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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Abrindo a mente - Maurice Herbert Jones por Alexandre Cardia Machado

 

Abrindo a mente - Maurice Herbert Jones

 

Tive o privilégio de conhecer e principalmente conviver por 2 anos no CCEPA com esta referência no Espiritismo Livre-Pensador. Foram anos ricos de participação duas vezes por semana, nos dias de reunião de estudos e nas reuniões abertas.

Seu Jones como carinhosamente nos referíamos a ele, é aquela pessoa que mesmo discordando da gente, sabia fazer sempre de forma agradável, educada, acolhedor um verdadeiro cavalheiro. Tivemos a oportunidade de viver em Porto Alegre com toda a minha família em 2002 e 2003. Eu nasci naquela cidade de onde saí para morar em Santos em 1984. Voltar a Porto Alegre era uma incógnita, tínhamos a minha família lá que claro nos recebeu de braços abertos, pelo lado profissional também não houve nenhum problema, agora para a Cláudia minha esposa, que deixaria para trás suas atividades profissionais como psicóloga e minhas filhas pré-adolescentes a mudança de estado era um baque.

O calor de nossa família e a enorme e excelente recepção que tivemos no CCEPA, onde já conhecíamos pessoalmente vários de seus componentes foi fundamental para que nos sentíssemos em casa.

Cláudia reativou a mocidade no CCEPA e a coordenou por dois anos com a participação de nossas filhas.

Creio que Cláudia e eu atuamos bastante tanto das reuniões de estudo como nas reuniões abertas onde, claro, ocorriam os maiores debates. Seu Jones capitaneava esta reunião, com toda a sua inteligência e modo de ser que a todos encorajava a explorar mais e aprofundar os estudos e reflexões mais e mais a cada dia.

Maurice Herbert Jones

Jones era casado com a Elba, nosso amigo Jones cuidou dela quase sozinho, não que não pudesse dispor de ajuda, mas por amor e carinho. Elba era uma pessoa encantadora, delicada, em comum comigo, ela também trabalhou na General Electric, ela gostava de contar seus tempos na GE. Ainda sobre a Elba que era um pouco mais nova que minha mãe, coincidentemente tinha uma residência de veraneio na praia do Ipanema em Porto alegre bem perto de minha mãe, na mesma rua. Acho que dona Elba tinha mediunidade, pois me relatou ter visto meu avo Mário algumas vezes sentado na cadeira de balanço no alpendre da casa, que minha avó vendeu após o seu desencarne, coincidências de nossas vidas entrelaçadas.

Em 2019, estivemos Jailson Mendonça – Presidente da CEPA Brasil, Ana sua esposa, Cláudia e eu no CCEPA e esta foi a última vez que estive com o Jones.

O sr. Maurice nos deixa em 20 de junho de 2021, ele assim como Jaci Régis teveram um papel importantíssimo no desenvolvimento deste segmento laico e livre-pensador que hoje fazemos parte. Fica aqui o convite a leitura de sua biografia publicada no site do CPDoc que referencio abaixo.

 Para abrir mais a sua mente: https://www.cpdocespirita.com.br/portal/destaques/personalidades-em-destaque/160-maurice-herbert-jones

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional


sexta-feira, 6 de março de 2020

O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS por Roberto Rufo e Silva

INSTITUTO CULTURAL KARDECISTA DE SANTOS


ROBERTO LUIZ RUFO E SILVA






O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS













SANTOS, SÃO PAULO, BRASIL
2013






ROBERTO LUIZ RUFO E SILVA



O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS








Trabalho elaborado para apresentação no XIII SBPE - Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita organizado pelo Instituto Cultural Kardecista de Santos




SANTOS, SÃO PAULO, BRASIL
2013
RESUMO

A liberdade é uma das grandes conquistas da sociedade moderna. Tem-se por pressuposto que uma pessoa, um povoado, uma cidade e um país só se desenvolvem plenamente se os governos garantirem aos seus cidadãos o exercício pleno da liberdade.
E por liberdade entende-se a capacidade de criar, escrever, falar sem quaisquer amarras,  exercer enfim o livre-arbítrio passando então a sua população a ser identificada como o conjunto de cidadãos livres.  Os regimes totalitários, as ditaduras e as grandes religiões sempre se intitularam como as guardiãs do comportamento de todos os seres humanos. As práticas utilizadas para alcançar seus objetivos foi o de sempre colocar percalços ao longo do caminho da evolução das pessoas. Não raro utilizaram  a tortura como “ método corretivo”  aos recalcitrantes .
O Espiritismo, dito evolucionista, tem a priori a necessidade da utilização do livre-arbítrio dos seres humanos, pois somente isso garantirá o progresso moral e intelectual do planeta em que habitamos. Entendemos que vários perigos se interpõem à doutrina espírita quanto à plena utilização do livre-arbítrio e que devemos nos preparar adequadamente para enfrentá-los.













Sumário


















1 INTRODUÇÃO


Procurei ao longo do meu trabalho, composto basicamente de apenas um capítulo, mostrar a evolução do conceito de liberdade ao longo da história até o seu momento atual, definida como a capacidade de livre escolha, e como o Espiritismo tem tudo a ver com essa necessidade da escolha como condição principal da evolução dos espíritos.  A seguir listo quais os principais perigos que a meu ver o livre-arbítrio terá que enfrentar.
Alguns deles já habitam conosco no dia a dia do movimento espírita, outros podem se introduzir caso não tenhamos a capacidade de identificá-los adequadamente.
Reitero no final que devemos ter esperança na construção de uma sociedade digna, partindo sempre do uso do livre arbítrio como condição primordial .














