalidade segregacionista da casa grande e da senzala. Infelizmente, ainda estamos bem distantes do conceito de cidadania tão difundido na revolução da pátria de Kardec. Revolução que pleiteava a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
 Grande Chico Buarque! Que possamos cantar de novo a tua canção para alimentar nossa alma de esperança e fé em dias melhores para os brasileiros.

  Amanhã vai ser outro dia...

P.S.: O clima político no Brasil anda tão ruim que é necessário fazer alguns esclarecimentos. Não sou defensor e nem filiado a partido algum. Sou apenas um cidadão brasileiro, espírita, livre-pensador, que reivindica para si o direito de pensar livremente e expor sua opinião, sempre com respeito a opinião diversa. Por outro lado, acredito que um jornal espírita importante como Abertura não pode e não deve passar ao largo dos problemas políticos e sociais que vivemos em nosso país. A bem da verdade, devemos reconhecer que o Jornal Abertura tem cumprido o seu papel de respeito à pluralidade de opiniões de seus articulistas, mesmo em questões controversas. E também não tem se omitido frente as discussões de caráter político e social. Isto enriquece sobremaneira a imprensa espírita.


Ricardo Nunes – Licenciado em Direito – Reside em Santos -SP

NR:Artigo publicado no jornal Abertura em Agosto de 2016

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Não ao ódio


Antoine Leiris, francês que perdeu a esposa no atentado de Paris dia 14/11 escreve carta para terroristas e comove o mundo!


“Vocês não terão o meu ódio.


Na noite de sexta-feira vocês acabaram com a vida de um ser excepcional, o amor da minha vida, a mãe do meu filho, mas vocês não terão o meu ódio. Eu não sei quem são e não quero sabê-lo, são almas mortas. Se esse Deus pelo qual vocês matam cegamente nos fez à sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher terá sido uma ferida no seu coração.Por isso, eu não vos darei esse presente de vos odiar. Vocês procuraram por isso, mas responder ao ódio com a cólera seria ceder à mesma ignorância que fez vocês serem quem são. Querem que eu tenha medo, que olhe para os meus conterrâneos com um olhar desconfiado, que eu sacrifique a minha liberdade pela segurança. Perderam. Continuamos a jogar da mesma maneira.


Eu a vi esta manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Ela ainda estava tão bela como quando partiu na noite de sexta-feira, tão bela como quando me apaixonei perdidamente por ela há mais de doze anos. Claro que estou devastado pela dor, concedo-vos esta pequena vitória, mas será de curta duração. Eu sei que ela vai nos acompanhar a cada dia e que nos vamos reencontrar no países das almas livres a que vocês nunca terão acesso.


Nós somos dois, eu e o meu filho, mas somos mais fortes do que todos os exércitos do mundo. Eu não tenho mais tempo a dar para vocês, eu quero juntar-me a Melvil que acorda de seu cochilo. Ele só tem 17 meses, vai comer como todos os dias, depois vamos brincar como fazemos todos os dias e durante toda a sua vida este rapaz vai fazer a vocês a afronta de ser feliz e livre. Porque não, vocês nunca terão o seu ódio”.

domingo, 6 de setembro de 2015

A crise árabe - e o menino que pode mudar tudo - por Carol Régis di Lucia e Roberto Rufo

Dentre os muitos horrores que as guerras trazem, nada mais comove do que uma foto de uma criança inocente, morta em decorrência destas desgraças. Vale a pena ler os artigos abaixo, que estarão no Jornal Abertura de Setembro de 2015, mas que pela importância do momento em que vivemos, não podem esperar e devem ser publicados hoje mesmo.

O conflito chegou ao Brasil, uma corveta brasileira que estava no mediterrâneo, participando de missão humanitária na Líbia, socorreu, atendendo a pedido de socorro da Itália, 220 pessoas que estavam a deriva, sem beber água há 2 dias.



Sobre tudo isto vale ler os artigos abaixo:

A foto e o Menino - Carol Régis di Lucia


 E quando vejo aquele pequeno em posição de plácido sono, lembro de meu filho em seu berço quente e seguro. Dormem de modo semelhante: de bruços, braços relaxados para trás, as pernas levemente apoiadas, erguendo-se “chamando o irmão” como diziam os antigos. Porém,  reparo que a imagem mostra a água batendo em seu rosto e um forte instinto me leva a pensar em retirá-lo antes que ele aspire o mar. Mas ele já o fez, algumas horas atrás, quando do naufrágio. E então entendo que ele parece dormir, mas diferente do meu, esse filho de alguém não irá acordar mais...



É assim que mais uma imagem entra para a História terrível das guerras nesse pretenso planeta de provas e expiações. Assim como em outras fotos, uma criança retrata o horror das famílias que largam tudo (ou nada) para fugir dos conflitos em seus países e perdem suas vidas tentando sobreviver. O menino sírio, como ficou conhecido, foi capa de noticiários e chocou o mundo para o óbvio: os refugiados estão morrendo aos montes, todos os dias, a mercê do Mar, dos Desertos, das Fronteiras. E os governos...

Mas desta vez, eles invadiram nossas casas, pela inevitável e perturbadora semelhança do garoto Aylan com nossos filhos. Nos sacudiu os instintos mais primários de proteção, sobrevivência, dor, revolta. E o que fazer? A unicidade nessa foto é justamente trazer o conflito, tão distante e estranho ao nosso cotidiano, para bem perto, em nosso conforto do lar. A foto conscientizou, provocou discussões, chamou a atenção e formou opiniões. Só por isso já é válida.

Retratou o pai, único sobrevivente, como um vizinho ou parente próximo, que levou sua família para ter um futuro melhor. Futuro esse que “escorregou” de suas mãos quando a travessia não deu certo. Mostrou a dor de se perder filhos, mas também de ser renegado, não ser ouvido, não ser ajudado. Tão longe e tão perto.

