segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Papel do Perispírito na Gestação de Jaci Régis

Papel do Perispírito na Gestação

Jaci Régis

 (publicado no Caderno Cultural Espírita/outubro 2002)

                              Uma das contribuições do Espiritismo na tentativa de compreender o complexo físico-espiritual, que é o ser humano, foi a descoberta do perispírito. Envoltório do Espírito, ele acrescenta ao ser humano uma nova dimensão, passando este ser formado de Espírito, perispírito e corpo.



                              As especulações sobre o objeto da existência terrena, levou a considerações teológicas sobre a encarnação do Espírito, considerada situação pelo menos constrangedora para o ser. Daí a considerar-se o organismo como obstáculo, um empecilho à sua livre manifestação.
                              Diante da inexistencia de um conhecimento mais amplo sobre a natureza do organismo e dos processos genéticos, aliado ao conceito da prevalência do elemento espiritual sobre o físico, houve a tendência tornar o corpo humano mera expressão do Espírito.
                              A existência do perispírito, ainda que sem maiores detalhes de sua constituição, criou a perspectiva de que ele tinha funções de modelagem e consistência das estruturas moleculares. Muitos teóricos espíritas viram nesse corpo energetico, a matriz biológica do organismo, considerando que o perispírito seria uma espécie de molde pré-existente, fruto da elaboração evolutiva e das necessidades afetivas do reencarnante, ao qual as células iriam aglutinar-se, de modo a compor um tipo específico, respeitados os princípios básico da herança dos pais.
                              Os avanços da genética tem descortinado outro horizonte. O próprio Livro dos Espíritos, embora enfatizando a prevalência do Espírito no conjunto, jamais menosprezou a importância do organismo. Chega a afirmar que o desenvolvimento do feto, no seio materno, independia da existência do Espírito. Indica, conforme a questão 356, que pode haver todo o processo procriativo sem que haja um Espírito em reencarnação, nascendo, todavia, o feto morto.
                              Vivemos um tempo em que as pesquisas e experiências do campo da genética vêm demonstrando um quadro de avanços e conhecimentos extraordinários, penetrando do imo do processo de procriação.
                              Nesse novo quadro, as especificações e atribuições dadas ao perispírito parecem não mais corresponder às expectativas teóricas.
                              Nosso propósito é discutir uma proposta sobre o papel do perispirito na gestação, da forma mais equilibrada e autêntica possível.
                              Trata-se, contudo, de uma discussão teórica, uma hipótese de trabalho, que embora alicerçada no momento da ciência sobre as funções da transmissão da herança genética, é ainda uma tentativa de compreender a inserção do elemento espiritual no processos naturais, uma vez que não é possível apresentar provas inconcussas e experimentais da nossa proposta.
                              Vamos apresentar idéias do que se sabe ou se presume serem aceitáveis sobre o Espírito, o corpo mental e o perispírito, com enfoque sobre a existencia deste último no processo gestatório.

O Perispírito

                              Allan Kardec ao afirmar a existência do perispírito, identico ao corpo fisico, definiu-o como o envoltório do Espírito.
                              Como não é possível imaginar o Espírito sem o corpo, seja encarnado ou desencarnado, é lógico supor que o perispírito é permanente. Ou seja, no nosso nível humano, o ser espiritual identifica-se, no espaço extrafísico, com um corpo idêntico ao que possuía enquanto encarnado, sucessivamente.
                              Isso, porém, não significa que seja sempre o mesmo perispírito. Ao contrário, sabemos que em cada encarnação há a desintegração e a reconstrução desse corpo energético, decorrente do processo de germinação e constituição do organismo físico.
                              Dada a impossibilidade, então presumida, da relação direta do Espírito e o corpo físico (Espírito e matéria) atribuiu-se ao perispírito o papel intermediário entre os dois e, ao mesmo tempo, como lugar da memória, inclusive estampada na morfologia corporal, devido à extrema plasticidade do corpo energético.
                              Pensou-se atribuir ao perispírito, além de modelo funcional do organismo fisico, mas também fonte e diretriz de sua morfologia e mesmo de seu funcionamento biológico.
                             Essa idéia tem sido repetida, sob variadas formas desde Delanne até hoje, inclusive André Luiz.