2 O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS


2.1 O LIVRE-ARBÍTRIO


Segundo o Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano, a Liberdade teria três significados fundamentais, correspondentes a três concepções: a 1ª, segundo a qual a Liberdade é a ausência de condições e  limites; a 2ª, a Liberdade é vista como necessidade, que se baseia no mesmo conceito da 1ª, ou seja, a autodeterminação, mas atribuindo-a à totalidade a que o homem pertence; a 3ª concepção vê a Liberdade como possibilidade ou escolha, sendo então a Liberdade limitada e condicionada. ( 1 )
As duas primeiras, ao longo da história da filosofia estão ligadas a uma ordem cósmica ou divina, à Substância, ao Absoluto, ao Estado . A origem dessas concepções está nos estóicos, para os quais, a Liberdade consiste na autodeterminação e, portanto, só o sábio é livre. Isto porque somente o sábio vive em conformidade com a natureza, só ele se conforma à ordem do mundo , do destino .
Ainda segundo o Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano, enquanto as duas primeiras concepções de Liberdade possuem um núcleo conceitual comum, a terceira concepção não recorre a esse núcleo porque entende a Liberdade como medida da possibilidade, portanto escolha motivada ou condicionada. Nesse sentido a Liberdade é um problema aberto. Livre, nesse sentido não é quem se identifica com o Absoluto, o Estado, mas quem possui uma variável de possibilidades. 
Segundo a Doutrina Espírita, especificamente na sua Lei de Liberdade, o homem não pode vangloriar-se de gozar de absoluta liberdade, porque os seres humanos precisam uns dos outros, limitando dessa forma o uso de uma Liberdade absoluta. Dizem os espíritos "Desde que dois homens estejam juntos, há entre eles direitos a serem respeitados e, portanto, nenhum deles gozará de liberdade absoluta."  Mas  reforçam que sem o livre-arbítrio, o homem seria uma máquina ( 2 ) .
O Espiritismo, portanto, se identifica muito mais com a terceira concepção do que com as outras duas, conceito esse apresentado no Capítulo " Fatalidade " do Livro dos Espíritos onde, apesar de falar na escolha das provas antes de encarnar, a escolha inicial que determinaria um destino ,  reforça que o Espírito conservando o livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de resistir ou ceder às provas morais.
Sucede-se que historicamente o movimento espírita brasileiro trouxe para dentro de si os vírus da anti-liberdade que acabaram por comprometer a capacidade de escolha e decisão dos seus praticantes bem como dos movimentos espíritas regionais pelo Brasil afora.
"A Sociedade aberta e os seus Inimigos" é o nome de um dos livros mais instigantes do filósofo da ciência Karl Raimund Popper, nascido em Viena em 1.902 e falecido em 1.994 , aos 92 anos de idade , em Londres . Karl Popper fundou a teoria da falibilidade do conhecimento. Argumentou que o conhecimento científico não se assenta no chamado método indutivo, mas numa contínua interação entre conjecturas e refutações.
Entre as consequências desta visão progressista do conhecimento encontram-se duas consequências que terão particular importância para a filosofia política e moral de Popper. A primeira é que passa a se adotar o chamado critério de demarcação entre asserções científicas e não científicas: científicas são apenas aquelas que sejam susceptíveis de teste, isto é, de refutação. Algo do tipo "se a ciência demonstrar que estamos errados em algum ponto, nós mudaremos ".
Uma segunda consequência da teoria do conhecimento de Popper está na liberdade de crítica. "A possibilidade de se criticar uma teoria, de submetê-la a teste e de tentar refutá-la é condição indispensável do progresso do conhecimento", afirma Popper.

2.2 O PRIMEIRO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O primeiro inimigo ao livre-arbítrio no Espiritismo oficial surgiu quando se assumiu uma posição claramente avessa a qualquer crítica, já que o Absoluto determinou antecipadamente o certo e o errado.
Diga-se que as ideologias dominantes no século XIX e XX tiveram o mesmo comportamento. Hoje vejo claramente que devemos desconfiar de toda concepção otimista da sociedade baseada nas duas primeiras concepções de Liberdade citadas, pois as injustiças têm um auto grau de aceitação no corolário dessas concepções. Fico com o grande escritor Elias Canetti quando afirma que  a ladainha de uma "astúcia da razão" histórica , capaz de se impor mesmo com a humanidade trabalhando na direção contrária , é um grande embuste ( 3 ) . O mesmo vale para uma razão natural.
O grande pensador espírita Eugênio Lara em seu interessante livro "Breve ensaio sobre o humanismo espírita" nos esclarece que apesar de o Humanismo Espírita ter suas raízes no pensamento iluminista, anteclerical, ele não entra em confronto com o cristianismo, com a Igreja. O autor Eugênio Lara sugere que ao querer interpretar os dogmas e princípios católicos sob a ótica espírita, Allan Kardec trouxe para dentro da Doutrina Espírita o ovo da serpente. Gosto muito quando afirma que o Espiritismo é determinista, mas não é fatalista. E que não há um destino pré-estabelecido bem como não existir fatalidade nos atos da vida moral. ( 4 ) Essa ideia é desenvolvida pelo pensador argentino Manuel Porteiro em uma conferência de 09 de outubro de 1.935 no Teatro Lasalle na Argentina .
Reproduzo aqui o texto completo pela sua beleza e densidade:
A filosofia espírita é determinista, mas não é fatalista, nem no sentido teológico, nem no materialista . No primeiro, porque não admite que as ações humanas nem as causas que as produzam estejam dispostas por Deus para a realização de cada fim individual, e porque este fim não é um limite no qual se encerre a evolução do espírito, nem está fora do ser , nem é oposto à sua essência nem à sua vontade, senão que é dinâmico, indefinido e livre na eleição dos meios e das ações que hão de realizá-lo: é o ser realizando-se a si mesmo no processo sem limites de sua evolução, superando-se nas noções e na prática do bem, da justiça e do amor , desenvolvendo as potencialidades e faculdades de seu espírito, elevando-se a uma maior compreensão de sua personalidade e da natureza no meio da qual se desenvolve. (Manuel Porteiro, 1936)

