segunda-feira, 25 de abril de 2016

A imunização cognitiva

A imunização cognitiva

Luciano Pires - 31/03/2016

O ano é 1995. Um vídeo escandaloso mostrado no Jornal Nacional apresenta o bispo Edir Macedo ensinando sua equipe como tirar o máximo de dinheiro dos fiéis. Se você não lembra, está Aqui:https://www.youtube.com/watch?v=W7wqqJFtaYc .

Quando assisti àquelas imagens, pensei: o bispo acabou… Passados 20 anos, o bispo e sua igreja nunca estiveram tão fortes, tão ricos, tão poderosos. O escândalo veiculado no Jornal Nacional não destruiu nem o bispo nem seu projeto, sua base de fiéis cresceu assustadoramente, transformando a Igreja Universal num negócio bilionário, mesmo diante da evidência dos fatos.

Coisas assim acontecem ao longo de toda história da humanidade: grupos de pessoas que, mesmo diante das mais claras evidências de perigo, de más intenções, de risco, permanecem seguindo líderes visionários, malucos ou simplesmente desonestos. Como é possível que tanta gente se recuse a ver a verdade?

Os estudiosos explicam com a imunização cognitiva.

Cognitiva vem de cognição, que é o processo de aquisição do conhecimento, incluindo o pensar, a reflexão, a imaginação, a atenção, raciocínio, memória, juízo, o discurso, a percepção visual e auditiva, a aprendizagem, a consciência, as emoções. Envolve os processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo.

A imunização cognitiva é um escudo que permite que as pessoas se agarrem a valores e credos, mesmo que fatos objetivos demonstrem que eles não correspondem à verdade. A pessoa cognitivamente imunizada está no terreno da fé, que dispensa o raciocínio lógico. Para ela, argumentos lógicos não têm relevância.

E então assistimos gente com estudo, inteligente, articulada, que sabemos que não está tirando nenhum proveito material, defendendo em público o indefensável. Como é que essas pessoas chegam a esse ponto?
Bem, existem ao menos cinco fases no processo de imunização cognitiva.

Primeira fase: isolamento de quem tem opiniões contrárias, protegendo suas ideias. A pessoa vai eliminando de seu convívio ou mesmo de sua atenção, quem pensa diferente.

Segunda fase: redução da exposição às ideias contrárias. Passa a ler e ouvir apenas as opiniões em linha com seus credos. Nos estados totalitários, é quando a liberdade de expressão passa a ser ameaçada, quando a imprensa perde a liberdade, quando vozes dissidentes são caladas. É quando os processos educacionais adotam opiniões selecionadas, com autores e textos cuidadosamente escolhidos para seguir apenas uma visão de mundo.

Terceira fase: conexão dos credos à emoções poderosas. Se você não seguir aquelas ideias, algo de ruim vai acontecer. Lembra do “se você pecar, vai para o inferno”? Se você não votar naquele candidato, sua vida, suas economias, seus benefícios estarão em perigo…

Quarta fase: associação a grupos que trabalham para combater as ideias dos grupos contrários. Isso acontece não só em política, mas até mesmo na ciência, quando métodos de investigação científica focam nas fraquezas das teorias adversárias, ignorando os pontos fortes.

Quinta fase: a repetição. Repetição, repetição, repetição. Cria-se um tema, um slogan que materializa um determinado credo ou visão, que passa a ser repetido como um mantra, numa técnica de aprendizado. O grito “não vai ter golpe”, por exemplo, não é uma criação espontânea, obra do acaso. É pensado, calculado. Sua repetição imuniza cognitivamente as pessoas contra os argumentos a favor do impeachment.

Os especialistas em psicologia das massas sabem que nossas mentes evoluíram muito mais para proteger nossos credos que para avaliar o que é verdade e o que é mentira. E os especialistas em comunicação constroem retóricas fantásticas, com intenção de desviar o tema principal e, especialmente, imunizar cognitivamente os soldados da causa.

E aí, meu caro, minha cara, não adianta mostrar o vídeo, o recibo, o cheque, o testemunho do caseiro, a ordem da transportadora, o grampo telefônico… O imunizado cognitivo está vacinado contra fatos objetivos.
Está explicado então? Se você está se sentindo entorpecido das ideias, incapaz de descer do muro, provavelmente alguém está lhe ministrando umas doses de imunizante cognitivo.