Contestações

                              Estudiosos mais liberais e ligados ao pensamento científico vigente têm procurado contestar as tradicionais informações sobre o papel do perispírito.
                              Os engenheiros Marcelo Coimbra Régis, em trabalho apresentado no IV Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, em 1995, e Reinaldo di Lucia, no VI Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, apresentaram interessantes estudos sobre o perispírito.
                               Damos a seguir as principais idéias de Marcelo Coimbra Régis sobre o perispírito remetendo o leitor para a íntegra de seu trabalho publicado no Caderno e aqui no blog do ICKS.
                              "Corpo do Espírito, de estrutura material, composição e estado diferenciado do atualmente registrável e/ou conhecido. Ligação energética entre Espírito (pensante) e corpo (atuante). Ele seria a cópia do corpo humano, mudando a forma de planeta a planeta e de aparência a cada encarnação.
                               Matéria em estado desconhecido, porém sujeita a ação inteligente do Espírito e com capacidade de alterar seu estado natural de forma a tornar-se registrável aos nossos instrumentos (vide fenômenos físicos, ectoplasmia, raps etc).
                              No seu estado natural, responde a ação intencional do elemento inteligente (Espírito) que tal como imã aglutina e mantém sua estabilidade. Analogicamente, o Espírito seria como um foco de atração, tendo ao seu redor a aglutinação da matéria perispirítica, formando o complexo Espírito/perispírito e emanar radiações energéticas, conforme os estados emocionais o Espirito. Portanto o perispirit como o corpo, só existe ligado/aglutinado ao Espírito, não possuindo existência independente.
                               O perispírito tem atuação muito sutil na economia corporal, pois o corpo humano é autônomo em suas funções básicas. Como transmissor das sensações e vontade do Espírito, o perispírito atua principalmente através  do Sistema Nervoso Central, cabendo ao cérebro transformar esses impulsos energéticos em comandos reconhecíveis pelo resto do organismo. Sendo um corpo energético, ele também influencia o rosto do corpo, qual um campo de forças interagindo com as células e tecidos, porém sem comandar diretamente seus movimentos e ações."
                              Transcreveremos, agora, sinteticamente, as posições de Reinaldo di Lucia.
                              "A matéria que compõe o perispírito é perfeitamente integrada com a matéria densa, podendo assim interagir com partes dela. Da mesma forma, por ser muito mais sutil, é perfeitamente suscetível de ação direta pelo Espírito, que pode mudá-la segundo sua vontade.
                               O Espirito age como se fosse uma carga. Tal como uma carga elétrica cria em torno de si um campo eletromagnético, o Espírito cria em torno de si um campo, que, `a falta de nome melhor, poderia ser chamado de campo espiritual.
                              O perispírito nao seria, então, um corpo, um organismo propriamente falando, mas um aglomerado energético-material em constante interação com o Espírito.
                              Encarnado sob este novo modelo, o perispírito passa a ter propriedades e funções mais adequadas aos conceitos atualmente aceitos pela ciência, sem descaracterizar as funções principais que lhe foram atribuídas por Kardec.
                              Age como individualizador dos Espíritos desencarnados, dando-lhes uma forma que lhes permite, especialmente em estágios menos avançados do processo evolutivo, seguir aprendendo e atuando. Pode ser modificado segundo a vontade do Espírito.
                              Durante a encarnação, age permitindo que o Espírito, consiga uma união perfeita com a matéria mais densa que compõe o corpo físico. Poder-se-ia dizer que, de certa forma, é o intermediário entre o corpo fisico e o Espirito. A diferença é ser um intermediário estruturado como um continuum da própria matéria corporal, sob a forma energética, e não algo completamente diferente dela.
                              Não possui a função de transmissor de sensações do corpo para o Espírito ou de ordens no sentido inverso. Da mesma forma, nao tem nenhuma atuação sobre a memória ou inteligência. Não possui órgãos nem nenhuma constituição semelhante, que são exclusivas do corpo físico.
                              Modifica-se de acordo com as necessidades e capacidades do Espírito, mas não obrigatoriamente em mundos distintos (há de se verificar as questões da isotropia material do Universo)."

     Repensando as funções do perispírito

                              Analisando essas contribuições que se contrapõe ao entendimento tradicional sobre o papel e a formação do perispírito, que nas obras de André luiz ganha uma feição de organismo com órgãos e funções, em muitos casos semelhantes à do organismo fisico, faremos a reflexão que nos sugere ser compatível com este momento.
                              No nosso entendimento, realmente, o perispírito nao parece ter funções específicas na encarnação e restringe-se no espaço extrafísico ao papel de "capa energética" identificadora do Espírito desencarnado, com a dupla função de permitir a relação com os demais e servir de auto-identificação, uma vez que é na encarnação que o ser espiritual de nosso nível evolutivo encontra a própria imagem.
                              Assim, parece-nos perfeitamente aceitável que o perispírito, não sendo um organismo, não possua órgãos, o que elimina a suposição de que a mente, ou seja, a capacidade intelecto-afetiva do Espírito esteja nele sediada.
                              Isso é pouco provável uma vez que sendo o perispírito uma criação temporária, sucessivamente reconstruída pelo Espírito, nao teria condições de perpetuar a memória, que embora seja uma propriedade intrínseca do Espírito, é instrumentada de forma externa a ele.

continua: https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8190435979242028935#editor/target=post;postID=2835778514109270255;onPublishedMenu=template;onClosedMenu=template;postNum=109;src=postname

Uma reflexão sobre este texto foi publicada no Jornal Abertura de novembro de 2019.

Baixe aqui:


quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Bem-vindo, 2017 - por Reinaldo di Lucia

Bem-vindo, 2017

E lá se vai 2016. Ano crítico, com muitos problemas, crises e desilusões. Nestes últimos doze meses, vimos um Brasil com suas feridas mais graves expostas: problemas éticos, políticos e sociais – portanto humanos – aparecendo por todos os lados.

Um ano em que a crise econômica acabou com o emprego, e temos uma situação caótica que, infelizmente, vai perdurar por um bom tempo. Muitos brasileiros viram o ano passar sem que conseguissem renda suficiente par sustentar suas famílias. Um enorme contingente de trabalhadores voltou para a informalidade, e é impressionante o aumento da quantidade de moradores de rua. Em termos de bem-estar social, o retrocesso foi patente.

Foi também um ano de intenso debate político. Mas o que deveria, por si só, ter sido positivo (afinal, só se cresce com a discussão ampla de ideias), acabou tornando-se simplesmente fonte de ataques pessoais. Vimos, mesmo entre espíritas, amigos que jogaram fora um relacionamento de anos pela defesa intransigente e apaixonada de pontos de vista extremados, muitas vezes sem o menor senso crítico.

E terminamos 2016 com mais uma tragédia, criminosa, que acaba com a vida de dezenas de jovens apenas começando suas carreiras. Mais uma vez, a ganância e a irresponsabilidade ditando norma, sobrepondo-se à preocupação com a vida.

Um outro lado também se fez presente, porém. Na última semana tivemos a oportunidade de participar de mais um almoço promovido pela ARS – Ação de Recuperação Social, entidade que atende famílias carentes da periferia de Santos. Apesar de observarmos a presença de poucos conhecidos, pudemos ver que as pessoas que lá estavam tiveram momentos de muita alegria, ao divertirem-se com coisas simples, como as brincadeiras quando do sorteio de prendas simbólicas. Cantavam, batiam palmas, brincavam com os demais – enfim, confraternizavam-se de um modo caloroso, sem afetação, criando um ambiente de fraternidade contagiante.