2.3 O SEGUNDO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O segundo inimigo ao livre-arbítrio agora no ideário espírita , assim como à democracia , é não ficarmos atentos ao crescimento da intolerância religiosa e política. Estou preocupado com o que Fernando Bonassi, autor e ensaísta teatral, chama de criação no mundo contemporâneo de uma "República Fundamentalista Evangélica" no mundo ocidental.  Sua regra de conduta se baseia no ódio, às vezes disfarçado pelo desprezo, ao mundo científico e ao avanço do conhecimento, traduzidos numa intolerância ao Estado Democrático de Direito. Especialmente em se tratando dos neo-pentecostais o perigo é ainda maior, pois ao avançarem suas garras no mundo político formal, levam junto consigo a intolerância, que ganha dimensões de tragédia quando é incrementada aos aparelhos de estado.  Sua força na Câmara Federal (a bancada evangélica) colabora no patrocínio de um ideário de desprezo pela individualidade humana.
Se no movimento espírita a presença física nos cargos políticos é ainda incipiente, o perigo do ideário também ultraconservador é latente.  Basta acompanhar o órgão oficial de imprensa da Federação Espírita Brasileira, a revista "O Reformador", que repete os mesmos jargões/conceitos de 50 anos atrás , como se os grandes movimentos civis da segunda metade do século XX ,  que alteraram as relações sociais, nunca tivessem existido.
 E onde se situa nisso tudo o nosso querido Espiritismo? Jaci Regis, em seu artigo "Palavras de Emmanuel" do Jornal Abertura de Junho/2010, demonstra através da análise do livro "O Consolador" psicografado por Francisco Cândido Xavier e publicado  pela FEB em 1940 ( há setenta anos atrás), o qual traz as opiniões do Espírito Emmanuel , que a palavra desse espírito passou a ser considerada como uma "autorizada versão vertida da Espiritualidade Superior e tornou-se paradigma para o movimento espírita brasileiro" nas mesmas palavras de Jaci Regis . Eu complemento afirmando que é um paradigma  que não pode ser submetido a  testes, pois sua fonte advém de uma profecia superior , logo não passível de progressos oriundos de quaisquer avanços do conhecimento . Nesse ponto a FEB é extraordinariamente coerente com seu desprezo pelas mudanças sociais e morais que as ciências apontam como urgentes para o aperfeiçoamento do comportamento humano.

2.4 O TERCEIRO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O terceiro inimigo ao livre-arbítrio vem da política. Aquela que nas palavras da filósofa Hannah Arendt seria a nossa última garantia de sanidade mental, hoje se transformou num grande negócio.  A frequência constante dos políticos nas páginas policiais é um atestado do perigo que falarei a seguir.  O grande fracasso da distribuição de renda no mundo e da solidariedade política entra as nações, com países importantes relegando durante anos a segundo ou terceiro planos anseios legítimos de outros povos, foi o combustível necessário para o aparecimento, o que parecia impossível nessa altura do campeonato, de um ideário baseado no controle do Estado, das comunicações e do comportamento humano. É o que eu chamo de perigo do reaparecimento de doutrinas totalitárias, com uma nova roupagem, onde até mesmo o uso de estratégias democráticas são utilizadas em causa própria. O Estado total não reconhece limites morais.
Determinados grupos que sairam às ruas, têm desprezo pelas instituições democráticas, aproveitando a fragilidade das mesmas pelo principal motivo que expus acima. A perseguição a veículos da mídia na cobertura dos protestos, com uso sistemático de violência física, demonstra a pouca importância que esses fanáticos têm pela liberdade de imprensa.  Prestemos atenção, pois como disse a escritora Lya Luft estamos em momentos extremamente confusos, perigosos, de vulnerabilidade e indecisão.
Em seu magistral livro "O povo brasileiro"  em sua introdução , o  antropólogo Darcy Ribeiro ( 5 ) escreve :
A estratificação social separa e opõe os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis. Nesse plano, as relações de classe chegam a ser tão infranqueáveis que obliteram toda comunicação propriamente humana entre a massa do povo e a minoria privilegiada, que a vê e a ignora, a trata e a maltrata, a explora e a deplora, como se essa fosse uma conduta natural.
Os espíritos foram muito claros e contundentes ao responder que a desigualdade social é obra dos homens e não de Deus. Mas desafio quem nunca leu a estapafúrdia afirmação que as injustiças sociais são resgates do passado. Por esse tipo de conduta aliado ao desprestigio da política, os " revolucionários " e os " reacionários " estão de volta . Cuidado com eles. O livre-arbítrio nada significa para esse tipo de gente. No desejo de participarmos de movimentos sociais coletivos, devemos analisar muito bem o conteúdo desses grupos antes de entregarmos solenemente a nossa liberdade.
O engajamento entusiasmado costuma dar em grandes decepções. Os intelectuais fascistas e socialistas são pródigos em dar cria a grandes monstros.
Nas palavras do filósofo Czeslaw Milosz, Prêmio Nobel de Literatura de 1.980 , em seu livro Mente Cativa , " pertencer às massas é a grande força motriz do intelectual engajado " . 