Vi muitos depoimentos de Espiritas, nas redes sociais, pedindo orações aos garotos mortos e à família, li citações sobre as guerras, textos de mensagens de Chico Xavier. Tudo válido, mas vago. Por outro lado, vi e participei de manifestos, abaixo assinados, discussões práticas de ONGs que zelam por essas pessoas. Uma oportunidade efetiva de ajudar e participar ativamente para a amenização da questão, cobrando soluções aos governos que negam a entrada dessas pessoas em seus territórios.

Creio que esse é o papel do Espirita que compreende a responsabilidade de cada um sobre àqueles que sofrem a violência das tantas guerras que estão em andamento e precisam de amparo – e incluo aqui as guerras urbanas, como as que vivemos no Brasil, ao lado de nossas casas, com tantos Aylans mortos diariamente. Além das orações, temos a obrigação de praticar o auxílio, promover debates, questionar, posicionar-se.

Que a perturbação dessas imagens nos seja mola propulsora à ação. Que nossa indignação não morra na praia, não perca a validade como as capas de jornais. Temos muito o que fazer, seja pelos sírios, seja pelos brasileiros mesmo. Existem grupos esperando nossa ajuda, pessoas necessitando apoio, ações a serem tomadas. Só nos resta deixar a posição de espectadores e fazer parte da fotografia, para que hajam muitos melhores momentos a retratar.


OS REFUGIADOS E A ETERNA QUESTÃO DA IGUALDADE - por Roberto Rufo


“A igualdade pode ser um direito, mas não há poder sobre a Terra capaz de torná-la um fato”. (Honoré de Balzac).
“Os que comem bem, dormem bem e têm boas casas acham que se gasta demais em política social”. (Pepe Mujica).
                                                                                                                                                                   Tragédias do século XXI, mais especificamente em 2015, envolvem a questão dos refugiados de países árabes e africanos, que no desespero de fugir de governos despóticos e cruéis se lançam na aventura de chegar a um porto seguro nos países da Europa. Infâmias se sucedem:

11.02.2015 – mais de 300 imigrantes desaparecem no mar quando os botes em que viajavam naufragaram perto da costa da Líbia. O acidente gerou críticas contra a União Europeia por tratar o incidente com menosprezo.
19.04.2015 – o naufrágio de um barco com imigrantes da Síria e Líbia pode ter deixado até 700 mortos, segundo órgão para refugiados da ONU.
27.08.2015 – os corpos de 71 pessoas, crianças inclusive, são encontrados em caminhão em rodovia da Áustria. Segundo autoridades, eram imigrantes provavelmente da Síria.

Há alguns meses verificou-se uma mudança radical nos itinerários da imigração. Há um ano, o caminho real começava na Sicília. Hoje, a rota de Lampedusa ainda funciona, mas uma nova rota foi aberta. A dos Bálcãs. A Hungria já está providenciando a construção de uma cerca para impedir a passagem de imigrantes pelo seu país.  É muita dor e sofrimento, onde a tolerância, humanidade e solidariedade estão colocadas á prova da nossa evolução espiritual.

Kardec em comentário à pergunta 803 do Livro dos Espíritos (Todos os homens são iguais diante de Deus?) nos fala que todos os homens nascem com a mesma fraqueza, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Portanto, Deus não deu, a nenhum homem superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte. Diante dele, todos são iguais.  Eis um momento específico da história da humanidade, onde valores como igualdade devem ser provados quanto à sua eficiência no trato das relações humanas.

O pensador José Rodrigues, no XI Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita em 2009, apresentou um trabalho muito instigante de nome “A Crise da Ambição”.

Neste trabalho ele vai à causa raiz do problema dizendo que “as crises sistêmicas da economia mundial refletem formas de ação individual e coletiva que não deixam dúvida sobre as suas causas: a ambição”. Aliás, nunca é demais repetir, no citado Livro dos Espíritos , quando Kardec indaga aos espíritos quais são as duas maiores chagas da humanidade , estes respondem: o orgulho e o egoísmo.
Em se tratando da Europa, especialmente França, Luxemburgo, Alemanha e Suíça, é bom que se lembre de que grandes fortunas “escondidas” nos grandes bancos desses países são provenientes das ditaduras da África e do Oriente Médio. Nunca houve qualquer pudor ou vergonha ética que impediu a lavagem de dinheiro dessas ditaduras em países da chamada democracia ocidental.

Num gesto que até podemos considerar nobre, a primeira ministra da Alemanha, a Sra. Ângela Merkel, quer que a Europa adote regras de tolerância para os que fogem de países em guerra. Outros tipos de refugiados que queiram somente se beneficiar da pujante economia alemã não serão aceitos.

A Alemanha acolheu refugiados de guerra, mesmo porque as famílias alemãs não têm muitos filhos e a indústria e a agricultura carecem de mais braços. Ou seja, a “caridade” tem como sempre nesses casos um viés econômico. Mesmo assim essa liberalidade ocasionou, nos últimos seis meses, duzentos ataques contra centros de acolhimento de refugiados. A primeira ministra foi vaiada pelos grupos neonazistas. Tempos de crise são tempos de muito preconceito.  Mas também tempos de muita solidariedade e amor ao próximo como demonstram grupos de direitos humanos na Europa que trabalham para o alívio do sofrimento dessas pessoas.

Certas frases colocadas por Kardec em comentário às diversas respostas dadas pelos espíritos podem soar piegas aos ouvidos de pessoas que, isentas de espiritualidade, veem o mundo de uma forma unicamente materialista. Todavia como seriam úteis se habitassem os corações de governantes e do mundo financeiro e fossem colocadas em prática. Digo isso, pois no comentário à pergunta 886 do Livro dos Espíritos Kardec diz que o amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem que está ao nosso alcance.