Pensamos que é com este espírito que devemos entrar em 2017. Proporcionar mais espaços em que seja possível este espírito, abrindo a possibilidade financeira e geográfica de as pessoas participarem, abraçarem-se, afagarem-se, tornando mais leve um ano que, se não promete grande melhoras em ternos econômicos, está aí, em branco, pronto para que escrevamos sua história da maneira que quisermos.

Em 2017 teremos também, novamente, um espaço maravilhoso para estudo e confraternização dos espíritas: mais uma edição do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, em Santos, evento que consideramos dos melhores e mais democráticos do movimento. Três dias em que poderemos conversar sobre espiritismo e sentir o carinho do abraço de companheiros que, muitas vezes, levados por essa roda-viva do cotidiano, não vemos há tempos.

Quem sabe não podemos fazer deste o primeiro encontro dos espíritas livre-pensadores 100% transmitido via internet (Skype)? Isto poderia fazer que muitos colegas, impossibilitados de comparecer presencialmente, estivessem ainda assim junto conosco, ampliando essa comunidade de amigos. Que tal, organização?


É, talvez 2017 ainda fique na história de cada um como um grande ano. Só depende de nós.

NR: Texto publicado no ABERTURA de dezembro de 2016

sábado, 21 de janeiro de 2017

Sobre os riscos do desequilíbrio sócio-econômico - por Alexandre Machado

Sobre os riscos do desequilíbrio sócio- econômico


Vivemos num momento de grandes riscos, fundamentalismo religioso, choque entre a riqueza da Europa e América do Norte versus subdesenvolvimento ao sul do Equador.

As cenas reais de milhares de refugiados tentando, primeiro chegar na Europa e depois aos países europeus mais ricos, não parecem esmaecer, ao contrário, não parecem ainda demonstrar ter um fim.

O Espiritismo nos ensina que como Espíritos temos igual potencial para nos desenvolvermos, que as desigualdades se explicam por um lado pelo egoísmo, mas também decorre dos acúmulos de experiências de nossa bagagem rencarnatória. Fatores externos como cultura, religião e avanço social claro tem sua importância.

Estamos abourdando uma das diversas ameaças planetárias; as reações das diversas populações querendo mudanças, algumas buscando o isolamento, como no caso da Grã-Bretanha ou a ameaça Trump, nos Estados Unidos. Trump e sua política segregassionista que assumiu o comando do país mais rico do mundo e também com o maior potencial bélico.

Apesar das cenas ao vivo de barbaridades, se comparado ao que ocorria no mundo apenas há 100 anos atraz, em plena 1ª Guerra Mundial, morrem muito menos pessoas, só que hoje podemos assistir quase ao vivo, na televisão, no celular ou no tablet.

O Espiritismo nos ajuda a pensar que o bem tem mais força que o mal, e que superaremos os grandes desiquilíbrios, passarão ainda muitos anos, mas a força das boas ideias prevalecerá.


NR: Artigo publicado no Jornal ABERTURA em Novembro de 2016, adaptado para a data da publicação no Blog.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

É Hora da Autonomia Individual


" Quando uma ideologia fica bem velhinha , vem morar no Brasil "  ( Millôr Fernandes )


A professora Mara Chiari, quando esteve no ICKS, nos colocou em contato com um pensador polonês de nome Sygmunt Bauman e sua obra Modernidade Líquida. Desencarnou neste janeiro de 2017 esse grande pensador.  Ele aponta com muita propriedade que "Devido à sua preocupação com a eficácia, a administração da vida, a modernidade deixou recuar cada vez mais a consciência moral".

 A corrosão das crenças, instituições e valores já causou muitos danos, diz ele. Localizar o "objetivamente satisfatório" é muito difícil pois exige o crescimento da emancipação individual e as pessoas gostam de padrões e rotinas.

Uma coisa é certa, o fracasso do socialismo, nas palavras do crítico de literatura, Alfredo Monte (Jornal A Tribuna), não ajudou muito a aspirar um "objetivamente satisfatório" que seja alternativa válida para a sociedade de consumo, onde o capitalismo se apresenta com toda sua força avassaladora. Lembremos que o capitalismo tem pouco apreço, praticamente nenhum, na verdade, na base da pirâmide social.

O melhor caminho é deixar florescer cada vez mais as iniciativas individuais. Com o tempo as pessoas saberão definir melhor suas identidades. Vai doer, pois a ausencia de normas nos angustia na luta do dia a dia.

 Aí sim o Espiritismo é de uma utilidade ímpar, como demonstra Paulo Henrique de Figueiredo na sua obra "Revolução Espírita - A Teoria esquecida de Allan Kardec" (Livro indicado por Jon Aizpurua - vide Jornal Opinião), ao dizer que a doutrina dos Espíritos "defende e fundamenta  uma revolucionária moralidade descoberta na era moderna, a autonomia moral ou o autogoverno". Segundo o autor, o espiritismo nega todas as crenças enraizadas do velho mundo quanto às doutrinas que preconizam uma última revolução sangrenta (própria do marxismo) para uma sociedade igualitária.

                              Enfim, chega de teorias e pensamentos coletivos. Assim como cansa ouvir de pastores evangélicos expressões tais como, "Deus unirá o seu rebanho no dia do juízo final", cansa mais a expressão "o coletivo da sociedade decidiu que...".

Roberto Rufo


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Por Que Somos Simplesmente Humanos! por Jacira Jacinto da Silva

Por Que Somos Simplesmente Humanos!