2.5 O QUARTO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O quarto inimigo do livre-arbítrio que listo agora é o da " civilização do espetáculo " , a cultura da celebridade , a adoração das novidades tecnológicas , onde o conhecimento que induz a valores não tem mais significado . Cultura passou a ser diversão. O que não é divertido não é cultura. O capitalismo está passando por uma grave crise justamente por aceitar como único valor existente aquele fixado pelo mercado. É espantosa a generalização da frivolidade, a proliferação do jornalismo de fofocas e de escândalos.
Sinto-me um ser à parte da humanidade quando vou ao cinema com minha esposa, em espaços alternativos, para assistir a um filme denominado " de arte " , ou seja , filmes que tratam das relações humanas e seus valores . Duram no máximo duas a três semanas no circuito cinematográfico. Quando entrei para a Mocidade Espírita Estudantes da Verdade em Santos no ano de 1.978, que maravilha de ambiente cultural encontrei naquela casa e naqueles jovens, assim como eu. Cinema, teatro e televisão eram fontes de cultura, saber e conhecimento do ser humano . Muitos tabus e preconceitos foram ultrapassados com esse conhecimento. Até mesmo na criação de argumentos contra a ditadura militar que vigia na época.
Porque o salto pra trás?  Onde estavam os intelectuais americanos que permitiram vários governos Bush ( pai e filho ) com seu atraso intelectual e moral ? Porque os intelectuais espíritas não perceberam esse fenômeno do aviltamento da cultura e se prepararam adequadamente para suprir as pessoas de subsídios para o seu dia a dia? E a tão famosa frase de que o progresso intelectual engendra o progresso moral, onde fica?
Para os intelectuais de porte mundial há uma explicação dada pelo escritor Mário Vargas Llosa ( 6 ):
 O que levou ao apoucamento e à volatilização do intelectual em nosso  tempo? Uma razão que deve ser considerada é o descrédito em que várias gerações de intelectuais incidiram em virtude de suas simpatias  pelos totalitarismos nazista , soviético e maoísta, bem como de seu silêncio e cegueira diante de horrores como o Holocausto , o Gulag soviético e os massacres da Revolução Cultural chinesa. (2012)
Sugiro a leitura do livro " Por uma esquerda sem futuro " de Timothy James Clark , que ao tratar da crise da modernidade , faz uma pergunta que repasso a todos : " Será que ainda temos à mão os materiais com as quais se constitui uma sociedade digna do nome " ? ( 7 )  Ao responder à pergunta 766 os espíritos de uma outra forma respondem qual o caminho para a busca dos materiais que fazem uma sociedade participativa . Afirma que Deus nos deu a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação. Dizem que os homens devem concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente. T.J.Clark ainda tem esperança quando diz que os " os elementos de uma nova linguagem possam de fato ser encontrados no espetáculo de uma política engessada, de uma economia impiedosa e de um entusiasmo generalizado ( como sempre ) pela mais recente e estúpida novidade tecnológica " .
Finalizo com as palavras  do genial Eugênio Lara no Prólogo ao seu citado livro : " O Espiritismo afasta-se radicalmente do dogmatismo cristão , do religiosismo , do pensamento mágico , da visão teológica do Ser e integra-se ao laicismo, alinha-se à ciência , sobretudo porque ele possui uma natureza humanista, portanto laica e secular " .( 8 ) .
Parece fácil, mas o caminho pela frente é muito árduo e cheio de perigos . A capacidade de organização dos viciados em religião e ideologias não deve ser menosprezada. No entanto , acredito nas palavras do poeta irlandês Seamus Heaney : " virá um dia em que a esperança irá rimar com história " .

















3 CONCLUSÃO


O Espiritismo só sobreviverá como ideia capaz de participar das decisões importantes da humanidade quando for capaz de construir um ideário e um comportamento isentos de preconceitos.  Para isso o livre-arbítrio é a ferramenta mais importante do seu conjunto doutrinário. Sem ele, ficaremos como as demais correntes espiritualistas que repetem sem cessar as mesmas ladainhas conservadoras. O pior corolário disso é a incapacidade de se abrir ao novo, mudar o comportamento, compreender melhor os seres humanos e com isso evoluir.
Infelizmente acredito que corremos o risco atualmente de nos transformarmos em mais uma religião, que para se defender da acusação de retrógrada, imobilizada, repete as palavras de Salomão de que não há nada de novo debaixo do sol.

             












REFERÊNCIAS


( 1 ) Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano - 6ª edição 2012 - Martins Fontes .
( 2 ) O Livro dos Espíritos - 1ª Edição comemorativa do Sesquicentenário - 2007 - FEB .
( 3 )  Livro Auto de Fé - Elias Canetti - 2ª edição 2011 - COSACNAIFY .
( 4 )  Breve ensaio sobre o humanismo espírita - Eugênio Lara -  1ª edição 2012 - CPDoc - Centro de Pesquisa e Documentação Espírita .
( 5 )  O Povo Brasileiro - Darcy Ribeiro - 12ª edição - Companhia de Bolso .
( 6 )  A Civilização do Espetáculo - Maria Vargas Llosa - 1ª edição 2012 - Editora Objetiva Ltda .
( 7 )  Por uma esquerda sem rumo - T.J.Clark - 1ª edição 2013 - Editora 34 .
( 8 )  Breve ensaio sobre o humanismo 

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Livro - Novo Pensar Sobre Deus, Homem e Mundo: Livro de Jaci Régis


Livro - Novo Pensar Sobre  Deus, Homem e Mundo:

Em 2009 no 11° Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, Jaci Régis apresentou e lançou, aquele que seria seu último livro.



Em 2013 o grupo de estudos do ICKS que desenvolveu um trabalho chamado: Exposição – SBPE 26 anos abrindo espaço para novas idieas - sobre o impacto do SBPE no Movimento Espirita. Neste evento escrevemos em nosso trabalho o seguinte: “ Como reconhecimento especial e também como uma homenagem, destacamos os trabalhos de Jaci Régis o criador do SBPE, pelo brilhantismo, inovação das ideias e pela incansável persistência no trabalho de renovação e grande amor ao Espiritismo”. Jaci Régis teve a sua desencarnação no dia13 de Dezembro de 2010.

Novo Pensar Sobre  Deus, Homem e Mundo:

Este livro que trata de pontos tão sensíveis aos seres humanos, nas palavras do autor extraída do primeiro capítulo assim discorre: “  Um novo pensar sobre Deus começará por deixar de lado o Deus Jeová, as afirmativas bíblicas e, de modo geral, as teorias  que fazem dele uma pessoa.
As palavras do louco de Nietzsche sobre a morte de Deus não devem ser tomadas como blasfêmia mas como a exclamação maior da decepção com o amor de Deus.