Qual a solução? Provavelmente passa pelos ensinamentos do pensador José Rodrigues, no trabalho citado acima , quando afirma que “enquanto uma expressão exagerada da paixão , a ambição, como fator psicológico, não é considerada nas avaliações e previsões dos agentes econômicos, centradas em dados de predomínio quantitativo".

“O Espiritismo, em sua expressão filosófica, ao tratar das causas dos conflitos humanos, oferece elementos capazes de elucidar e ajudar a superação das crises, pela mudança de sus antecedentes”.  Brilhante.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Egoísmo a base da corrupção - por Alexandre Cardia Machado

Egoísmo a base da corrupção

Pensando sobre os últimos acontecimentos que vem ocupando todos os espaços na imprensa, a vasta rede de corrupção que se instalou no seio de uma das maiores companhias petrolíferas do mundo, não vejo como não buscar o entendimento recorrendo ao Livro dos Espíritos.

Na questão 487, Allan Kardec pergunta: “Dentre os nossos males, de que natureza são os de que mais se afligem os Espíritos por nossa causa? Serão os males físicos ou os morais? “.

E assim nos respondem e ensinam os Espíritos que assistiram a Allan Kardec:

“O vosso egoísmo e a dureza dos vossos corações. Daí decorre tudo o mais. Riem-se de todos esses males imaginários que nascem do orgulho e da ambição...”

O egoísmo é a incapacidade de dividir, é a necessidade de possuir mais, não importando por que meios. É uma calamidade de nível mundial, a inveja, a ganância, são parentes próximos do egoísmo.
A alta disponibilidade de artigos de luxo, o fácil acesso apenas passando um cartão de crédito, a propaganda, são alguns dos aceleradores deste processo. Juntando-se dois gananciosos em uma mesa de negociação e potencialmente temos aí, uma oportunidade para a ilegalidade.

Não iremos comentar os casos recentes, que afrontam pelos valores astronômicos envolvidos, creio que a imprensa vem fazendo um grande trabalho divulgando os fatos e a justiça e a Polícia Federal estão se encarregando da questão jurídica.

O que me preocupa é a questão moral, a corrupção moral ocorre em todas as faixas da população, envolvendo não só dinheiro, mas o ‘jeitinho” o empurrãozinho, o parente bem colocado, parece existir uma vontade, dissiminada de levar vantagem.


Falta a muitos o freio moral, interno, construído pela educação, por isto sempre buscamos os bons exemplos, para nos lembrar que é possível viver bem, sem se corromper.

originalmente publicado no Jornal Abertura - Março 2015

terça-feira, 23 de junho de 2015

Corrupção: Doença com residência na alma - Por Jacira Jacinto da Rocha

Corrupção: Doença com residência na alma.
19/3/15: Operação Implante
19/3/15: Operação Boneco

Jacira Jacinto da Silva

Não se alcança fácil a corrupção para extirpá-la da sociedade. Em se tratando de doença com residência na alma, pertencente ao conjunto de valores imateriais do ser humano, que não se modifica, tampouco se burila por meras deliberações, haveremos de construir um novo padrão de educação, em que as ações de pais, educadores, políticos e formadores de opinião, reflitam lições! Conversa fiada não serve.



Vivemos tempos difíceis, ou tempos melhores? O mundo está progredindo, ou estaria regredindo? É natural que muitas vezes nos bata um desânimo danado e que em muitas ocasiões cheguemos a pensar que a lei de evolução não se confirma, ou que Kardec se equivocou ao negar a possibilidade de regressão da evolução espiritual.
O cenário político nacional é espantoso, chocante, assustador, diríamos! Quando poderíamos imaginar assistir ao vivo e a cores nossos representantes políticos fazerem suas negociações e barganhas às escâncaras, na frente das câmeras de TV, diante de jornalistas, declarando sem pudor as razões dos seus ardis mais desprezíveis, sob a capa do interesse público? Pois estamos vendo, diariamente. Basta ligarmos a televisão, abrirmos a revista ou o jornal e nos deparamos com essas possibilidades.
O mundo virou pelo avesso? Parece que não; ao meu ver, com o máximo de respeito a quem pensa diferente, estamos sendo mais transparentes, desenvolvemos mais mecanismos de acessar informações, a vida dos representantes políticos está menos obscura, já não permitimos mais tanto autoritarismo, temos sede de informações sobre tudo; enfim, estamos evoluindo!
O mundo está melhor hoje do que já foi no passado, sem dúvida, e a lei do progresso se confirma, na minha limitada visão. Mas, claro, nós estamos bem devagar; atrasados, cheios de egoísmo e dificuldades para superar.
Propõe-se trocar a Presidente da República, e seria maravilhoso se com esse gesto baníssemos a corrupção do nosso país, mas, lamentavelmente não atingiremos esse patamar com tal gesto. E se numa só tacada trocássemos também todos os representantes das Casas Legislativas, Senado e Câmara dos Deputados? Ainda assim não daria. Mas poderíamos, então, substituir os nossos representantes dos três poderes, do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Hum! Que pena, ainda não daria certo. Mas, e se nós mudássemos os representantes políticos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário das esferas Federal, Estadual e Municipal, em todos os Estados e todos os Municípios? A razão nos diz que não adiantaria e que a corrupção seguiria sendo um câncer da nossa sociedade.
É possível fazer essa afirmação com facilidade, pois num só dia, 19/3/2015, enquanto o noticiário se dividia entre as várias novidades do cenário nacional, a Polícia Federal efetuava inúmeras prisões decorrentes de duas operações, denominadas “Implante” e “Boneco”, envolvendo pessoas outras, que não pertencem aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Segue um resumo:

Implante: Caxias do Sul/RS – A Polícia Federal, em parceria com a Receita Federal, deflagrou nesta manhã (19/3/2015) a Operação Implante com objetivo de combater um esquema de fraudes no Imposto de Renda da Pessoa Física. Investigações apontaram o funcionamento de um esquema de fraudes, no qual despesas médicas fictícias eram inseridas na Declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física – DIRPF, com a finalidade de reduzir o imposto a pagar e obter restituições indevidas. Apenas em despesas odontológicas e médicas, estima-se que a fraude ultrapassa R$ 1,5 milhão.