Jacira Jacinto da Silva




“Por que são mais numerosas, na sociedade, as classes sofredoras do que as felizes?
– Nenhuma é perfeitamente feliz e o que julgais ser a felicidade muitas vezes oculta pungentes aflições. O sofrimento está por toda parte. Entretanto, para responder ao teu pensamento, direi que as classes a que chamas sofredoras são mais numerosas, por ser a Terra lugar de expiação. Quando a houver transformado em morada do bem e de Espíritos bons, o homem deixará de ser infeliz aí e ela lhe será o paraíso terrestre” (O Livro dos Espíritos, q. 931).

Uma rápida pesquisa sobre a biografia das maiores celebridades da história, de qualquer área: ciência, arte, esporte, religião, política, ou outra, revelará que o(a) investigado(a) não pode ser considerado unanimidade, não estava “acima do bem e do mal”, tinha, ou tem, seus defeitos, e não raro apresentava, ou apresenta, alguma característica um tanto estranha aos padrões usuais.

As pessoas trabalham, lutam, buscam o aperfeiçoamento pelo estudo, pela reflexão e a conscientização, mas o estágio da humanidade terrena não induz perfeição, donde se inferem naturais as atitudes muitas vezes mal sucedidas, que denominamos erros. Somos humanos, sendo natural que não acertemos sempre e não podemos esperar perfeição dos outros. Mauro Spinola  diz que cada um dá o que tem.

Todos os dias e em todos os momentos fazemos escolhas; viver é decidir se já é hora de comprar um carro, ou trocar o que temos; se devemos investir em algum negócio, se deveríamos mudar de emprego, se caberia diminuir a carga de trabalho, fazer ou não uma viagem, e até se deveríamos visitar uma pessoa, ou comer algo diferente. Evidentemente, dessas escolhas decorrem consequências, às vezes boas, às vezes razoáveis e pode ocorrer de serem péssimas; muito desastrosas.

Também é certo que todas as nossas ações têm reflexos, não só influenciando os outros, como os atingindo diretamente. E como temos reagido ao sermos atingidos pelas consequências ruins das escolhas das outras pessoas? Certamente, muito mal. Lógico, inadmissível que alguém seja tão irresponsável a ponto de não se preocupar com as consequências dos seus atos; todos deveriam cursar “MBA (Mestre em Administração de Negócios) para aprender a gerenciar riscos” e ninguém, absolutamente, ninguém, portanto nós também, tem o direito de causar mal a outrem.

Nós achamos que estamos sempre corretos, mas deveríamos meditar sobre a seguinte frase atribuída a René Descartes:Não há nada no mundo que esteja melhor repartido do que a razão: toda a gente está convencida de que a tem de sobra” e não esquecer um só dia desta outra proposição do mesmo pensador: Humanamente não existe um ser feliz sem que o outro também seja.

Muito provavelmente esteja nessa última frase a melhor de todas as explicações para o texto epigrafado, extraído de O Livro dos Espíritos. Realmente, nenhuma pessoa, de nenhuma classe social, é perfeitamente feliz, estando o sofrimento por toda parte. A desigualdade social impõe aos que vivem à margem dos bens materiais toda sorte de privação, implicando naturalmente em dores morais como o preconceito e a discriminação. As classes privilegiadas também amargam suas dores; debatem-se no antro da inveja, do ciúme, do egoísmo, da doença física e mental, do crime, dos vícios etc.
Os espíritos encarnados na terra revelam uma variação muito grande de evolução, talvez em infinitos graus, disso resultando o convívio entre pessoas que se doam a causas altruístas, como Irmã Dulce, e que destroem a paz social, como Marcola, no mesmo país, sob as mesmas leis, formados em culturas muito similares. Mas são extremos, por que a maioria dos humanos não está na posição de Irmã Dulce, tampouco na de Marcola, navegando no mesmo barco daqueles que venceram determinados vícios, mas não se desapegam de outros; que lutam contra a própria natureza diariamente, buscando vencer a ignorância, a maldade, a inveja, a gula, a hostilidade, a avareza, a vaidade exagerada, a tentação de enganar, de se prevalecer, a arrogância etc. etc. etc.

Então, por que será que mesmo estando nós nessa condição de relativa igualdade, é tão notória a nossa intolerância com a dificuldade do outro, como se superar limitações fosse tarefa exclusiva dos outros?

A pergunta tem muito a ver com a resposta à questão de Kardec, que termina assim: Quando a houver transformado em morada do bem e de Espíritos bons, o homem deixará de ser infeliz aí e ela lhe será o paraíso terrestre. Talvez no mencionado tempo a sugestão de Descartes faça sentido; por enquanto, essas dificuldades ocorrem por que somos simplesmente humanos!

Jacira Jacinto da Silva, juíza de Direito  reside em São Paulo e Presidente da CEPA

NR: Texto publicado no Jornal Abertura de Setembro de 2015



terça-feira, 17 de janeiro de 2017

E viva a Democracia - por Reinaldo di Lucia

E viva a Democracia

Na  edição de setembro do jornal Abertura, o colunista Roberto Rufo relembrou que em 2017 serão comemorados os 100 anos da revolução que deu origem ao regime comunista na Rússia, que, com o tempo, gerou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Lembrava ele também que todos os regimes comunistas que surgiram posteriormente foram fracassos redundantes (vide Cuba, Coréia, Vietnam, China).
A constatação destes fatos leva normalmente à exaltação do sistema democrático de cunho capitalista como a melhor solução político-econômica para as nações. Fala-se muito das oportunidades iguais que tal sistema proporciona aos cidadãos, da geração contínua de riqueza, da liberdade que todos gozam. E, por tabela, elogia-se a economia de livre mercado, verdadeira panaceia econômica para o mundo.
O outro lado da moeda é a situação que vemos no Brasil. Observamos uma promiscuidade generalizada entre o poder público e a iniciativa privada, com propinas a políticos de todos os matizes, formação de carteis, fraudes em licitações, “pedaladas”, e outras tantas práticas que vêm cada vez mais fazendo parte do vocabulário do brasileiro.