Este livro também está disponível em pdf, grátis:


O Deus que Nietzsche matou é esse criado à semelhança das pessoas e cultuado, imposto pelas teologias de todos os tempos.

Isso não significa  a completa e satisfatória resolução da questão divina. Nem elimina a crença em Deus.

O que colocar em nossa mente a respeito de Deus. em substituição ao modelo rejeitado? É difícil fugir da realidade sensorial. Quando pensamos criamos imagens. Atendendo a essa necessidade do ser humano, todas as crenças criaram imagens concretas dos entes invisíveis.

Pensamos em Deus como “alguém”. Mas um “alguém” transcendendo o  delineamento corporal que nos dá o sentido das coisas. Deus continua invisível. O silêncio é a resposta das preces e imprecações. Há até um ditado “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Daí a dificuldade de pensar num Deus sem face, sem corpo, sem imagem.

Mas Deus é o que é, não o que queremos que seja.

Isso nos autoriza a pensar em Deus sem imagem, limitações e sem ser uma pessoa.
O que seria então?

Não temos como saber, atualmente.

Todavia, a sua presença se faz na visão macro da vida, no encaminhamento através do tempo, que resulta invariavelmente no benefício da pessoa. Tudo começa no nível microscópico  num desenrolar dinâmico, atemporal dos elementos envolvidos para surgir, depois, um corpo, um animal, um primata, um homem, como conseqüência da seleção das espécies, da sobrevivência dos modelos mais resistentes transmitindo DNA que cria a cadeia genética.

O novo pensar vê nesse extraordinário poder de  desenvolvimento seqüencial dos seres a presença da inteligência divina. Na semente, como no embrião, existem códigos perfeitos que no ambiente adequado produzem a árvore e os frutos, o feto, a criança, a pessoa humana.

Assim como a ciência não sabe como esses fatores começaram a interagir, assim também não sabemos como a inteligência divina intervém para  dotar a natureza de princípios básicos, genéticos, que redundaram no panorama atual da Terra.

Entretanto, o novo pensar sobre Deus refaz o entendimento da relação divina com o ser humano.
Liberta-nos das cadeias de pecado, punição, morte e castigo que definem o Deus Jeová travestido no Deus cristão de amor, misericórdia e justiça.

O crente pergunta, onde está o Deus onipotente que não atua para eliminar o mal, punir os que praticam crimes e não salva e cura livrando-nos da morte?

A decepção provém do que se fala e diz sobre o amor de Deus.

A natureza não é lírica, mas objetiva, eficiente. Todavia não é perfeita. Esse paradoxo  precisa ser entendido:  a imperfeição dentro da perfeição.

Ou seja,  a perfeição absoluta atribuída à divindade comporta a imperfeição dinâmica dos processos evolutivos.

Um novo pensar sobre Deus nos conduz à compreensão de que a dinâmica da vida, em qualquer dos setores em que se manifesta, prima pela criação de  ambientes de oportunidade, seleção e superação.
Podemos questionar porque as coisas são assim. Todavia elas são assim.

O novo pensar sobre Deus pensa que o objetivo da vida é a felicidade.

A inteligência divina proporciona meios para isso, no tempo, através da lei da evolução.

A singularidade individual se envolve no processo para adquirir a sua própria identidade como ser único, imortal, progressivo, atemporal. O novo pensar sobre Deus tenta harmonizar a presença divina com  as necessidades do ser humano, oferecendo um conjunto de leis e sistemas vivenciais que abrem oportunidade de resolução dos problemas.

Dar atributos morais a Deus e sua transformação numa pessoa é fruto da criação da divindade à nossa imagem. Neste modelo não existe espaço para a personalização do Ser Supremo, nem cabe o estabelecimento de atributos, que o humanizariam, porque o paradigma disponível para pensar as virtudes é o humano.

O novo pensar começará por estabelecer que o universo não é estruturado, mas delineado. Seria, metaforicamente talvez, uma projeção da intenção divina, inteligência suprema e causa primária, centro ordenador e controlador, manifestado através da Lei Natural. Porque onde há Lei existe necessariamente controle.

A Lei Divina ou Natural está na base do universo, regulando a vida. Ela exprime a sabedoria divina na condução da humanidade, só apreciada ao longo do tempo.

A Lei divina ou natural, não cogita de julgar, condenar. Ou seja, Lei Natural não é uma lei moral. Ela controla a vida universal estabelecendo uma diretriz positiva que sobrevive e se impõe no aparente caos e nos limites do livre arbítrio.

E a Lei Natural está inscrita no Espírito através do processo evolutivo.

A existência da Lei Natural como centro irradiador do pensamento divino, é fundamental para compreender como o universo pode ser simultaneamente controlador e caótico. Para argumentar sobre essa polarização, poderíamos  aplicar a definição do elétron que pode ser substância e onda, sem alterar a estabilidade universal.

A Lei Natural exprime a sabedoria divina, com mecanismos extremamente competentes, estabelecendo o ritmo e a sucessão dos fatores com o fim de equacionar, no universo energético, tanto quanto no universo inteligente, o princípio do equilíbrio. Atuando através da lei de causa e efeito ou ação e reação, ferramenta de busca do equilíbrio, pela reciprocidade dos fatores.

Reside no campo moral, no campo das inteligências menores que somos nós, nos nossos anseios e esperanças, medos e expectativas, o principal problema.

Quem somos e porque somos. Eis a questão.