Boneco: Rio de Janeiro/RJ – A Polícia Federal, o Ministério da Previdência Social-MPS e o Ministério Público Federal deflagraram hoje (19/3/2015) a Operação Boneco para desarticular uma quadrilha que fraudou o INSS em mais de R$ 7 milhões. Numa primeira etapa, os servidores envolvidos da Previdência Social concediam benefícios fictícios, ou irregulares para pessoas que não faziam jus. Algumas vezes, o LOAS era concedido a pessoas inexistentes utilizando-se documentação falsa.
A segunda célula era responsável pelos saques dos benefícios previdenciários irregulares. Idosos eram recrutados e se faziam passar pelos verdadeiros beneficiários para fazer o saque nas instituições financeiras. Cada idoso assumia até mais de dez identidades diferentes, recebendo uma quantia fixa para cada saque efetuado. Os idosos eram tratados pela alcunha de “boneco”, daí a origem do nome da operação. O prejuízo, apenas dos mais de 350 benefícios identificados, chegava a superar o valor mensal de R$ 200 mil. A PF estima que a quadrilha lesou o INSS em mais de R$ 7 milhões.


Vi com certa surpresa pessoas reagirem agressivamente contra Marina Silva pelo fato de ela ter declarado que a corrupção não é um problema desse ou daquele político, mas de todos nós. Houve quem dissesse, até com manifestação odiosa, que não tinha nada a ver com isso.
Ouso dizer que a corrupção é sim problema de todos nós, pois se trata de doença crônica, com sede na alma, vulnerável a pequenas oscilações das “condições ambientais”. Dizem que ninguém tem imunidade absoluta, mas é certo que a filosofia espírita oferece muito bons antídotos. Particularmente, penso que a primeira lição espírita, sobre a qual deveríamos refletir diariamente, está na questão n. 913 de OLE. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? “Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo”.
É pelo nosso egoísmo e por nenhum outro motivo que aceitamos acessar todos os canais de TV por assinatura sem pagar nada, fazendo um simples “gato”; que reduzimos a conta de água ou de luz, colocando um desvio no relógio; que compramos um recibo de dentista ou de médico para reduzir o IR; que colocamos o valor do imóvel adquirido abaixo do valor real na escritura para sonegar o ITBI; que compramos produtos piratas; que fazemos caixa dois em nossa empresa; que registramos a empregada com valor menor do que pagamos; que furamos fila; que tentamos subornar guarda para evitar multa; que apresentamos atestado médico falso; que batemos ponto pelo colega de trabalho etc.
Sempre atenta ao direito do outro de pensar diferente, entendo ser sagrado o direito de contestar contra os abusos, mas precisamos nos educar antes de tudo. Quem pratica ato de corrupção (pequeno pode?) não tem o direito de exigir lisura do outro, nem mesmo dos seus representantes políticos. Presenciei pessoa que não paga seus impostos – eu sei, pois tem uma empresa e já me confessou o uso do caixa dois – participando do panelaço. Não tem moral.
A palavra, no meu entender, está com Leon Denis:

O estado social não sendo, em seu conjunto, senão o resultado dos valores individuais; importa antes de tudo de obstinar-nos nessa luta contra nossos defeitos, nossas paixões, nossos interesses egoístas.
O estudo do ser humano nos leva, pois, a reconhecer que as instituições, as leis de um povo, são a reprodução, a imagem fiel de seu estado de espírito e de consciência e demonstram o grau de civilização ao qual ele chegou. Em todas as tentativas de reformas sociais é preciso falar ao coração do povo ao mesmo tempo que à sua inteligência e à sua razão.
A sociedade não é senão um agrupamento de almas. Para melhorar o todo, é preciso melhorar cada célula social, isto é, cada indivíduo (o grifo é meu).
  
Um grande educador escreve para a eternidade.
Faço minhas as suas palavras, Eminente Professor.



Jacira Jacinto da Silva, juíza de Direito em São Paulo, membro do CPDoc, da CEPABrasil e cofundadora da Fundação Porta Aberta. É autora do livro Criminalidade: Educar ou Punir? que você pode adiquirir aqui no ICKS, através do email: ickardecista1@terra.com.br


domingo, 18 de janeiro de 2015

É Preciso saber viver - por Alexandre Cardia Machado

Desta guerra, você participa todos os dias!


Era apenas uma manhã normal de segunda-feira, eu estava indo buscar minha esposa na academia apenas  poucas quadras de minha casa. Para me deslocar de automóvel até la tenho que passar por algumas ruas de pouco movimento e de velocidade máxima de 40 km/h.

Num cruzamento, onde a preferencial era no meu sentido, alguma coisa, talvez um pressentimento me fez reduzir muito a velociade e verificar se na outra via haviam placas de pare, olhei pros dois lados e vi a placa e também a inscrição de pare no asfalto. Foram quem sabe 2 segundos, segui em frente, neste momento passa uma camionete de entrega a mais de 60 km/h, o motorista não quiz saber de nada, passou direto, não deu importância aos sinais claros de trânsito, não parou.

Caso eu, que estava na preferencial, não tivesse reduzido a velocidade potencialmente estaria morto, pois o choque do mesmo seria na minha porta, este editorial só seria possível por via mediúnica.
Este episódio me fez pensar, onde estamos? Ciclistas, pedestres, motoqueiros e entregadores de todos os tipos, simplesmente ignoram a sinalização de trânsito, transformando o ato de dirigir um automóvel, numa verdadeira roleta russa.