Agora em Athenas



Mas não nos enganemos. A crise que vivemos (que, a propósito, é menos política ou econômica que moral) não é prerrogativa do Brasil. Ocorre em todos os países, em maior ou menor grau. Difere em tamanho, na punição e no grau, mas em todos eles encontramos a mesma promiscuidade.

E aí vemos as pessoas dizendo que “o povo tem uma arma: o voto!”. Mas como usá-la se não há partido em que se possa confiar, se não existe agremiação política que não tenha por princípio o mesmo velho princípio do “é dando que se recebe”. A democracia existe na teoria: na prática...E a faceta mais perversa desta prática, que tanto mal causa ao país foi mostrada ao Brasil na última semana: para tentar garantir um mínimo de governabilidade, a presidente entregou o ministério de maior orçamento ao partido com maior número de representantes, visando, obviamente, garantir quórum nas votações do Congresso. Seria só mais do mesmo se, para tanto, ela não tivesse que demitir o melhor Ministro da Saúde que já tivemos, nosso companheiro Arthur Chioro (Ademar, para nós dqui de Santos).

Saímos deste episódio mais fracos, mais desamparados, mais desesperançados. E, pelo menos eu, cada vez mais desacreditado do sistema capitalista. Um sistema que tentam nos mostrar como justo, mas que concentra 50% (isso mesmo, metade!) de todo o dinheiro do mundo na mão de 86 pessoas. Essa desigualdade na distribuição da riqueza, historicamente, levou a grandes desgraças – esperemos que isto não ocorra novamente.


Ademar, obrigado pelo trabalho excepcional neste curtíssimo tempo. E quem sabe este exemplo possa inspirar a todos a como tratar a coisa pública. Precisamos de tempo, mas esse é um começo muito promissor.

NR: Artigo originalmente publicado no Jornal ABERTURA em novembro de 2015.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A triste geração que tudo idealiza e nada realiza

A triste geração que tudo idealiza e nada realiza

Futuro comprometido?
Demorei sete anos (desde que saí da casa dos meus pais) para ler o saquinho do arroz que diz quanto tempo ele deve ficar na panela. Comi muito arroz duro fingindo estar “al dente”, muito arroz empapado dizendo que “foi de propósito”. Na minha panela esteve por todos esses anos a prova de que somos uma geração que compartilha sem ler, defende sem conhecer, idolatra sem porquê. Sou da geração que sabe o que fazer, mas erra por preguiça de ler o manual de instruções ou simplesmente não faz. Sabemos como tornar o mundo mais justo, o planeta mais sustentável, as mulheres mais representativas, o corpo mais saudável. Fazemos cada vez menos política na vida (e mais no Facebook), lotamos a internet de selfies em academias e esquecemos de comentar que na última festa todos os nossos amigos tomaram bala para curtir mais a noite. Ao contrário do que defendemos compartilhando o post da cerveja artesanal do momento, bebemos mais e bebemos pior.

Entendemos que as BICICLETAS podem salvar o mundo da poluição e a nossa rotina do estresse. Mas vamos de carro ao trabalho porque sua, porque chove, porque sim. Vimos todos os vídeos que mostram que os fast-foods acabam com a nossa saúde – dizem até que tem minhoca na receita de uns. E mesmo assim lotamos as filas do drive-thru porque temos preguiça de ir até a esquina comprar pão. Somos a geração que tem preguiça até de tirar a margarina da geladeira.

Preferimos escrever no computador, mesmo com a letra que lembra a velha Olivetti, porque aqui é fácil de apagar. Somos uma geração que erra sem medo porque conta com a tecla apagar, com o botão excluir. Postar é tão fácil (e apagar também) que opinamos sobre tudo sem o peso de gastar papel, borracha, tinta ou credibilidade.

Somos aqueles que acham que empreender é simples, que todo mundo pode viver do que ama fazer. Acreditamos que o sucesso é fruto das ideias, não do suor. Somos craques em planejamento Canvas e medíocres em perder uma noite de sono trabalhando para realizar.

Acreditamos piamente na co-criação, no crowdfunding e no CouchSurfing. Sabemos que existe gente bem intencionada querendo nos ajudar a crescer no mundo todo, mas ignoramos os conselhos dos nossos pais, fechamos a janela do carro na cara do mendigo e nunca oferecemos o nosso sofá que compramos pela internet para os filhos dos nossos amigos pularem.

Nos dedicamos a escrever declarações de amor públicas para amigos no seu aniversário que nem lembraríamos não fosse o aviso da rede social. Não nos ligamos mais, não nos vemos mais, não nos abraçamos mais. Não conhecemos mais a casa um do outro, o colo um do outro, temos vergonha de chorar.

Somos a geração que se mostra feliz no Instagram e soma pageviews em sites sobre as frustrações e expectativas de não saber lidar com o tempo, de não ter certeza sobre nada. Somos aqueles que escondem os aplicativos de meditação numa pasta do celular porque o chefe quer mesmo é saber de produtividade.

Sou de uma geração cheia de ideais e de ideias que vai deixar para o mundo o plano perfeito de como ele deve funcionar. Mas não vai ter feito muita coisa porque estava com fome e não sabia como fazer arroz.

(Marina Melz, revista Pazes)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Medo de ETs? - por Alexandre Cardia Machado

Abrindo a Mente - Medo de Ets?

Estávamos em uma reunião no ICKS, quando nosso companheiro  Mauricy Silva trouxe uma reportagem que ele havia capturado na Internet, onde Stepen Halking declarava-se a favor da possibilidade de vidas extraterrestres e discorria sobre os riscos de um contato com civilizações mais adiantadas.



Este assunto não é novo Halking já havia se declarado a favor da possibilidade de vida em outros planetas em 2010, assim como já havia considerado os riscos envolvidos num contato desta natureza.