Se você se interessou e quiser saber o final desta reflexão poderá ler o trabalho completo. O nosso estoque está acabando, temos somente  15 unidades do livro  NOVO PENSAR SOBRE DEUS, H0MEM E O MUNDO de Jaci Régis. Para adquirir o livro diretamente com o ICKS., compre aqui mesmo, basta enviar um email para ickardecista1@terra.com.br com os os seus dados que entreremos em contato. Você poderá depositar R$ 20,00 na conta do Instituto. O ICKS se encarregará do frete.






segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Politica e Fé não se misturam - Carolina Regis di Lucia e Reinaldo di Lucia


Politica e Fé não se misturam

Há duas décadas, também em período eleitoral, um grande companheiro de Espiritismo lançava-se no cenário politico local. Eu estava na Mocidade e acompanhava o apoio de todos à sua empreitada, certos de que era uma opção acertada e ética a votar. Até que comecei a ver santinhos do candidato no mural do centro e uma discussão sobre trazê-lo para falar aos jovens em uma de nossas reuniões... Aquilo me pareceu estranho, de certo modo até errado, mas, com a maturidade em formação na época, não sabia elaborar perfeitamente o que sentia. Lembro que havia recém convidado duas amigas não espiritas para frequentar o grupo e receava o que elas iriam pensar, vendo uma casa para estudo da Doutrina, estar claramente apoiando, divulgando e incentivando o voto em um candidato interno. Quando da votação sobre trazê-lo ou não para o grupo, fui a única contrária, expondo que não achava correto propaganda politica dentro do centro, de quem quer que fosse. Algumas pessoas ficaram chocadas com meu posicionamento, afinal, era diretor da casa, de moral inquestionável, que faria a diferença na política da região. Outros não entendiam o porquê da casa não poder apoiar um candidato conhecido. Porém, apesar de ser minoria, meus questionamentos foram incômodos o suficiente para que os santinhos saíssem dos murais e o evento não acontecesse. Em tempo, o candidato não alcançou os votos necessários e jurou que nunca mais se meteria com política – desgostoso do que encontrou nos bastidores eleitorais.

Vinte anos após esse episódio, já tenho alguma bagagem a mais para poder afirmar que política e fé não devem se misturar oficialmente. Haja vista o caos social desta eleição: nas redes sociais, mesas de bar, nos almoços e encontros de trabalho e nas manifestações populares são observadas toda a imaturidade do brasileiro em, não apenas discutir política – assunto que absolutamente não dominamos - , mas no direito básico e intrínseco do outro em pensar diferente. Parentes, amigos antigos, colegas e completos desconhecidos, com a tradicional paixão latino americana, se agridem, se humilham, cortam relações pelo simples fato de não aceitarem a escolha eleitoral do outro.
Aceitemos: o brasileiro ainda é analfabeto politico. Sequer entende o próprio sistema de governo, escolhe o candidato por frases e ideias soltas, como se fossem personagens de vídeo game com poderes ilimitados para salvar um país afundado por anos e anos de.... analfabestimo político. A mistura deste campo, ao campo da fé é uma combinação inevitavelmente explosiva e nociva. Exemplos claros são as bancadas já constituídas parlamentares-religiosas, exemplos fanáticos e opressores de voto vicioso de seus fiéis, impedidos de poderem exercer a livre escolha dos candidatos oprimidas pelo argumento religioso.

E as maiores decepções desta eleição, repleta de episódios desagradáveis, foram os manifestos Espíritas e, pasmem, auto intituladas Livre Pensadores, contrários a este ou aquele determinado partido. Chegou-se ao auge da alucinação em afirmar que Espíritas, principalmente os Livre Pensadores, não deveriam votar em X candidato, por motivos Espíritas. Que contraditória a afirmação que um livre pensador de Kardec, por ser livre pensador de Kardec, não deveria votar em X candidato... A que ponto paradoxal a cegueira causada pela imaturidade Espirito-Politica chegou?

Em nossas ultimas filosofias, batemos na mesma tecla de que o Espírita deve vivenciar a Doutrina, não apenas a estudar. Os atos diários, a pratica, o lidar com o outro nas questões sociais são os fatores determinantes da Espiritualidade de alguém, não apenas o que ele lê, o que prega nas palestras, o cargo que ocupa nas casas. E esta eleição expos claramente o hiato existente entre o Filósofo Espirita (profundo conhecedor da doutrina) e o Praticante Espírita (que transpira seus valores éticos em suas ações). O Espírita, assim como qualquer cidadão, tem o direito de votar em quem ele acredita ser o melhor representante de suas ideias para governar a sociedade em que ele está inserido. Se, avaliando as argumentações do candidato, ele como eleitor acredita que se aproximem do que a Ética Espírita propõe, que vote em quem escolher.

Minha maior preocupação é que, talvez, o despreparo histórico para a política impeça esse eleitor Espirita de fazer essa ponte avaliatória entre a ética Espírita e a ética Politica proposta por esse ou aquele partido/candidato. Em geral, as avaliações são feitas isoladamente, olhando em separado, o cenário político, do cenário Espirita. Não há o cruzamento da Ética Espírita com as propostas dos futuros governantes a ponto de realmente embasar a escolha com um arcabouço de valores daquele individuo, escolhendo os políticos que irão governar a todos ao seu redor.
E essa escolha final deve ser particular, individual, fora dos bancos das casas Espiritas. Pelo simples fato de que não temos maturidade para lidar com ambas as questões ao mesmo tempo. E, ainda que tivéssemos, teríamos que ter, sobretudo, alteridade o suficiente, responsabilidade o suficiente e discernimento o suficiente para sair do centro sabendo que, ainda que a maioria julgue tal candidato ou partido melhor, eu posso escolher qualquer outro, sem prejuízo das amizades, sem julgamento moral, sem perder o vinculo com o grupo. Jovens políticos que somos não temos essa capacidade ainda.

 publicado no jornal ABERTURA em outubro de 2018

terça-feira, 19 de junho de 2018

Quem sabe faz a hora - por Roberto Rufo


Quem sabe faz a hora .

" A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar ". (Martin Luther King) .

  " A desigualdade das condições sociais é uma lei natural? pergunta 806 do Livro dos Espíritos .
Resposta dos Espíritos - Não ; é obra do homem e não de Deus " .