Aqui nem se trata da aplicação da lei do mais forte, é uma total insensatez, pois em geral são veículos leves, altamente vulneráveis, dirigidos por pessoas irresponsáveis que arriscam a sua própria vida e colocam a de outrem em risco também.

As vias de circulação das cidades ficaram pequenas com o aumento astronômico do número de veículos. Acidentes de trânsito e mortes por assassinato rivalizam no topo das estatísticas de mortes evitáveis em nosso país.

Como dar um basta a isto, existe um símbolo que está sendo adotado por cidadões conscientes, que param nas faixas de pedestres e que tentam pelo exemplo difundir um pouco de cidadania, mas a maioria não está nem aí! Os jornais impressos ou televisivos mostram as cenas, fotos expõe a estatística mas nada disso tem efeito prático, parece que todos tem muita pressa, mesmo que seja para chegar logo e não fazer nada depois.

Precisamos baixar a velocidade. Na capital paulista todas as vias de circulação, no governo Kassab, tiveram a sua velocidade reduzida, mas cada um de nós, precisa internalizar que, no espaço confinado de uma cidade, onde a população aumenta e os meios de transportes individuais são múltiplos e em excesso, todos devem saber viver e reduzir a velocidade.



Os dados acima são obtidos através da requisição do DPVAT, não contém os mesmos dados do ministério de saúde que são mais amplos,o DPVAT é aquele seguro obrigatório que todos os proprietários de veículos pagam junto com o IPVA, está aqui para demonstrar sem sombra de dúvidas que existe uma tendência de aumento no número de vítimas, ora, como espíritas somos a favor da vida e não podemos ficar calados.
A causa principal é a imprudência, cerca de 90% dos casos esta é a razão do acidente, excesso de velocidade, descuido com a sinalização, falta do uso de cinto de segurança, dirigir embreagado e por aí vai.
Jaci Régis em seu clássico livro Comportamento Espírita de 1981, assim se refere a nós passageiros deste planeta “ ... o homem do nosso século (XX), como vimos, traz uma história, uma ficha de aprendizagem, em que estão inculcadas normas, regras, traumas e pressões a que tem sido submetido no transcorrer  dos tempos ...”  Estes espíritos que hoje estão encarnados expressam o seu comportamento de uma forma complexa, transfere para o automóvel, para a motocicleta a vontade de ser livre, poderoso, alienando-se dos riscos envolvidos, tem o comportamento otimista, de que os outros são tolos eles são espertos, bloqueiam a entrada em suas mentes às estatísticas, como se jamais fossem atingidos por elas,   podemos esperar melhoras? É evidente que sim, chega uma hora em que mais e mais pessoas acidentadas, portadoras de deficiências físicas e psíquicas causadas pelos acidentes de transito se farão presentes, novas regras e ações de engenharia nos obrigarão a reduzir a velocidade a força, o indivíduo pode trasgredir, mas a sociedade termina por reagir e impor limites a liberdade.
Finalmente, como Espíritas devemos dar o exemplo e mostar que é possível saber viver e ao dirigir, ser cuidadoso, dirigir defensivamente – como diz Jaci, no livro citado fazendo referencia a música de Geraldo Vandré – “quem sabe faz a hora não espera acontecer”.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A Tragédia do Mundo Árabe - Marcelo Régis

Mil anos atrás, as maiores cidades mundiais, onde cultura, inovação e tolerância floresciam estavam quase todas no mundo islâmico. Bagdá, Damasco, Cairo e Córdoba eram centros dinâmicos de conhecimento, tolerância e comércio muito superiores e mais avançados que qualquer cidade ocidental. A tolerância religiosa sempre foi um marca do islamismo, onde judeus e cristãos eram respeitados e a conversão religiosa pela força não era uma marca – muito diferente do mundo ocidental com seus expurgos e perseguição sistemáticas principalmente aos judeus a longo da história. Hoje o mundo árabe islâmico se encontra quase que totalmente destruído, dominado pela miséria e fanatismo religioso que ameaça não só esses países como também a paz mundial. Os eventos capitaneados pelo grupo terrorista EI, com decapitação de inocentes transmitidas ao vivo e em cores, remete ao que pior pode oferecer a brutalidade da raça humana.



Por que os povos árabes islâmicos, têm falhado sistematicamente em criar países democráticos, abertos e mais felizes? Por que os mesmos não conseguem gerar riquezas e bem estar duradouro à uma população de mais de 350 milhões de pessoas, apesar da abundância de petróleo? O que faz essas sociedades tão susceptíveis a regimes totalitários e fanáticos? Com certeza esse atraso não tem nada a ver com a falta de habilidade, inteligência e outros atributos desses povos. Afinal somos todos espíritos providos das mesmas condições e anseios de liberdade e progresso.

A questão é complexa e não tenho a pretensão de analisar nesse artigo todas as interações e causas do problema. As mesmas são diversas, passando pelas consequências geopolíticas da 1a e 2a guerras mundiais que redefiniram de forma artificial fronteiras e domínios na área, o imperialismo ocidental e a influência soviética na área como consequência da guerra fria que definiram regimes e alianças, a transição rápida de uma sociedade rural e analfabeta para um mundo conectado onde as diferenças entre ricos e pobres são chocantemente visíveis e o abismo de riquezas imenso. Para piorar, tudo azeitado e inflamado pelas enormes reservas de petróleo existentes na área, colocando ainda mais lenha nessa fogueira ardente.