O assunto voltou aos noticiários, pois Halkings está apoiando uma iniciativa –chamada Breakthroug: Listen – um grande projeto de análise de dados em radiofrequência que está em andamento, nos dias de hoje. Além disto foi lançado um documentário “Stephem Hawkings’s Favorite Places” – numa tradução livre – Os locais favoritos de Stephem Hawking – trata-se de um documentário de 30 minutos, em uma de suas falas mais importantes ele diz “ Se existir vida inteligente lá, nós deveremos ouví-la” referindo-se a um exo-planeta Gliese 832 localizado a 16 anos luz da Terra e que acredita-se tenha potencial para desenvolver a vida.

Em resumo Hawking alerta para a necessidade de preparamos nossas defesas contra Ets, e seu principal argumento é que nossa história terrestre demonstra que os mais fortes colonizam os mais fracos. Portanto precisamos pensar que civilizações mais avançadas podem ser perigosas e que se captado um sinal do espaço, precisaráimos pensar muito bem, antes de responder.

Estas questões são antigas, de certo ponto antagônicas à corrente tradicional espírita de que espíritos extraterretres, mais evoluídos estariam cuidando do planeta e ajudando no seu desenvolvimento, acreditamos que ambas as possibilidades existem e que sim, deveremos, dentro do possível estar preparados. O Filme Contato com Judie Foster, já explorou um pouco esta ideia.

Não há certezas neste campo, mas sim muita pesquisa em andamento. Em meu trabalho – Pluralidade dos Mundos Habitados – Uma atualização do conceito para o Século XXI – apresentado em Córdoba em Maio deste ano no XXII Congresso Panamericano da CEPA, ressalto exatamente esta questão:

Contatos com extraterrestres via Radiofrequência Esta técnica é baseada na captação de sinais de rádio vindos do espaço, passar estes sinais pelo computador para verificar a existência de alguma repetição de frequências que possam ser consideradas de elaboração inteligente. Caso isto seja detectado, pode-se identificar o fonte desta emissão e iniciar um processo de pesquisa.

A grande incógnita se dá no caso de detectarmos este sinal, se devemos ou não responder. O risco de contactar uma civilização extraterrestre mais avançada já foi muito explorada no cinema, mas uma coisa é verdadeira, não há como saber se caso sejam contactados eles serão ou não hostís.”
Ter Stephem Halking compartilhando ideis não deixa de ser um incentivo.



NR: Texto originalmente publicado no Jornal ABERTURA de novembro de 2016.

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quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A evolução do espírito e da matéria - por Jaci Régis

A evolução do espírito e da matéria


Na revelação cristã é filosoficamente fundamental, básico, o conceito de uma queda original do homem no começo da sua história, e também o conceito de um Messias, um reparador, um redentor. Conceitos indispensáveis para explicar o problema do mal, racionalmente premente e racionalmente insolúvel. A solução integral do problema do mal viria unicamente do mistério da redenção pela cruz - necessário complemento do mistério do pecado original.

Jaci Régis



As palavras acima, retiradas de um site católico, mostram claramente a diferença entre o cristianismo e o Espiritismo.

Como a Doutrina Kardecista pode analisar esse fato?

Se considerarmos a Teoria Evolutiva do Espiritismo, que contempla a criação do ser espiritual “simples e ignorante”, compreenderemos que o planejamento da evolução do ser espiritual, possui a mesma coerência que pode ser constatada na análise do processo evolutivo geral.  Ou seja, existe uma total coerência nos processos de evolução dos elementos materiais e espirituais.

É o que nos ensina O Livro dos Espíritos, sobre a Lei Natural ou divina.  “a lei natural abrange todas as circunstâncias da vida”.

A Teoria Evolutiva do Espiritismo, torna o ser espiritual parte do mesmo processo que dinamiza e constitui o universo material. Esse dualismo conceitual parece ser inevitável no encaminhamento intrínseco entre todos os fatores da vida universal, entrosando matéria e espírito, embora cada um determinando um caráter e um perfil que conjugado possibilita a vida.

No processo de evolução do universo, encontramos a inevitável seqüência de nascer, viver, morrer e renascer, aplicada tanto ao ser espiritual quanto aos elementos materiais. Em ambos os casos, temos uma “imortalidade”, isto é, como disse Lavoisier, nada se perde, nada se cria, considerando a reciclagem dinâmica dos fatores.

Dada a natureza diferenciada do elemento espiritual, a imortalidade do espírito, contudo, conteria um elemento singular, consistente, que determina uma individualidade permanente, isto é, embora intrinsecamente ligado ao elemento material não se perde na dissolução eventual dos elementos, nem na dissipação da energia produzida por eles. Na verdade como elemento da natureza o princípio espiritual guarda a qualidade de ser, de constituir uma individualidade que deteria a essência do movimento vivo, agregador, e dissipador dos elementos.

Conforme se auto desenvolve esse elemento individual e espiritual, ganha a capacidade de pensar, criar e recriar, submetendo elementos esparsos ao vetor diretor de sua vontade.

Nesse sentido, assim como os elementos materiais são conjugados, reciclados ao sabor da inteligência motriz, natural, o Espírito também precisa de tempo e espaço para alongar-se, desenvolver-se.

No ciclo vida, morte, renascimento, o elemento espiritual possui o ritmo acelerador da reencarnação, uma vez que está mais que evidente que, nessa simbiose espírito-matéria que é a base do universo, a inteligência ou essência motriz do ser espiritual organiza organismos para manifestar-se. É o princípio da encarnação, entendida como elemento de aglutinação, ajuste e processual do desenvolvimento das potencialidades do Espírito.

Na verdade podemos afirmar que a lei natural não é moral.

Se acompanharmos a evolução do princípio espiritual, por exemplo, no nível animal, verificaremos que ai o elemento moral inexiste. Ou seja, um pedrador ao atacar sua vitima não expede um julgamento moral, uma incerteza do certo ou do errado. Ao destruir sua presa satisfazendo sua necessidade ele não sente culpa.

