segunda-feira, 7 de maio de 2018

A verdade ilusória - por Alexandre Cardia Machado


A verdade ilusória - por Alexandre Cardia Machado

No mundo em que vivemos, onde somos bombardeados por todos os lados por fatos e versões, fica cada vez mais difícil diferenciar o que é verdade do que é informação enganosa (fake news).

Talvez o maior problema esteja relacionado à forma como imaginamos que a verdade seja, me explicando, idealizamos que exista uma e só uma verdade e que ela seja absoluta. Isto está no imaginário coletivo, impulsionado pelas religiões e milênios de tradição oral.

Trabalhamos  constantemente em resolução de problemas técnicos há pelo menos 8 anos. Realizamos análise de falhas e investigação de acidentes e posso afirmar: as coisas nunca são da maneira que uma pessoa relata ou imagina que passou, falhas, problemas, acidentes acontecem sempre onde multiplos fatores agem em conjunto.

Destes anos de investigação de acidentes, posso declarar quatro pontos fundamentais:

1.       Causa e efeito são a mesma coisa.
2.       Causa e efeito são parte de um contínuo infinito.
3.       Cada efeito tem pelo menos duas causas , quando não muito mais.
4.       Um efeito só acontece se suas causas existem no mesmo tempo e espaço.

No espiritismo estamos acostumados com esta questão de um contínuo infinito, até chegarmos ao ponto ontológico de que Deus é a causa primeira, mas esqueçamos isto um pouco e nos foquemos na forma como enxergamos as coisas.

Talvez o ponto que mais possa causar espanto é a afirmação de que causa e efeito são a mesma coisa, a explicação é simples: para sabermos se algo é causa ou consequência devemos perguntar por que? Sempre haverão duas respostas pelo menos, que serão duas causas, se perguntarmos mais uma vez a cada causa encontrada, haverão também pelo menos duas causas e assim por diante, ou seja a causa de um foi o efeito de outra causa.

Este Artigo foi publicado no jornal Abertura de abril de 2018 - disponível online no link abaixo:



Um exemplo bem claro: alguém foi ferido a bala: causa1 – condição existência de uma arma carregada, causa 2: alguém puxou o gatilho, as duas coisas precisam acontecer no mesmo tempo, um a condição ( arma carregada) e segundo a ação ( apertar o gatilho); Para entender o que aconteceu, precisamos perguntar novamente, por que a arma estava carregada (causa 3), por que alguém puxou o gatilho (causa 4). Uma vez respondido, vemos que a arma carregada é o efeito da causa 3 e assim por diante.

Todos nós vemos os fatos e as outras pessoas através de um filtro, filtro este criado através de longas existências, na nossa bagagem espiritual, a cada encarnação, temos a oportunidade de refinar este filtro, mas nossas idiossíncrasias estão aqui, nos acompanhando, no nosso caso, estão dando o contorno ao que estamos escrevendo. É parte do que somos. Temos a tendência de classificarmos as coisas que vemos em bem e mal, mais um exemplo: a leoa mata a gazela, pensamos a leoa é má, mas se observarmos a leoa irá alimentar a sua prole, para os leãozinhos a leoa é boa, pensem nisto.
Uma rede de televisão repete sempre uma frase “ a realidade (mostrada num documentário) é sempre um recorte, um filme não é uma vida é um retrato”. O testemunho de uma pessoa, com todo o valor que ele tem , é uma observação um recorte da realidade. Nem sempre esta observação é objetiva, os relatos em geral não se atem ao fato. São vistos sob uma lente própria e sob um ponto de vista pessoal.

É sempre útil e aconselhável seguirmos a tradição dos bons jornalístas, já que nos dias de hoje, todos nós temos o poder de divulgar rapidamente uma informação mas não agimos como jornalistas. Precisamos verificar se uma notícia que nos chega pode ser encontrada, comparada em várias fontes, antes de darmos uma opinião, para que nossa opinião seja a mais independente possível, com o menor viés opinatório possível.

Sendo então o acima afirmado uma teoria aceitável, como saber como agir, como inerpretar as informações que nos chegam? Primeiro é aceitar que a vida é assim mesmo e escolhermos o caminho do equilíbrio, ter mais dúvidas que certezas, pois a certeza cega e a dúvida nos faz pensar.
Em investigações, como por exemplo, acidentes de aviões, os investigadores levam em consideração todos os potenciais causadores de um resultado igual à queda do avião, analisam todos os testemunhos e dados disponíveis e uma vez que uma teoria é desenvolvida, testam a mesma em simuladores, para só então determinar as causas do acidente. Os investigadores não escrevem, no primeiro momento qual foi a causa, quem foi o culpado, primeiro é preciso entender o que aconteceu.
No nosso dia a dia, não fazemos isto, escutamos uma versão e se ela é simpática (bate com o que pensamos) em geral a adotamos. Com o advento das redes socias, muitas vezes replicamos, enviamos aos nossos amigos, tudo isto sem parar para pensar muito.

O que aconteceu nos EUA com o Facebook e a empresa de consultoria inglesa Cambridge Analythics, entra nesta conta, em uma eleição acirrada, só é preciso convencer alguns indecisos para vencer a eleição. O marketing explora os nossos gostos, hábitos, curiosidades, todas eles armazenadas nestas midias, e tentam nos convencer ou nos direcionar, mandam notícias boas daqueles que eles ajudam e ruíns dos que estão contra.

Portanto tenhamos atenção e  crítica sempre!


Alexandre Cardia Machado

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