domingo, 14 de fevereiro de 2016

Educação? Bem... Por Reinaldo di Lucia

Muito se falou, recentemente, sobre a lição que os estudantes do ensino público de São Paulo deram aos governantes de plantão, ao, através de seu posicionamento ativo – incluindo protestos nas ruas e principalmente a ocupação das escolas – fazer valer sua voz contrária à reestruturação do ensino proposta (talvez melhor dizer “imposta”, dada a falta de discussão e comunicação com os envolvidos) pelo Governo paulista.

Esta falta de transparência foi tamanha que, até agora, mesmo interessado, não consegui tomar ciência completa do projeto. De modo geral, gosto de mudanças e acho que modernizações são necessárias em todas as áreas. Mas o que me preocupa de fato nesta proposta é o fechamento de salas e a diminuição de escolas.

Não falo somente de forma teórica. Atuando há mais de 6 anos como professor universitário, venho percebendo a gradual, porém inflexível deterioração da qualidade do aluno que entra na faculdade. Com a facilidade cada vez maior desse acesso, através de programas como o FIES e o PROUNI, um contingente cada vez maior de estudantes vindos do ensino público estão entrando em universidades particulares. Infelizmente, boa parte destes estudantes, mesmo muito esforçados, não têm base suficiente para acompanhar adequadamente as exigências do estudo superior.

Apresentam-se então dois caminhos: ou as universidades diminuem suas exigências, e os profissionais formados não são aqueles que o mercado necessita, aprofundando ainda mais o problema da falta de qualificação da força de trabalho brasileira, com uma desculpa a mais para o achatamento salarial, ou a manutenção destas exigências faz com que, após uma quantidade sensível de dependências e repetências, os alunos abandonem os cursos e resignem-se com subempregos mal pagos, num círculo vicioso perverso.

Reinaldo Di Lucia


É urgente um trabalho imediato para a melhoria do ensino fundamental, para na sequência atuarmos no ensino médio e só então mexer ainda mais no ensino superior. Então, se há, como se alega, salas sobrando, que se coloquem menos alunos – certamente isso melhorará a qualidade do ensino. Dizem que 2 milhões de crianças deixaram o ensino público, seja pela diminuição da natalidade, seja pela migração para as escolas particulares. Ora, porque razão se dá essa migração se não pela própria má qualidade da nossa escola pública?

Até agora, o exemplo de sucesso de alguns países passa notadamente pela melhoria do ensino público. Claro que isso não é uma panaceia: não existe nada que seja uma solução única par tantos problemas que assolam a governabilidade das nações. Mas sem essa base, seguramente, nada se conseguirá. Principalmente porque não criaremos cidadãos pensadores e capazes de criar o futuro como desejam.


E realmente estão de parabéns os estudantes paulistas. Minimamente mostram àqueles que nos governam que, nos dias de hoje, as decisões precisam ser discutidas à exaustão com a sociedade – e não somente tomadas nos obscuros do poder, levados sabe-se lá por quais interesses.

Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Dezembro de 2015 - seja assinante!

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