Essa culpa será desenvolvida no nível hominal. Na transição de elemento espiritual para Espírito, o ser agora dispõe de capacidade de analisar, comparar e decidir. Mas, sobretudo, descobre o outro. É nessa descoberta que se inicia propriamente o senso moral.

É nessa relação conflitiva e ao mesmo tempo essencial que ele desenvolve o senso moral, o certo e o errado, o bem e o mal, dentro de parâmetro que a organização social estabelece.

Ao iniciar a organização social houve a necessidade de nomear os que, por eleição divina passaram a estabelecer as regras de comportamento, o bem e o mal.de modo a permitir vida comum.

Por isso no estágio de desenvolvimento das civilizações primordiais que povoaram a Terra o princípio da causalidade, ou seja, a análise dos fatores a partir da realidade sensorial, a busca da razão e do porquê das coisas e dos eventos, teria que centrar-se não apenas num criador poderosos, mas num criador capaz de punir, reagir, zangar-se. Ou seja, um criador humanizado, como Jeová dos judeus e os deuses de todos os povos e dos gregos, porque há, não obstante, uma certa similitude entre todas as concepções sobre Deus nas civilizações que se sucederam.

Afirmamos isso porque partindo do aqui e do agora, o comportamento das pessoas teria que ser comparado a parâmetros definidos como sendo a lei de Deus e, por isso, sujeitos a julgamento, condenação, punição e absolvição.

A visão científico-materialista sobre o homem decorre da análise sensorial e das experiências genético-cerebrais, todavia inconclusivas.

Falta-lhe o sentido espiritual como o Espiritismo propõe, isto é, sem conteúdo moral.

O conteúdo moral, como vimos foi estabelecido diante dos fatos concretos do nascimento, da morte. Ele, portanto, é uma criação social, uma forma de conter ou explicar o mal.

Mas o mal, segundo o Espiritismo, não é fundamento do ser, mas conseqüência do conflito existencial, ao longo do processo.

Então, todo o quadro moral, punitivo e todo o julgamento divino que as organizações sociais controladoras do comportamento e agenciadoras do consolo perante e a morte criaram não pertence à lei natural.

Não é crível que a lei naturall ou divina estabeleça qualquer forma de punição que é um estágio temporário e localizado na vida da pessoa, nas suas relações e no convívio social.

Jaci Régis - 2006

NR: Texto publicado no Jornal ABERTURA de agosto de 2015



terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O Processo de Mudanças do Espiritismo - por Roberto Rufo

O Processo de Mudanças do Espiritismo.

" Sua excelência atingiu o cume da ignorância, e no entanto prosseguiu ". ( Millôr Fernandes ).

" Aos vinte anos de idade eu achava o meu pai um completo idiota. Hoje aos 40 vejo como o velho evoluiu nos últimos 20 anos". ( Mark Twain ).

" O progresso moral é uma consequência do progresso intelectual, todavia não o segue imediatamente " ( Resposta dos espíritos à pergunta 780 do Livro dos Espíritos ).l

 Não sei se por falta de assunto, ou se devido a um tempo muito grande dedicado à organização do XIV SBPE, ou até mesmo a indisponibilidade momentânea de palestrantes, eu como Diretor de Estudos do ICKS, num momento de saudades inexplicável, resolvi que estudaríamos  três capítulos do Livro Segundo do Livro dos Espíritos, denominado " Mundo Espírita ou dos Espíritos ". Seriam eles o VII - Retorno à vida corporal, VIII - Emancipação da alma e o IX – Intervenção dos espíritos no mundo corporal . Depois desses estudos chegamos à conclusão que uma grande parte do que está nesses capítulos já não corresponde mais  ao progresso intelectual de que fomos participantes nos últimos 26 anos, com o consequente avanço moral apreendido. 

O que deveríamos fazer então? Não estudar mais esses capítulos?.Assim decidimos. Até o momento em que alguém, com capacidade para isso, faça uma revisão modernista dos mesmos. Ou deixá-los como está, mas informando aos participantes da Doutrina Espírita que existem modernas atualizações das situações ali abordadas. Lembrei-me então do V Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita de 1997 em Cajamar/SP, onde o pensador espírita Reinaldo di Lucia apresentou o trabalho de nome " O Processo de Mudanças do Espiritismo ", nome esse que me apropriei no título deste artigo.

Reparem que falamos de 18 anos atrás, período em que a juventude ainda corria em nossas veias. O Reinaldo di Lucia certamente ainda não havia chegado aos 40 anos e no entanto já se preocupava com o necessário processo contínuo de renovação do pensar espírita. Logo na Introdução, no seu primeiro parágrafo, ele alertava que " um dos principais problemas, senão o maior, com que o Espiritismo defronta-se hoje é a recusa por parte dos componentes do movimento espírita, seja no âmbito pessoal, seja no organizacional, em encetar uma busca por novos conhecimentos que culminasse com necessárias atualizações na estrutura doutrinária, em seus aspectos científico e filosófico ". Qual consequência desse tipo de comportamento? O próprio Reinaldo nos responde: " essa recusa em aceitar um processo de mudanças para a doutrina espírita, mesmo tendo este processo sido preconizado pelo próprio Allan Kardec, faz com que, cada vez mais, o Espiritismo esteja afastando-se da posição de ciência ou filosofia moral, com a qual ele próprio se define ". 

Nos capítulos seguintes do seu brilhante trabalho de 1997, Reinaldo trata da questão religiosa, do questionamento e atualização, da verdade espírita, do controle universal dos espíritos e nos três últimos capítulos aborda a questão das mudanças. Por quê mudar ; Para que mudar? Como mudar?
Hoje relendo este trabalho, vejo que andamos muito para frente. Os alertas e estudos avançados dos intelectuais espíritas surtiram efeito num bom número de pessoas e na criação de organizações com um pensar produtivo e avançado. Falta muito. Não importa. Os seis passos ensinados pelo pensador e autor espírita Jaci Régis têm servido de alicerce e horizonte a muitas pessoas: não fechar as portas a nenhum progresso ; não sair do círculo das ideias práticas ; apoiar a descoberta de novas leis ; assimilar todas as ideias reconhecidamente justas ; seguir o movimento progressista com prudência e não imobilizar-se.