                                          No dia 04 de Abril de 1.968 em Memphis , estado do Tennessee , EUA,  era assassinado o Pastor Martin Luther King, líder da campanha pelos diretos civis dos negros nos EUA. Está fazendo portanto 50 anos do seu trágico desaparecimento . A situação dos negros nos EUA melhorou desde então , ou a luta do Pastor King foi infrutífera ? É óbvio que o quadro de desigualdade permanece , mas seria leviano afirmar que tudo continua igual desde então . Bastam três  exemplos : 

 - A 20 de Janeiro de 2001, Colin Powell ( negro ) torna-se Secretário de Estado dos Estados Unidos e um elemento chave no governo de George W. Bush na luta contra o terrorismo, especialmente após os atentados de 11 de Setembro de 2001 .

 - Condoleezza Rice ( negra ) ,  cientista política e diplomata estadunidense foi a 66ª Secretária de Estado dos EUA, servindo na administração do presidente George W. Bush entre 2005 e 2009 .

3 º  - Barack Hussein Obama II ,  advogado e político norte-americano que serviu como o 44.º presidente dos Estados Unidos de 2009 a 2017, sendo o primeiro afro-americano a ocupar o cargo.

No Brasil nem passamos perto de ofertar cargos tão importantes ao nosso povo negro, e não foi por falta de quadro capacitado , bastando citar o ilustre Professor Milton Almeida dos Santos ,  geógrafo brasileiro premiado internacionalmente. Graduado em Direito, Milton Santos destacou-se por seus trabalhos em diversas áreas da geografia, em especial nos estudos de urbanização do Terceiro Mundo.  Outro destaque  , o premiado professor Abdias do Nascimento que foi poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras.

Infelizmente ainda existem espíritos que talvez por serem oriundos de mundos primitivos estão pregando doutrinas como a supremacia dos brancos nos EUA . Uma reportagem da jornalista Cláudia Trevisan a respeito dos extremistas nos diz que Percy tem pouco mais de 20 anos mas sonha com a criação de um Estado de brancos que professem os ideais da " alt-right " , termo que tenta dar uma nova roupagem a extremistas de direita americanos.

Andrew Murphy , 33 anos , participou da " marcha da unidade " , realizada no dia 12 de agosto de 2017 por supremacistas brancos em Charlottesville , Estado da Virginia , EUA . São jovens com ideias muito ultrapassadas . Sucede-se que hoje em dia , felizmente , a sociedade está muito mais preparada para enfrentar questões que envolvem preconceitos de toda ordem . Foram conquistas sociais que se transformaram em seguida em conquistas morais .

No seu comentário à pergunta 793 ( Lei do Progresso ) o Mestre Allan Kardec nos ensina que a " civilização tem seus graus, como todas as coisas . Uma civilização incompleta é um estado de transição que engendra males especiais " . O maior cuidado que devemos ter quanto à nossa imperfeição refere-se ao comportamento que por ventura possamos assumir em detrimento ao que professávamos como ideal . Nunca me esqueço que tempos depois da conquista do poder na África do Sul , líderes negros  mudaram-se para os excelentes bairros e ótimas casas onde viviam os brancos e seus filhos passaram a frequentar escolas particulares . O bairro pobre de Soweto passou a ser apenas um quadro na parede . Nesse particular a polêmica e recém falecida Winnie Mandela soube manter as aparências .

O mesmo fenômeno ocorreu nos EUA depois da conquista dos direitos civis pelos negros nos estados do sul americanos . Inconformados com a proibição da segregação nas escolas públicas , muitos brancos transferiram seus filhos para escolas particulares . Afinal as crianças negras não possuíam os mesmos " valores " dos seus filhos . Continua o Mestre Kardec que " civilizado ,  na verdadeira acepção do termo , é somente aquele povo onde se encontra menos egoísmo e menos orgulho ; onde os hábitos sejam mais intelectuais e morais que materiais e onde os preconceitos de casta e de nascimento estejam menos enraizados " . 

Finalizo com um presente a todos - em nosso blog - . Para quem não nunca leu, homenageio o grande Martin Luther King nesses 50 anos da sua desencarnação , reproduzindo o seu famoso discurso " Eu tenho um sonho " . É de arrepiar!

I have a dream:
                                                                                  
“Estou feliz por estar hoje com vocês num evento que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nosso país.

Há cem anos, um grande americano, sob cuja simbólica sombra nos encontramos, assinou a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um grande raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para pôr fim à longa noite de cativeiro.

Mas, cem anos mais tarde, devemos encarar a trágica realidade de que o negro ainda não é livre. Cem anos mais tarde, a vida do negro está ainda infelizmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação.

Cem anos mais tarde, o negro ainda vive numa ilha isolada de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o negro ainda definha nas margens da sociedade americana estando exilado em sua própria terra. Por isso, encontramo-nos aqui hoje para dramatizar essa terrível condição.

De certo modo, viemos à capital do nosso país para descontar um cheque. Quando os arquitetos da nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam a assinar uma nota promissória da qual todo americano seria herdeiro. Essa nota foi uma promessa de que todos os homens teriam garantia aos direitos inalienáveis de “vida, liberdade e à procura de felicidade”.

É óbvio que a América de hoje ainda não pagou essa nota promissória no que concerne aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar esse compromisso sagrado, a América entregou ao povo negro um cheque inválido devolvido com a seguinte inscrição: “Saldo insuficiente”.

Porém recusamo-nos a acreditar que o banco da justiça abriu falência. Recusamo-nos a acreditar que não haja dinheiro suficiente nos grandes cofres de oportunidade desse país. Então viemos para descontar esse cheque, um cheque que nos dará à vista as riquezas da liberdade e a segurança da justiça.

Viemos também para este lugar sagrado para lembrar à América da clara urgência do agora. Não é hora de se dar ao luxo de procrastinar ou de tomar o remédio tranquilizante do gradualismo. Agora é tempo de tornar reais as promessas da democracia.

