sexta-feira, 31 de maio de 2013

POR UM ESPIRITISMO PLANETÁRIO E ATUAL - Ricardo Nunes

“Na visão de Kardec, o Espiritismo não pode, de nenhum modo, estagnar-se; se o fizesse, não seria uma ciência, e nem mesmo uma filosofia, uma vez que tanto uma quanto outra só se efetivam com a contínua inquietação do pensamento. É preciso que haja um constante anseio pela busca de novos conhecimentos, os quais nos ajudarão a entender melhor o Universo que nos cerca, e, nos posicionarmos melhor frente a ele; ou seja, aprimorar a cosmovisão espírita” Reinaldo Di Lucia.


“A adjetivação do Espiritismo como cristão, na opinião da CEPA, é incorreta e desnecessária. A população mundial não é somente a do Ocidente. Na Ásia e na África, há um bilhão de muçulmanos, quase dois bilhões entre budistas, bramanistas, shintoístas, etc. Um Espiritismo chamado cristão é automaticamente destinado ao mundo ocidental, não é um Espiritismo planetário, internacional.” Jon Aizpúrua.

Toda filosofia nasce buscando resolver os problemas de sua época. Brota do contexto cultural a que pertence, visando resolver questões que se apresentam em seu período histórico. Um sistema filosófico não nasce do vazio, do vácuo, pelo contrário, ele sofre influência do “espírito do tempo”. Na verdade, uma boa corrente filosófica é aquela que busca resolver questões do seu momento presente, mas que consegue extrapolar sua época e oferecer ao futuro reflexões ainda válidas.

O Espiritismo nasceu pelas mãos de Allan Kardec dentro do seguinte contexto cultural. Por um lado, os adeptos de uma ciência positivista e agnóstica, que rejeitavam veementemente as chamadas questões metafísicas. Por outro lado, as igrejas cristãs, particularmente o catolicismo, que se via perdendo influência e poder.

Esta influência positivista fica bem evidenciada quando Kardec afirma, além do caráter filosófico, o caráter científico do Espiritismo. Neste sentido, Kardec valoriza, como base da nova ciência que estava propondo, os chamados fenômenos mediúnicos.

Já a influência da igreja fica patente por ocasião da publicação de O Evangelho segundo o Espiritismo, em resposta àqueles que acusavam o Espiritismo de ser antirreligioso. Não podemos esquecer que, para os cristãos da época, as manifestações espíritas eram obra do demônio.

Ao longo do tempo o positivismo comteano sofreu críticas acerbas, principalmente por suas pretensões absolutistas, que faziam da ciência o supremo conhecimento de caráter infalível. No século XX, alguns filósofos da ciência nos ensinaram que as verdades da ciência são provisórias e devem ser falseáveis. Quanto à igreja, sua órbita de influência ficou restringida ao campo da fé, preservando o dogma e a revelação divina que, segundo suas concepções teológicas, extrapolam e superam a razão natural.

O contexto cultural em que foi elaborado o Espiritismo se transformou. Estamos no século XXI, não mais em meados do século XIX.

Ante esta transformação devemos responder às seguintes perguntas, se desejamos que o Espiritismo prossiga como uma proposta ainda interessante para a humanidade: O materialismo contemporâneo se apresenta de que forma, com quais armas filosóficas? Que princípios científicos e filosóficos desta cultura pós-moderna em que vivemos, podemos utilizar em uma fundamentação atualizadora do Espiritismo?

No que diz respeito à questão ética, ante a globalização econômica e cultural vigente, cabe indagarmos: não seria o caso de pensarmos o Espiritismo como uma proposta que supere seu perfil originalmente cristão, com vistas a enaltecer e valorizar todas as culturas, religiosas ou não, que tenham chegado à compreensão da necessidade do bem e do respeito à alteridade?

A partir das respostas a estas questões poderemos construir um Espiritismo que esteja atualizado, sintonizado, e que possa, inclusive, abrir perspectivas, aos problemas filosóficos, científicos, sociológicos, antropológicos, estéticos e espirituais de nosso tempo. Já no campo das concepções éticas, com esta práxis atualizadora, certamente auxiliaremos a proposição de um “Espiritismo planetário”, e não apenas cristão, na bela expressão de Jon Aizpúrua.

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