Releiam o trabalho do pensador Reinaldo de 1997, e façam um balanço dos últimos 18 anos em suas, nas nossas vidas. Verão que avançamos bastante na mudança de comportamento o que facilitou a assimilação de novos conhecimentos. Até mesmo a nossa nova vida moral mudou para melhor. Aliás nesse sentido o mundo caminhou para melhor, principalmente na superação de tantos preconceitos.
Finalizo dizendo, apropriando-me de uma conclusão do Reinaldo, que os seis passos propostos pelo Jaci são importantes, mas prestem atenção que eles se referem à postura que o espírita deve ter para permitir a existência das mudanças. O Livro dos Espíritos é um marco importante. Seu conteúdo deve atualizar-se.      

NR: Artigo publicado originalmente no Jornal ABERTURA de novembro de 2015.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O Livre-Arbítrio no Espiritismo - por Eugenio Lara

O Livre-Arbítrio no Espiritismo

Eugenio Lara

A existência do livre-arbítrio tem importância fundamental para a Filosofia Espírita porque toda sua ética, sua axiologia ou teoria de valores é baseada na ideia de liberdade, de livre-escolha. A base, o esteio da Ética Espírita é a liberdade. E liberdade, aplicada à ação do sujeito, pressupõe, segundo a Filosofia Espírita, o livre-arbítrio, sem o qual “o homem seria uma máquina”.
A Filosofia Espírita admite que há um determinismo natural, engendrado pela “força das coisas”, pelas leis naturais. Todavia, esse determinismo não anula o livre-arbítrio. O espirito é livre e responsável pelos seus atos. E mais, diz que nos atos da vida moral, jamais há fatalidade. A fatalidade somente existe no momento em que reencarnamos e desencarnamos: no nascimento e na morte:
“Não existe de fatal, na verdadeira acepção do vocábulo, senão o instante da morte. Quando ele chega, deste ou daquele modo, não podeis a ele fugir”. (O Livro dos Espíritos q. 852).
“A fatalidade não consiste senão na hora em que deveis aparecer e desaparecer daqui debaixo”. (LE q. 859).
“A fatalidade está nos acontecimentos que se apresentam, pois estes são a consequência da escolha da existência feita pelo Espírito. Pode não ser o resultado desses acontecimentos, pois pode o homem lhes modificar o curso por uma ação prudente. Jamais ela está nos atos da vida moral.” (LE - Resumo teórico do móvel das ações humanas).
Segundo a Filosofia Espírita, o livre-arbítrio se caracteriza da seguinte maneira:
1. É um atributo natural do princípio inteligente, do espírito, que molda a capacidade de pensar e de agir, sem o qual ele seria uma máquina desprovida de liberdade. Ser senhor de si mesmo é um direito que vem da Natureza. A liberdade é, portanto, um direito natural do princípio inteligente.
2. É evolutivo porque se desenvolve na medida em que o princípio inteligente progride. De início o livre-arbítrio é bastante rudimentar, instintivo, para se tornar pleno e integrado ao espírito em seu estágio hominal, quando este supera os primeiros patamares do progresso intelecto-moral.
3. É relativo porque depende das relações sociais, interpessoais, da cultura. A liberdade absoluta somente existe, teoricamente, para o eremita no deserto.
4. Depende das vicissitudes materiais para se manifestar. Quanto menos materialidade, maior a sua expressão e manifestação.
5. Tem um sentido profundamente moral, ético porque através do livre-arbítrio o ser humano toma decisões comportamentais que irão influir nos relacionamentos interpessoais, sociais. É a responsabilidade moral e social.
6. É compatível com o determinismo natural, porque não há fatalidade nos atos da vida moral. É como imaginar as correntes do mar que não impedem o nado livre dos peixes. Do mesmo modo, as correntes da vida natural e social não impedem que o espírito aja com liberdade.
A Filosofia Espírita acompanha os avanços da ciência, os fatos comprovados e admite os fatores ambientais, culturais, genéticos e psicológicos que influem nas decisões humanas. E ainda acrescenta mais alguns dados complicadores:
a.   A influência dos espíritos. Muitas vezes “são eles que nos dirigem”. Os processos obsessivos influem decisivamente no livre-arbítrio.
b.   A voz do instinto, um dado novo na obra kardequiana, porque representa todo um conjunto de vivências e experiências advindas de outras existências e que, de modo intuitivo, podem servir como orientação em decisões cruciais na vida do espírito reencarnado.
c.    O livre-arbítrio permite ao espírito configurar o gênero de vida, determinando desta forma o gênero de morte. Tal escolha está subordinada à capacidade intelecto-moral e psíquica do espírito reencarnante.
d.   A volição existe sempre, mesmo nos estágios inferiores do desenvolvimento intelecto-moral. Já o livre-arbítrio, desenvolve-se na medida em que o espírito vivencia a erraticidade, com um certo nível de consciência de si mesmo e do meio em que vive.
A partir desses pressupostos, pode-se inferir que todos os seres da natureza têm volição. O espírito puro, conforme a escala espírita, também é volitivo, todavia, por estar plenamente integrado às leis naturais, não possui livre-arbítrio, dada a inutilidade desse atributo natural, em função de seu avançado estágio evolutivo.

NR: Este artigo foi originalmente publicado na edição de dezembro de 2015 do Jornal ABERTURA.

Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico E-mail: eugenlara@hotmail.com

Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc.  www.cpdocespirita.com.br  -  contato@cdocespirita.com.br