A questão que gostaria de ressaltar é como o fanatismo religioso desses estados tem uma clara influência causal na condição atual dos mesmos. O islamismo, ou as recentes interpretações da fé islâmica, está na raiz dos problemas desses povos. Na intepretação fundamentalista que domina a região, o estado laico não existe e estado e religião são intrinsicamente ligados, sendo que os representantes da fé definem leis e costumes. Também não existe separação clara entre a religião e poder judiciário, pois na maioria das vezes juízes são sacerdotes, os mesmos que fazem as leis, definem sua aplicação e punição aos desvios, criando uma sociedade tolhida e totalitária,  onde criatividade, diversidade e liberdade são inexistentes ou reprimidas aos máximo. Para piorar, mesmo entre os seguidores, são diversas as correntes de interpretação do Corão e parece que existe uma escalada absolutista entre os diversos grupos que lutam pelo poder e domínio na área, cada um oferecendo opções de sociedade mais totalitárias e bárbaras na tentativa de oferecer algum norte, algum caminho aos milhões de miseráveis que habitam a área. Esse norte politico-religioso também gerou economias de inspiração absolutistas, soviéticas onde o planejamento central e governamental domina a vida econômica. Como demonstrado em todas as experiências históricas, onde não existe liberdade econômica, onde o estado controla e planeja a sociedade com mão de ferro, onde não existe liberdade, também não existe crescimento, bem estar duradouro e progresso social.

Kardec sabiamente e há 157 anos atrás já vislumbrava os problemas que a mistura entre religião, estado e ciência ocasionava – afinal o ocidente teve séculos de experiência durante a Idade Média para experimentar na pele as mesmas. Por isso o mestre definiu o Espiritismo como ciência, separada da religião. A intenção era ver o mesmo livre da contaminação dogmática, absolutista que intrinsicamente toda e qualquer religião enseja – afinal não se pode criticar, ou alterar os dogmas aparentemente recebidos diretamente de Deus. Isso seria duvidar da onipotência e onisciência do Mesmo. Enquanto a Doutrina Espirita ainda discute o tema e a maioria de seus adeptos seguem a linha religiosa, o mundo ocidental, não sem muitos percalços e problemas, seguiu com a separação entre estado e religião, ciência e religião. Essa separação permitiu que a criatividade e inovação florescesse no ocidente a partir do Renascimento enquanto o mundo árabe islâmico fazia o caminho inverso.

Voltando ao mundo árabe islâmico, a situação é tão crítica, complexa e arraigada que é difícil vislumbrar uma melhoria a curto prazo. De fato, o risco é que a situação daquela área do globo, arraste o resto do planeta para uma grande crise e talvez algum conflito de proporções maiores.  Minha certeza é que somente os árabes podem mudar seu próprio destino e reverter o declínio de sua civilização. A esperança é que o acesso às mídias sociais, internet e mais informação possa causar uma mudança, que certamente passará pela revisão do papel da religião na sociedade e no estado, mais liberdade e tolerância tanto social quanto econômica.

Para nós espíritas, fica mais uma vez a lição de que a separação entre sagrado e profano, religião e ciência é um valor crucial para o progresso da humanidade e que o mesmo deve ser defendido  e propalado pelos espíritas, tanto dentro dos centros como na sociedade em geral. Kardec mostrou o caminho, cabe a nós seguí-lo e aperfeiçoá-lo. 

Artigo originalmente publicado no jornal ABERTURA em novembro de 2014.

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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Rolezinho - por Gisela Régis

ROLEZINHO....A reportagem "Eu não quero ir no seu shopping" (Veja - 22 de janeiro") suscitou comentário de um leitor que achei muito pertinente e o qual reproduzo aqui: "A reportagem me chamou a atenção por revelar detalhes que vão além do preconceito ou da desigualdade social, como pregam os simpatizantes de causas sociais. Por trás de cada rolezinho estão pais sem autoridade, que abrem mão de seus pequenos salários, conquistados com trabalho árduo e dignidade, para alimentar os desejos consumistas de seus filhos, jovens que creem cegamente que roupas e acessórios absurdamente caros ditam o caráter e os valores de um individuo. São pais que não sabem dizer não e que, por inúmeros motivos, não conseguiram ensinar valores como respeito e dignidade a seus filhos. Os rolezinhos servem para esfregar na cara da sociedade que a defasagem da educação no Brasil não somente é um mal que acomete as escolas como denuncia que elas devem ser repensadas desde o nascimento pelos pais. Infelizmente a sociedade e o governo populista que só quer angariar votos enxergam no fenômeno somente o preconceito e a desigualdade social, fazendo a maioria pensar que a culpa de os rolezinhos existirem é da suposta classe média consumista e ostentadora que trabalha para sustentar os governantes e seus projetos pseudossociais." - Stefanie Veras de Oliveira

LIVRO DOS ESPIRITOS - Da Lei do Progresso - capitulo VIII
Pergunta 785. Qual o maior obstáculo ao progresso?
"O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. A primeira vista, parece mesmo que o progresso  intelectual reduplica a atividade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição  e o gosto das riquezas....Curta, porem, é a duração desse estado de coisas, que mudará a proporção que o homem compreender melhor que, além da que o gozo dos bens terrenos proporciona uma felicidade existe maior e infinitamente mais duradoura."
E você? qual a sua opinião sobre esse assunto?

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Eu sou di menor! - Reinaldo di Lucia

Aconteceu novamente mais um entre tantos: um crime bárbaro, daqueles que deixam em todos o sentimento nada agradável de raiva e, por que não, um desejo secreto de vingança. O clamor popular leva as autoridades a garantir que “medidas rápidas serão tomadas” e toda a polícia sai no encalço dos bandidos, presos logo em seguida – um pequeno bando, três ou quatro marginais. E, na hora, um deles se declara responsável pelo delito: um menor de idade.