E você nem percebeu que está dando a grana para o bispo.

Muito interessante esse artigo de Luciano Pires e nos faz entender como a fé cega pode ser manipulada.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A delicada questão do equilíbrio editorial - por Alexandre Cardia Machado

Jaci Régis sempre pautou o Abertura por não esquivar-se das questões mais importantes do país e do mundo. Basta comparar qualquer edição do Abertura com a revista Reformador da FEB para vermos realidades ali representadas totalmente distintas: a FEB não escreveu nenhuma linha sobre os problemas políticos brasileiros ou sobre a primavera árabe, para citar só dois exemplos.
Este é o nosso DNA: tratar dos assuntos importantes para a sociedade, buscando, como nos ensinou Allan Kardec, usar sempre uma linguágem de alto nível, para manter alto o padrão vibratório. Fazendo isso, ajudamos uma parcela da população a pensar e refletir sobre as relações do mundo físico com os conhecimentos do Espiritismo.

Este é, inclusive, o quarto princípio norteador do Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS) que fundamentalmente edita o Abertura :

“ O ICKS deverá manter-se atualizado com a cultura atual e que possua relevância com a Doutrina Espírita.”
Nos preocupa a maneira como muitos estão protestando. Policiando uns aos outros, desrespeitando as convicções individuais, como se fosse possível que todos pensassem da mesma forma. Recomendo a leitura cuidadosa dos artigos de Ricardo Nunes e do grande pensador espírita e ex-Presidente da CEPA, Milton Medran.
Está ficando claro, para boa parte da população, que a forma de se fazer política no Brasil está errada. Muitos de nós não nos sentimos representados. O número gritante de políticos envolvidos na Operação Lava-Jato e em outas operações em curso no país é alarmante. Claro que nem todos foram formalmente acusados, nem condenados ainda. Mas creio que este fato em si demonstra nossa tese.
Faltam lideranças éticas, sobram aproveitadores. O cuidado com o nosso voto é a única arma  que nos resta, façamos com que este ato cívico seja o momento mais importante do ano, ou teremos de conviver com o resultado por, pelo menos, 4 anos.

Não existe ideologia perfeita. Todas, de alguma maneira, favorecem uns em detrimento de outros.
Kardec era favorável à aristocracia intelecto-moral como uma forma de representação ideal. Certamente esta ideia é utópica e não resistiria aos tempos de “Big Brother” em que vivemos hoje. Qualquer um, com um simples telefone celular, pode facilmente desmascarar uma pessoa até então considerada de bem.

A justiça está aí para retirar de circulação aqueles que abusam do poder neles investido. E sim, sejam eles quem forem, são pessoas como quaisquer outras, tem os mesmos direitos e deveres, ainda que possam dispor de forum privilegiado.

Não há passe de mágica, precisamos votar tomando como base a melhor informação que dispomos e depois, se não agradar a escolha, na próxima oportunidade tentar votar melhor.

Este é um exercício que se enquadra dentro do que Jaci Régis denominou , com muita perspicácia, de Imortalidade Dinâmica:

 “Na Dinâmica do processo, o que, dentro da visão sensorial sugere o caos, o acaso, na verdade caminha para a busca do equilíbrio. A questão, nessa visão sensorial, se complica pela variável do tempo, cronológico ou sensível. A culpa será desenvolvida no nível hominal. Dispondo da capacidade de analisar, comparar e decidir, ele exercerá ou sofrerá a ação recíproca do ato e da resposta. Mas, sobretudo, descobre o outro. É nessa descoberta e nessa relação conflitiva e ao mesmo tempo essencial que ele desenvolve o senso moral, o certo e o errado, o bem e o mal, que por isso mesmo é relativo ao grau evolutivo” Doutrina Kardecista – Modelo conceitual ( reescrevendo o modelo espírita). Portanto, dinâmico como conclusão.


Que este período de atrito em que vivemos termine logo e que possamos encher nossas páginas com boas notícias. Isto é o que desejamos. Até lá, continuaremos atentos.

Pensamento de Kardec