Agora é hora de sair do vale escuro e desolado da segregação para o caminho iluminado da justiça racial. Agora é hora [aplausos] de retirar a nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a sólida rocha da fraternidade. Agora é hora de transformar a justiça em realidade para todos os filhos de Deus.

Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência desse momento. Esse verão sufocante da insatisfação legítima do negro não passará até que chegue o revigorante outono da liberdade e igualdade. Mil novecentos e sessenta e três não é um fim, mas um começo. E aqueles que creem que o negro só precisava desabafar e que agora ficará sossegado, acordarão sobressaltados se o país voltar ao ritmo normal.


Não haverá nem descanso nem tranquilidade na América até o negro adquirir seus direitos como cidadão. Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir os alicerces do nosso país até que o resplandecente dia da justiça desponte.

Há algo, porém, que devo dizer a meu povo, que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça: no processo de ganhar o nosso legítimo lugar não devemos ser culpados de atos errados. Não tentemos satisfazer a sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio. Devemos sempre conduzir nossa luta no nível elevado da dignidade e disciplina.

Não devemos deixar que o nosso protesto criativo se degenere na violência física. Repetidas vezes, teremos que nos erguer às alturas majestosas para encontrar a força física com a força da alma.

Esta nova militância maravilhosa que engolfou a comunidade negra não nos deve levar a desconfiar de todas as pessoas brancas, pois muitos dos irmãos brancos, como se vê pela presença deles aqui, hoje, estão conscientes de que seus destinos estão ligados ao nosso destino.

E estão conscientes de que sua liberdade está intrinsicamente ligada à nossa liberdade. Não podemos caminhar sozinhos. À medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de marcharmos em frente. Não podemos retroceder.

Há quem pergunte aos defensores dos direitos civis: “Quando é que ficarão satisfeitos?” Não estaremos satisfeitos enquanto o negro for vítima dos indescritíveis horrores da brutalidade policial. Jamais poderemos estar satisfeitos enquanto os nossos corpos, cansados com as fadigas da viagem, não conseguirem ter acesso aos hotéis de beira de estrada e das cidades.

Não poderemos estar satisfeitos enquanto a mobilidade básica do negro for passar de um gueto pequeno para um maior. Não podemos estar satisfeitos enquanto nossas crianças forem destituídas de sua individualidade e privadas de sua dignidade por placas onde se lê “somente para brancos”.

Não poderemos estar satisfeitos enquanto um negro no Mississippi não puder votar e um negro em Nova Iorque achar que não há nada pelo qual valha a pena votar. Não, não, não estamos satisfeitos e só estaremos satisfeitos quando “a justiça correr como a água e a retidão como uma poderosa corrente”.

Eu sei muito bem que alguns de vocês chegaram aqui após muitas dificuldades e tribulações. Alguns de vocês acabaram de sair de pequenas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de áreas onde a sua procura de liberdade lhes deixou marcas provocadas pelas tempestades de perseguição e pelos ventos da brutalidade policial.

Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que um sofrimento injusto é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Luisiana, voltem para as favelas e guetos das nossas modernas cidades, sabendo que, de alguma forma, essa situação pode e será alterada. Não nos embrenhemos no vale do desespero.

Digo-lhes hoje, meus amigos, que, apesar das dificuldades e frustrações do momento, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: “Consideramos essas verdades como auto-evidentes que todos os homens são criados iguais.”

Eu tenho um sonho que um dia, nas montanhas rubras da Geórgia, os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes de donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia mesmo o estado do Mississippi, um estado desértico sufocado pelo calor da injustiça, e sufocado pelo calor da opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje.

Eu tenho um sonho que um dia o estado do Alabama, com seus racistas cruéis, cujo governador cospe palavras de “interposição” e “anulação”, um dia bem lá no Alabama meninos negros e meninas negras possam dar-se as mãos com meninos brancos e meninas brancas, como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje.

Eu tenho um sonho que um dia “todos os vales serão elevados, todas as montanhas e encostas serão niveladas; os lugares mais acidentados se tornarão planícies e os lugares tortuosos se tornarão retos e a glória do Senhor será revelada e todos os seres a verão conjuntamente”.

Essa é a nossa esperança. Essa é a fé com a qual eu regresso ao Sul. Com essa fé nós poderemos esculpir na montanha do desespero uma pedra de esperança. Com essa fé poderemos transformar as dissonantes discórdias do nosso país em uma linda sinfonia de fraternidade.

Com essa fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ser presos juntos, defender a liberdade juntos, sabendo que um dia haveremos de ser livres. Esse será o dia, esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado:

Meu país é teu, doce terra da liberdade, de ti eu canto.
Terra onde morreram meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, que de cada lado das montanhas ressoe a liberdade!

E se a América quiser ser uma grande nação, isso tem que se tornar realidade.

E que a liberdade ressoe então do topo das montanhas mais prodigiosas de Nova Hampshire.

Que a liberdade ressoe das poderosas montanhas de Nova Iorque.

Que a liberdade ressoe das elevadas montanhas Allegheny da Pensilvânia.

Que a liberdade ressoe dos cumes cobertos de neve das montanhas Rochosas do Colorado.

Que a liberdade ressoe dos picos curvos da Califórnia.

Mas não só isso; que a liberdade ressoe da montanha Stone da Geórgia.

Que a liberdade ressoe da montanha Lookout do Tennessee.

Que a liberdade ressoe de cada montanha e de cada pequena elevação do Mississippi. Que de cada encosta a liberdade ressoe.

E quando isso acontecer, quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada lugar, de cada estado e cada cidade, seremos capazes de fazer chegar mais rápido o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar as palavras da antiga canção espiritual negra:

Finalmente livres! Finalmente livres!

Graças a Deus Todo Poderoso, somos livres, finalmente."

 Martin Luther King