A discussão sobre a redução da maioridade penal vem tomando corpo principalmente porque a situação acima descrita tornou-se um padrão: invariavelmente quem se apresenta como culpado tem menos de 18 anos e, portanto, não tem a mesma responsabilidade penal dos adultos. É um “menor infrator”, não um criminoso, e receberá a título de pena uma “medida socioeducativa” – no máximo será internado numa instituição para menores, na qual ficará por até três anos. Ao tornar-se maior de idade, estará novamente reintegrado à sociedade, sem ficha criminal.

A questão é polêmica e gera discussões acaloradas entre os partidários da redução e seus antagonistas. As argumentações são bastante fortes e podem ser facilmente encontradas – portanto, não vou discuti-las aqui. Mas parece claro que algo precisa ser feito, e rápido, na prática. A discussão teórica gira sobre três pontos principais.

A primeira delas é a questão social da violência: o menor de 18 anos, apesar consciente do erro de seu ato, pode ser responsabilizado por um crime, ainda que a ineficácia da ação governamental – que o privou de condições mínimas de desenvolvimento e educação – o tenha influenciado? E com isso, teríamos efetivamente uma redução na violência?

Em segundo lugar, a questão de como fazer com que os menores infratores cumprissem a pena. O sistema prisional brasileiro estaria mais adequado num filme de terror que na realidade de um país que deseja ser desenvolvido. Colocar um menor nesta situação não agravaria o problema?

Por fim, a proteção da sociedade. A cada crime que acontece sob responsabilidade de um “incapaz”, aumenta-se a sensação de insegurança geral. Em última instância, isto pode levar a uma escalada da violência, na medida em que a população pode procurar proteger-se e “fazer justiça” por conta própria.

Entendo a posição da ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal (STF), quando disse que, com a redução da maioridade penal, "nós estaríamos como que renunciando a uma política estrutural de assistência aos adolescentes, resolvendo o problema da maneira mais fácil possível, mecânica e cômoda, pela simples redução da idade penal". Há, porém, um grave problema: na prática, essa política estrutural de assistência aos adolescentes não existe. E mesmo que iniciássemos agora políticas voltadas à educação e à melhoria das condições sociais, levaria entre 25 a 40 anos para que tais políticas tivessem o efeito esperado – desde que houvesse persistência em sua implantação, o que demandaria um acordo partidário em larga escala.

Mas, enquanto isso, a sociedade precisa ser protegida, mesmo porque, os donos da boca estão fazendo direitinho a parte deles. O garoto com o 38 na mão, atirando no policial, vira gerente – super plano de carreira. Eles aceitam a autoria de um crime, por mais hediondo que seja, pois sabem que a curta pena de três anos é apenas um estágio a cumprir na estruturada carreira do crime.



sábado, 9 de março de 2013

Da qualidade de vida, eutanásia e outras polêmicas... por Carolina Regis Di Lucia

Recentemente o Fantástico apresentou matéria sobre a pesquisa de um neurocientista no Reino Unido, Adrian Owen, que está mapeando o cérebro de pessoas em estado vegetativo e, em alguns casos, precariamente comunicando-se com eles.

Trata-se de um avanço inédito na Neurociência no sentido de provar que há alguma atividade cerebral consciente nestas pessoas que, por acidentes de percurso, deixaram de trabalhar, namorar e passear para viverem presos a uma cama sem capacidade de se alimentar, comunicar ou interagir com o mundo que as cerca.

Inegável o benefício de tal pesquisa para um futuro longínquo onde, se tudo der certo, alguns pacientes com determinado quadro clínico poderão se comunicar com seus parentes através da tecnologia, respondendo, incialmente, a perguntas simples como se está com fome, dor ou se quer isso ou aquilo.

Porém, como livre-pensadora, não consigo deixar de questionar a validade de tais experiências para o Espírito que habita aquele corpo. Fico pensando até onde o moralismo vigente não condena pessoas a ficarem décadas presas a um corpo praticamente morto, impedindo a continuidade de uma trajetória evolutiva.

O argumento pré-histórico da “prova” que maquia a situação, por mim, não é mais tolerado. Pode haver alguém que escolheu passar por isso? Logística complicada, não é? Como Scott, um dos personagens da matéria, conseguiu arquitetar e garantir a execução de um atropelamento por um carro de polícia, há dez anos, que lhe tiraria as faculdades motoras e boa parte das intelectuais? Ficaria um grupo de desencarnados de plantão, a fim de garantir o sucesso da operação para que Scott pudesse passar por experiências como resignação, paciência, resiliência?


Seria esse o melhor método para tais aprendizados? Ou experiências mais felizes e úteis à sociedade como o voluntariado, não levariam Scott ao mesmo aprendizado? Por tudo isso, nego-me a acreditar que era pra ser ou que, ainda, ele mesmo tenha optado passar por isso e a Justiça (?) Divina lhe tenha concedido tamanha glória.


Então, qual a finalidade de ser um humano em estado vegetativo? Por que não, se a família bem assistida assim o decidir, a eutanásia em casos dessa magnitude de danos cerebrais – que, lembremos, é o que nos diferencia fisiologicamente de outros reinos? Falando nisso, verdade seja dita, a legislação autoriza o sacrifício de animais incapacitados a tal ponto que não possam viver plenamente. Deixo aí a polêmica reticência.


Mais do que nunca estamos na era da qualidade de vida: ser feliz, buscar a convivência sadia, contribuir para a evolução das questões sociais e do Planeta, caminhar para a compreensão íntima e do outro, afim de um passo consciente e harmonioso no degrau evolutivo. Qual seria o propósito de atrasar (ainda que poucas décadas, em um tempo infinito) esse avanço preso a um corpo inútil que pode gerar revoltas, dores e transtornos psíquicos onerosos, por muito e muito tempo?


Ser Espirita é fundamentalmente compreender que, para uma existência plena na reencarnação, deve existir sintonia funcional entre os dois elementos vitais: o corpo e o Espírito. E que aquela encarnação é apenas uma, rápida na linha do tempo Universal, uma ínfima parte física, mas que pode acarretar em prejuízos psicológicos evitáveis, se forem pensados de forma franca, desarmada e embasada.


