sábado, 2 de junho de 2012

O que nos pertence? Jaci Régis

Jaci Régis – originalmente publicado no jornal ABERTURA de Dezembro de 2009
Ouvia a propaganda: o que faz você feliz, faz feliz também outra pessoa?
O anúncio denuncia o que se sabe teoricamente. Que não há felicidade possível isolada e egoisticamente. Embora a maioria persiga ardentemente esse objetivo de felicidade para si e o resto que se dane.
Mas a reciprocidade está na base da existência humana. O cenário que nos cerca nos faz personagens dos fatos, das relações.
Todavia, como manter a própria serenidade? Como evitar absorver o desequilíbrio que nos cerca? Uma expressão me chamou a atenção.
– Isso não me pertence! Dizia a mulher.
Era uma senhora de talvez uns 60 anos, falando no celular. Interessei-me e, curioso, perguntei-lhe de que se tratava.
Ela não se fez de rogada.
Sorriu e disse: – Era uma questão de priorizar e cuidar apenas daquilo que nos pertence.
Diante do meu silêncio prosseguiu.
– Veja só. Acabei de receber um telefonema de minha filha. Ela queria que eu interviesse numa discussão entre ela e o marido. Ora, isso não me pertence.
Como assim, arrisquei?
– Ela é adulta, casada, dona de seu destino, continuou. Não há porque eu me intrometer nas suas desavenças e nos momentos em que precisa decidir.
E, sintomaticamente afirmou “o que não me pertence, não me angustia”.
Depois pensei sobre o episódio. O que me pertence?
Pertence-me o caminho que dou à minha vida.
Pertence-me o dia de hoje.
Pertence-me o trabalho que quero realizar.
E o que não me pertence?
Não me pertence dirigir a vida dos outros.
Não me pertence tornar-me juiz de disputa que não tenho nada a ver.
Não levarei essa atitude de defesa, pensei, a um ato de egoísmo, de indiferença?
Afinal, todos estamos entrelaçados. Nossos caminhos se cruzam, nossos interesses também.
Não somos uma ilha cercada de indiferença.
Há a questão do amor, do carinho, do auxílio, da ajuda. Entretanto, concluí, fixar-se naquilo que nos pertence não significa indiferença.
Indiferença pela dor alheia.
Indiferença pelos amigos.
Indiferença para os problemas que nos cercam.
Sou um cidadão, político. Tudo o que diz respeito à humanidade, aos problemas humanos, me interessa.
Na medida do possível não apenas me interesso por eles, mas interajo, intervindo no real.
Mas, se pratico a psicologia clínica, não sou indiferente ao problema do cliente. Ao contrário. É meu dever e meu interesse ajudá-lo a superar seus obstáculos e neuroses. Todavia, seus problemas não me pertencem.
Não vejo indiferença, mas sabedoria. Assim, creio que é sabedoria acompanhar a agitação do mundo, seus problemas, suas notícias, mas manter a visão da separação de minhas energias, meu equilíbrio diante das perturbações sociais e humanas.
Dessa forma evito entrar nessa lamentável formatação mental em que muitos entram, ao introjetar, vivenciar as dores do mundo, os desequilíbrios das pessoas, como se fossem seus mesmos.
É o que sucede, por exemplo, quando certas pessoas se fixam na visão mórbida da vida e se sentem morrer a cada notícia da morte de alguém, de desastres, calamidades.
A dor do próximo compartilho. Mas não a introjeto, nem deixo dominar minha mente.
Porque não me pertence.
E o que não me pertence não me angustia.
E me deixa pronto para refletir e decidir.

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