Claro, a decisão será sempre da família e seria necessário acompanhamento multidisciplinar. Mas me incomoda o fato de Espíritos estarem fadados a uma prisão em um corpo vegetativo, imposta por moralismos religiosos e sociais que cerceiam a liberdade da família em considerar a hipótese e do paciente de seguir em frente. Liberdade essa que pode ser gozada com ares de desprendimento e compaixão, no caso dos animais.


Leia a matéria no site do Fantástico: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2013/01/cientista-consegue-se-comunicar-com-pacientes-em-estado-vegetativo.html

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tragédia de Santa Maria e os nossos filhos por Roberto Rufo

Uma pequena contribuição de minha parte por esse momento muito triste que passa o país .


SOLIDARIEDADE E REVOLTA .



" Diante da noite carregada de sombras , lembre-se do amanhecer “ . ( Emmanuel , psicografado por Chico Xavier ) .

                                                                     Foto do site Terra


Quando a gente coloca filhos no mundo , estamos cientes das alegrias e tristezas que podem advir deste ato . Mas todos querem ter o prazer de tê-los , pois não há nada tão saboroso do que vê-los crescer , evoluir , tornarem-se adultos , e por sua vez tornarem-se pais , com a chegada dos seus filhos . É a marcha da vida , onde o nascer e o morrer soam tão naturais . E o natural nos parece é irmos embora primeiro , os filhos ficarem e assim sucessivamente .


Infelizmente nem sempre isso acontece . A imprudência , as falhas de fiscalização , a ganância têm o poder de quebrar esse ciclo que nos parece tão natural .  Costumo dizer que se pudesse pedir algo especial a Deus , seria que me levasse primeiro para não ser testemunha da partida , mesmo que temporária de um ente querido . Todavia esse é o desejo de todos os pais .  O Espiritismo tem um forte conteúdo consolador por nos provar a existência de outras vidas e as futuras reencarnações que virão . Isso não impede a dor do afastamento precoce das pessoas a quem amamos tanto . É natural . Além disso , o Espiritismo também nos alerta da enorme consequência dos nossos atos e comportamentos , pois eles certamente têm influência na nossa vida e de outras pessoas .


Uma tragédia como a de Santa Maria ( RS ) , não tem nada a ver com resgate coletivo , ou outras bobagens que se costuma apregoar nos meios espíritas , quando fatos dessa natureza acontecem . Essa tragédia é fruto da negligência , falta de cuidado e total desprezo pelos seres humanos que frequentavam a
boate Kiss em Santa Maria . No momento espero que aquela comunidade gaúcha mantenha a calma , ore por seus parentes , mas que seja também tomada pela revolta , que nas palavras do escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo é a única emoção útil para o porvir , pois pode acelerar consequências .

As demais emoções , completa , são manifestações humanas de solidariedade .


A presidenta Dilma chorou , eu chorei , me colocando no lugar daqueles pais que ligaram centenas de vezes para o celular de seus filhos , na esperança vã de ouvir um alô abençoado . Mesmo tendo já 27 anos , ligo para o meu filho solteiro quando demora para retornar de mais uma balada . Que alegria e tranquilidade ouvir a sua voz do outro lado da linha . Meu amado filho está vivo .


Penso que talvez fosse mais prudente e inteligente aos jovens procurarem outros meios de expressarem a sua vontade de viver , de participar , de se comunicarem socialmente . Hoje temos essa tragédia num incêndio em Santa Maria , ontem inúmeras mortes por acidentes de carro , ao retornarem das baladas muitas vezes embriagados . As estatísticas no Brasil são estarrecedoras .


Se tivesse que dizer algumas palavras aos parentes das vítimas , faria uso da indagação de Allan Kardec se a felicidade terrestre é relativa à posição de cada um e se há uma medida de felicidade comum a todos . Nossos amigos espirituais respondem que para a vida material é a posse do necessário ; para a vida moral é a consciência tranquila e a fé no futuro .  Só resta mesmo nesse momento manter a consciência tranquila e a fé no futuro .


Finalizo com as palavras do poeta e cronista gaúcho Fabrício Carpinejar , e tenho certeza que muitos pais se identificarão com elas :

“ Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço . Não vão se lembrar de nada . Ou entender como se distanciaram de repente do futuro “ .


Roberto Rufo .

NR: 27/01/2017: Ainda ninguém foi preso.

A tragédia na boate Kiss, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que provocou a morte de 242 pessoas completa quatro anos nesta sexta-feira (27).   
O incêndio, considerado o segundo maior já registrado no Brasil, foi provocado por um integrante da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava no local. Ele acendeu um sinalizador que emitia fagulhas e logo atingiram o teto revestido de espuma, que rapidamente pegou fogo.   
De acordo com o inquérito policial, 28 pessoas foram apontadas como responsáveis, entre elas os dois donos da boate, um músico e o produtor da banda, que são denunciadas por homicídio.   
Além disso, quatro bombeiros foram denunciados. Um foi absolvido, dois condenados pela Justiça Militar por expedição de alvará e outro pela Justiça comum por fraude processual. Todos cumprem penas em liberdade.   
Desde o incêndio, a Justiça já recebeu mais de 370 ações com pedidos de indenização familiares de vítimas e sobreviventes da tragédia. Do total, 250 ainda estão em andamento e 20 processos já foram julgados.   
Na madrugada de hoje, diversas pessoas se reuniram na Praça Saldanha Marinho e caminharam até a frente da boate, onde foi realizada uma vigília. Flores, velas e mensagens foram deixadas em frente ao local. (ANSA)
Leia Também:
A Tragédia da Boate Kiss - por Milton Medran Moreira: